Discos: The Baggios (Brutown)

The Baggios surge renovado e cheio de participações em "Brutown"
THE BAGGIOS
"Brutown"
Toca Discos; 2016
Por Bruno Eduardo

Há discos que precisamos escrever sobre. Há outros que sentimos a necessidade de gritar ao mundo sua existência - que toca o coração, alerta os ouvidos e arrepia a alma. Brutown é desses de compartilhamento obrigatório. Disco que dá vontade de mostrar aos amigos, dar de presente à namorada e ouvir bem alto com a janela aberta para acordar os vizinhos.

Considerando a discografia do The Baggios, podemos dizer que 'Brutown' é um salto ornamental na carreira dos caras. Esqueçam aqueles dois rapazes fazendo rock and roll hendrixiniano, crú e impiedoso. Aqui nasce outra banda. A expansão musical é violenta e igualmente divina. E sua encarnação aconteceu no cultuado estúdio Toca do Bandido, no Rio de Janeiro, pelas mãos de Felipe Rodarte. 

Tal crescimento sonoro é evidente e pode ser conferido logo na faixa de abertura, "Estigma" - rock estiloso e cheio de metais, que lembra Jack White e conta com a bela participação de Emmily Barreto da Far From Alaska. A ótima "Brutown", faixa que leva o nome do disco, segue o mesmo caminho de rock refinado, só que imersa no rock setentista e de teclados à la Deep Purple. Já "Desapracatado" ganha a roupagem retrô dos Autoramas, numa participação da dupla Gabriel Thomaz e Érika Martins. Essa é apenas mais uma das várias participações especiais do disco. Outra que também merece destaque é "Saruê", que traz a voz inconfundível de Jorge Du Peixe da Nação Zumbi. 

Mas o que realmente define a riqueza artística de 'Brutown' é o seu Know-how para manter uma inabalável brasilidade mesmo quando as referências são das mais variadas. Ouça "Sangue e Lama", de levada blues e letra que retrata o nosso atual cenário ganancioso e intolerante. "Bebem da lama que já foi rio", canta Júlio, com sotaque à combinar com o tema. "Padece Ser" representa a luta do povo humilde num rock de primeiríssimo nível. Mas a melhor de todas é "Alex San Drino", que resume toda a categoria do novo The Baggios em cima dos palcos - agora com um tecladista.

Candidato a disco de rock do ano, 'Brutown' é sangue, suor e lágrimas. Tem o talento musical do - agora - trio Julio / Gabriel / Rafael exposto de uma forma lapidada, com uma produção de estúdio habilidosa. Além disso, o feeling permanece gritante em todas as faixas. Como dito anteriormente, é trabalho que merece epidemia, principalmente por retratar tão bem o rock brasileiro - esse mesmo que alguns medalhões teimam em dizer que morreu nos anos oitenta. Destaque também para a lindíssima capa do disco, assinada por Neilton Carvalho. Essencial em qualquer esfera! 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

1 Comentários

  1. Gostei muito da resenha. O primeiro parágrafo resume bem o que sinto - todo mundo precisa conhecer esse disco. A banda já era sensacional anteriormente, com uma sonoridade afiada e letras criativas, mas Brutown foi um salto extremamente ambicioso e certeiro. O disco tem uma mensagem clara e isso é vale muitos pontos nesse mundo obscuro de hoje. Foi o disco de 2016...

    ResponderExcluir
Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2