HINO MORTAL – Uma história que precisava ser registrada

Indião em ação durante o show do Hino Mortal [Foto: Rodrigo Teles]

Por  Ricardo Cachorrão Flávio 


Lá no distante ano de 1981, quando Índio saiu da cultuada banda Condutores de Cadáver, formada na Zona Norte da Capital paulista, não tardou ir até o famoso ABC, grande centro industrial e proletariado do país, onde sempre se viveu uma efervescência cultural fantástica, e iniciar banda nova, em São Bernardo do Campo, nasceu o HINO MORTAL, banda punk hardcore, uma das pioneiras do estilo no Brasil, que desde seu início procurou levar adiante sua mensagem de liberdade e anarquia, sempre calcada nas letras do Índião.


Não demorou muito e mesmo com poucos ensaios, a banda já começou ser chamada para tocar em pequenos shows e festivais, dividindo palco com gente como Lixomania, Ulster, Psykóze e Cólera.


Com o crescimento do movimento punk e a curiosidade despertada em vários nichos diferentes, a produtora independente Olhar Eletrônico, do cineasta Fernando Meirelles (diretor de Cidade de Deus, O Jardineiro Fiel e Ensaio Sobre a Cegueira, dentre outros), realizou o documentário Garotos do Subúrbio, e o Hino Mortal foi uma das bandas convidadas para o show de lançamento do filme. Pouco depois, a música “Câncer”, apareceu na famigerada reportagem que a Rede Globo fez para o programa Fantástico, deturpando tudo o que acontecia no movimento punk e queimando o filme geral.


Em 82, a banda é convidada a participar do famoso festival O Começo do Fim do Mundo, e acaba entrando no disco ao vivo que o festival gerou, com a faixa “Desequilíbrio” que é, talvez, a música mais regravada dentro do punk nacional, que tem letra do Indião e arranjo mais famoso por conta do guitarrista Douglas Viscaino, da banda Restos de Nada, infelizmente, já falecido.


O grupo parou de se apresentar por alguns anos, teve volta rápida em 1986 e voltou a hibernar, voltando a se reunir apenas em 1997, a partir de quando a banda passa a se reunir mais, mesmo que esporadicamente. E, durante todo este tempo, até agora, a banda conta com inúmeras participações em coletâneas das mais diversas, porém, faltava um disco próprio, que acaba de chegar, com o lançamento de “Sem Leis ou Líderes”, CD com 16 faixas que cobrem toda a trajetória da banda, em gravações novas, a cargo da última formação da banda que, além de Índio, que canta e assina todas as letras, hoje tem o guitarrista Danilo Moleza, o baixista Rodrigo Alvarenga e o baterista Thiago Borges.


Um dia, Índio disse que “O Movimento Punk foi uma explosão da qual só foram registrados fragmentos...”, partindo deste pensamento, este CD se torna ainda mais preciso e necessário. Aproveitando que Índio voltou a morar em São Paulo, depois de uma longa temporada morando em Canoas – RS, e facilitou o encontro com antigos companheiros de luta, a banda se reuniu em 2019 num estúdio para gravar a faixa “Rato de Esgoto”, para o disco-tributo feito para a banda FOGO CRUZADO, que foi lançado recentemente, e o entrosamento deles foi tão bom, que resolveram que era finalmente chegada a hora de um disco completo do HINO MORTAL.


O repertório não tem novidades, são 16 canções conhecidas por quem acompanha os shows da banda nos últimos 39 anos, a mesma avalanche sonora, ruidosa e certeira, que faz a cama perfeita para a voz e poesia de Índião:  “Leis e líderes nos mostram / um passado duvidoso / e um futuro imprudente... / Sem leis ou líderes”.


Hardcore puro, sem amaciar, sem nada de frescura ou melódico, ouvir e cantar junto “Desequilíbrio”, “Brasil”, “Campos Religiosos” ou “Hino Mortal” é como chutar bundas, é exorcizar antigos fantasmas, é participar de uma história que precisava e, agora foi registrada. Sem plataformas digitais, apenas a moda antiga, com disco na mão. Vida longa ao Hino Mortal.

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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