Com instrumentos de orquestra, Weezer foge do usual no tranquilo 'Ok Human'

De volta ao estúdio, Weezer soltou 'Ok Human', seu décimo quarto álbum

Weezer

Ok Human
⭐⭐⭐⭐ 4/5

Por  Luciano Cirne 

Definitivamente, aconteceu alguma coisa na cabeça do Rivers Cuomo nos últimos anos: Após o bom White Album de 2016 (e cuja resenha você pode conferir AQUI), tem sido cada vez mais difícil prever qual será o próximo passo que ele e seus inquietos comparsas irão dar. Experiências eletrônicas (Pacific Daydream e o Black Album)? Já tivemos. Gravar um disco de covers (Teal Album)? Também. Até disco de hard rock já fizeram (Van Weezer, álbum que seria perfeito para ser divulgado numa turnê em grandes estádios, mas que teve seu lançamento adiado por causa da pandemia). Então o que mais poderia vir a essa altura do campeonato? A resposta veio da paixão de Rivers por Serge Gainsburg e pelo chamber pop de artistas como Brian Wilson, um trabalho mais lapidado e com o apoio de uma orquestra de 38 músicos.


Falando dessa maneira, pode parecer que foi uma grande ruptura, mas podem ficar tranquilos, o que sai das caixas de som na maior parte do tempo ainda é o bom e velho Weezer de sempre:  Grande exemplo disso  é "All of My Favorite Songs", que inicia os trabalhos. Apesar de abrir o disco com a frase "Todas minhas canções favoritas são lentas e tristes", a melodia faz um contraponto alegre e ensolarado à letra pessimista. Esse é o mesmo espírito que permeia praticamente todo OK Human, em músicas como "Aloo Gobi", "Numbers", "Here Comes the Rain" e "La Brea Tar Pits", todas muito bonitas, singelas e que grudam no ouvido logo na primeira audição, ou seja, aquelas típicas composições que Rivers Cuomo sabe fazer como ninguém.


Porém, nem tudo são flores. Dois pontos de OK Human (Aliás, perceberam o título? Qualquer alusão ao OK Computer do Radiohead, assim como o próximo trabalho Van Weezer faz ao Van Halen será mera coincidência?) causam um certo incômodo durante a audição: Primeiro, as faixas mais lentas e tristes são tão arrastadas e desanimadas que cansam. Mesmo tendo em média entre 2:30 e 3:00, parecem ter o dobro disso, caso de "Playing My Piano", "Bird With a Broken Wing" e "Dead Roses" (essa última disparada a pior do disco). Segundo, a levada é praticamente igual em todas as músicas, todas têm o mesmo andamento! É curioso, a impressão que eu tive foi a de que passaram meses aprimorando todas as texturas e os arranjos da orquestra, mas não perderam nem cinco minutos tendo esse mesmo cuidado com a bateria! Tremendo vacilo que compromete sim o resultado final.


Ainda assim, apesar desses deslizes, o saldo é positivo. É um trabalho mais tranquilo (acho que é o disco do Weezer onde as guitarras menos aparecem) e introspectivo, tudo a ver com o triste cenário de isolamento pelo qual atravessamos e que, justamente pela sonoridade única, vai ter um lugar de destaque na extensa discografia da banda. Fãs e marinheiros de primeira viagem devem curtir, embora esses últimos provavelmente irão precisar de um tempinho para se acostumar. OK Human consegue ser bonito e ousado ao mesmo tempo e, só pela coragem de fugir do usual, já vale e muito a pena ser conhecido! Belo trabalho!

Luciano Cirne

Jornalista, ama cachorros e aceita doações de CDs, DVDs, videogames e carrinhos! Possui textos publicados na revista Rock Press, no jornal International Magazine, no Portal Rock Press, no Pop Fantasma, no Célula Pop e aqui, no site Rock On Board, desde 2014.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2