Discos: The Fraktal (Thymus)

Foto: Divulgação
The Fraktal volta à ativa com disco cheio de referências filosóficas
THE FRAKTAL
"Thymus"
Independente; 2016
Por Bruno Eduardo


Em 2012, fui designado a fazer a cobertura daquela, que seria até hoje a maior edição do Festival Arariboia Rock. Com isso, tive a oportunidade de assistir a um instigante show da The Fraktal, que naquela ocasião fazia uma despojada cartilha de rock com elementos eletrônicos. Confesso que fiquei bastante impressionado com a originalidade do grupo e com a capacidade artística de seu frontman, Nathan There, tanto que apontei aquele show como o melhor do festival. O que eu não poderia prever - ou imaginar - é que eles demorariam quatro anos para conseguir lançar seu primeiro full length.

'Thymus' chega com a proposta de ser um trabalho conceitual, baseado em referências da mitologia grega e termos filosóficos. Os títulos das músicas são derivados do latim e/ou falam sobre uma diversidade de temas, como amor, desilusão e auto-conhecimento. Teoricamente, é um álbum de difícil compreensão. Mas não se assuste! Dá para curtir o disco numa boa. Sonoramente, o álbum traz muito dos anos oitenta e noventa, com músicas cheias de retalhos cinematográficos e barulhinhos por todos os cantos. "Escotoma", que abre o trabalho, é uma das melhores. Começa com uma batida reta e se transforma num conjunto rock-pop-eletrônico de primeira. "Holofernes", que vem em seguida, também. Só que esta possui um refrão 'de verdade' e um vocal instigante. 

O álbum possui um encaixe perfeito entre guitarras e elementos eletrônicos, além de samples e sintetizadores muito criativos e de extremo bom gosto. É algo minuciosamente pensado, e que nasce da cabeça geniosa do vocalista - e principal compositor do grupo - Nathan There. Muito embora 'Thymus' seja um dos melhores trabalhos do ano na questão instrumental, o vocal de Nathan soa por vezes 'solto' ou sufocado demais pela imponente maçaroca (no bom sentido) sonora do grupo, e acaba sendo uma tarefa das mais árduas tentar entender o que ele está cantando. Em determinados momentos, temos a impressão de que a voz é apenas um elemento complementar obrigatório, ou que realmente poderia não estar ali, já que o instrumental por si só, já é algo genial. 

Mesmo que "Mimesis" e "Oxymoro" façam você colar o ouvido nas caixinhas de som por tamanha quantidade de elementos sonoros atraentes, o prêmio de melhor do disco fica com a eletro-sinfônica "Maleficorum". A canção começa numa pegada crescente de teclados excitantes e vocais quebrados e termina num rock visceral - muito por conta do baterista Davi Hermsdorff, que quebra tudo. O mesmo acontece em "Axioma", que une a pegada rock de um The Mars Volta com a melancolia vocal de que estamos acostumados a ouvir no cenário indie rock.

Em 'Thymus', o The Fraktal traz suas vontades e convicções devidamente refletidas em conceitos, filosofia e nas escolhas de sonoridades. A transpiração artística do grupo transborda num disco audacioso e, antes de tudo, essencial para eles mesmos.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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