Após dois anos de lançamento do bom “Between Wine and Blood”, eis que os rapazes de Bradford, Inglaterra, mostram que os 36 anos de banda não os deixaram acomodados, e chega ao mercado “Winter”, o 16º álbum de estúdio do New Model Army. Sem apelar para o jogo fácil da mesmice, sem tornar-se um cover de si próprio, como é muito comum em bandas longevas, usando, é óbvio, várias referências e influências adquiridas em toda sua existência, mas, somando a isso uma visão de futuro, é isso o que se ouve ao longo das 13 faixas de Winter.
O álbum abre com a bela “Beginning”, cuja abertura com uma guitarra suja e lenta, chega a lembrar de coisas de Neil Young. Já Justin Sullivan, 60 anos completados em abril desse ano, mantém a mesma voz grave e inconfundível, marca registrada da banda, e sua maneira de cantar remete a um mantra, que costuma hipnotizar a “the family” (os devotos fãs que acompanham fervorosamente a banda em todo o mundo, inclusive no Brasil). A longa faixa ainda encontra espaço para um bonito trabalho de piano de Dean White, e vai crescendo, com um primoroso trabalho de guitarra com viés psicodélico de Marshall Gill.
“Burn the Castle” é a sequência e remete a trabalhos anteriores, lembra a época do álbum Impurity (1990), tem peso e empolga. O disco continua com a faixa título, primeira a ser divulgada com single e clipe. “Winter” tem o início clássico que todo fã de New Model Army ama, com trabalho feito com aquele velho violão e a marcação bem feita com o baixo matador do jovem Ceri Monger - que entrou na banda pouco antes de lançarem “Between Dog and Wolf”, de 2013.
Em “Part of Waters”, novamente a mescla de violão e vocal rasgado com guitarra viajando por trás, introduzindo uma batida marcial, bem conhecida do público da banda. “Eyes Get Used to the Darkness” vem na sequência e acelera a brincadeira, guitarras bem presentes e a cozinha clássica do New Model Army funcionando muito bem. “Drifts” tem um início que também lembra a fase Impurity, mas o andamento da música vai se alternando e mostrando a nova banda, que mantém a sempre boa pegada de baixo e bateria, mas com destacado trabalho de teclados e guitarra.
“Born Feral” é coisa séria... que canção linda! Um apanhado geral do que foi e é o New Model Army, da letra declamada às mudanças de clima, passando do acústico ao peso e retornando ao acústico, marcação monstruosa de baixo e bateria, entremeados por guitarras cortantes e climas viajantes de teclado. Sullivan e seus asseclas não brincam em serviço.
Depois da viajeira, chegamos em “Die Trying”, momento acústico clássico do New Model Army, para quem conhece bem a carreira da banda, lembra “Higher Wall”. Bela balada, com letra introspectiva de Justin Sullivan. A sequência vem com “Devil”, faixa lançada no primeiro single, junto com a faixa título, e é o que mais de diferente aparece no álbum, backing vocals não usuais para a banda, riffs diferentes do que estamos acostumados, esse é o New Model Army que não para no lugar.
“Strogoula” começa viajando, até a rápida entrada da voz de Sullivan, acompanhada da marcação cerrada da bateria, num estilo um tanto tribal, que começou a se tornar normal no New Model Army a partir de quando Michael Dean assumiu as baquetas. Interessante lembrar que Dean era técnico de bateria da banda e se tornou membro por indicação de Rob Heaton, o excelente baterista anterior que estava de saída e, infelizmente, veio a falecer.
O disco se aproxima do fim, e não perde o pique, o começo de “Echo November”, lembra a pegada de “No Rest”, assim como a sequência, que vem com “Weak and Strong”. O trabalho de baixo e bateria nessas músicas é excepcional e, mesmo com Ceri Monger e Michael Dean no lugar de Stuart Morrow e Rob Heaton, tem o DNA do NMA.
Para encerrar, um hino... “After Something” é aquela canção para a “the family” cantar com isqueiros acesos em todos os shows - pois esse povo é tradicionalista, tem celular, mas assim fica mais bonito!
No geral, Justin Sullivan, Dean White, Michael Dean, Ceri Monger e Marshall Gill mostraram que o New Model Army continua em grande forma, 36 anos após seu início, e que os fãs ainda podem esperar muita água sair dessa fonte.