Lollapalooza Brasil: David Byrne apresenta espetáculo apoteótico e igualmente necessário

David Byrne em show teatral no Lollapalooza Brasil [Foto: Camila Cara]
Por Bruno Eduardo

Diante de olhos atentos, surge David Byrne. Ele ultrapassa uma cortina de correntes segurando uma réplica de um cérebro humano. A canção é "Here", que está presente em seu novo disco, American Utopia - que saiu há poucos dias. Ela é densa, arrastada, coisa que Wayne Coyne (Flaming Lips) copia e cola desde os anos noventa. Mas é só uma espécie de introdução para a apoteose que começa a se desenhar. 

Aos 65 anos de idade, o veterano David Byrne introduziu para a nova geração, o seu teatro particular, que inclui dançarinos, banda coreografada, interpretação cênica, e, lógico, boa música. A música por si só, é apenas um artefato dessa colcha de retalhos, que vai ganhando costura com o decorrer da apresentação e que causa uma necessidade urgente de reavaliação do contexto artístico nos tempos atuais.

Como não poderia ser diferente, a iniciação ao Talking Heads começa com "I Zimbra", canção lançada no final dos anos 70 e que ganha uma releitura cheia de balanço e percussão. É uma espécie de banda de rua, mas da forma requintada de se dizer. É algo que mira nos novos tempos. É um Byrne visionário e pedagógico. De toda maneira, é importante ressaltar que a maior parte do repertório é baseado em sua ex-banda, o que aumenta ainda mais a genialidade do número, já que todas as músicas acabaram sendo remodeladas para este segmento mais teatral.

Para conseguir esse feito espetacular, ele é acompanhado por 11 músicos, que tocam em pé (inclusive as peças de bateria) e revezam-se entre danças e instrumentos. Canções como "Once In A Lifetime" e "Dancing Together" (tirada do musical Here Lies Love) ganham força incrível na apresentação por conta do conjunto coletivo da banda. Mas nada que se compare a "Burning Down The House", que botou todo mundo para cantar no final do show. 

Mesmo diante de algo tão apoteótico, é difícil para qualquer pessoa (especialista ou não) fazer uma simples definição do que se vê. E isso comprova ainda mais a importância deste número, que deveria por si só, ser emoldurado para revisitações necessárias e discussões tão urgentes sobre o conceito de se fazer um grande show.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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