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David Byrne em show teatral no Lollapalooza Brasil [Foto: Camila Cara] |
Diante de olhos atentos, surge David Byrne. Ele ultrapassa uma cortina de correntes segurando uma réplica de um cérebro humano. A canção é "Here", que está presente em seu novo disco, American Utopia - que saiu há poucos dias. Ela é densa, arrastada, coisa que Wayne Coyne (Flaming Lips) copia e cola desde os anos noventa. Mas é só uma espécie de introdução para a apoteose que começa a se desenhar.
Aos 65 anos de idade, o veterano David Byrne introduziu para a nova geração, o seu teatro particular, que inclui dançarinos, banda coreografada, interpretação cênica, e, lógico, boa música. A música por si só, é apenas um artefato dessa colcha de retalhos, que vai ganhando costura com o decorrer da apresentação e que causa uma necessidade urgente de reavaliação do contexto artístico nos tempos atuais.
Como não poderia ser diferente, a iniciação ao Talking Heads começa com "I Zimbra", canção lançada no final dos anos 70 e que ganha uma releitura cheia de balanço e percussão. É uma espécie de banda de rua, mas da forma requintada de se dizer. É algo que mira nos novos tempos. É um Byrne visionário e pedagógico. De toda maneira, é importante ressaltar que a maior parte do repertório é baseado em sua ex-banda, o que aumenta ainda mais a genialidade do número, já que todas as músicas acabaram sendo remodeladas para este segmento mais teatral.
Para conseguir esse feito espetacular, ele é acompanhado por 11 músicos, que tocam em pé (inclusive as peças de bateria) e revezam-se entre danças e instrumentos. Canções como "Once In A Lifetime" e "Dancing Together" (tirada do musical Here Lies Love) ganham força incrível na apresentação por conta do conjunto coletivo da banda. Mas nada que se compare a "Burning Down The House", que botou todo mundo para cantar no final do show.
Mesmo diante de algo tão apoteótico, é difícil para qualquer pessoa (especialista ou não) fazer uma simples definição do que se vê. E isso comprova ainda mais a importância deste número, que deveria por si só, ser emoldurado para revisitações necessárias e discussões tão urgentes sobre o conceito de se fazer um grande show.