The Killers consolida transição pop com disco feito na medida para estádios e festivais


The Killers
Imploding The Mirage
⭐⭐⭐✰ 4/5
Por  Lucas Scaliza 

Não dá para negar que sempre houve uma veia pop no DNA do The Killers. Wonderful Wonderful (2017), o disco do grupo que foi um passo maior em direção ao pop, era só mais uma vez em que acompanhávamos uma mudança de uma banda que um dia esteve mais alinhada com o rock e resolveu buscar mais espaço no mercado. Imploding The Mirage, sexto álbum dos Killers, é uma consolidação muito mais bem acabada desse processo. É notável como o grupo tem um peso imenso ao longo de todas as faixas. Canções para arenas, refrãos de alta voltagem e crescendos emocionantes. É uma banda de pop que bate firme, mas agora demonstra ter DNA roqueiro. Se a questão é como fazer essa transição sem perder todos os lastros com gênero musical de origem, o The Killers está muito melhor que o Maroon 5.

Também é difícil negar o quanto a presença de Brandon Flowers cresceu ao longo do tempo. Deixou de ser apenas o competente vocalista de uma boa banda para assumir mesmo o papel de frontman, colocando sua técnica vocal a serviço de seu carisma e seu protagonismo. Assim como Adam Levine se tornou uma figura muito maior que sua banda, Flowers finca os pés e os dentes no Killers agora. Imploding The Mirage não deixa a menor dúvida de que ele é o destaque absoluto.

Dentre as participações especiais (feat.) que estão no disco, duas são propriamente anunciadas. A canadense k.d. lang em "Lightning Fields" (uma das melhores do álbum, com um início que deve muito à Kate Bush) e a californiana Weyes Blood na gigantesca "My God". Em ambos os casos, a voz de Flowers e a enorme instrumentação do grupo passa por cima das duas cantoras convidadas. Suas vozes atingem um protagonismo mínimo, ao ponto de que se fossem cantoras de estúdio contratadas (sem o feat., portanto) não faria diferença no resultado final. Como vocalista e líder de uma banda, dessa vez Brandon Flowers entrou em campo vestindo as chuteiras de Cristiano Ronaldo.

O guitarrista Dave Keuning, grande responsável pelo aspecto mais roqueiro da sonoridade do grupo, está em hiato (mas lançou disco solo em 2019). Ainda é parte da banda, mas não toca com ela desde agosto de 2017 e nem participou das gravações do novo trabalho. As guitarras ficaram a cargo do baixista Mark Stoermer e dos convidados Lindsey Buckingham (Fleetwood Mac) em "Caution", Blake Mills (que também ajudou nos baixos) e de Adam Granduciel (The War On Drugs). A ausência de Keuning abriu espaço para uma maior ausência de guitarras no primeiro plano. E assim como as vocalistas convidadas mais enfeitam do que colocam seus estilos pessoais à serviço das composições, cada convidado nas seis cordas também segue mais o plano da banda do que cavam espaço para sua singularidade, mais ou menos como fez o Foo Fighters em Concrete and Gold (2017).

São apontamentos que podem soar ambíguos. Afinal, esse protagonismo exacerbado do cantor e a veia mais pop podem ser grandes sinais de alerta em quem espera um integrante que jogue mais para o time e uma artéria que ainda pulse rock'n'roll. O caso é que Imploding The Mirage jorra energia, bom gosto, belos timbres e uma entrega enorme de Flowers para fazer cada uma das faixas funcionar por si só. Talvez não seja o futuro que você sonhou para a banda que fez Sam's Town (2006), mas como uma banda que estará no line up de festivais (quando os festivais voltarem a ser uma realidade), o novo disco está mais do que preparado para servir de combustível para as massas de velhos e novos fãs. Uma boa quantidade  de músicas feitas para soarem ao vivo maiores que a vida e, quem sabe?, tão certeiras quanto clássicos do naipe de "Mr. Brightside" e "Somebody Told Me".

Lucas Scaliza

Jornalista, músico sem banda e estrategista de marca. Não abre mão de acompanhar os sons do agora. Joga tarô e já foi host de podcast.

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