Discos: Bob Mould (Patch The Sky)

Foto: Divulgação
Veterano: Bob Mould lança mais um disco inspirado
BOB MOULD
"Patch The Sky"
Merge Records; 2016
Por Luciano Cirne


Costumo comparar Bob Mould com aquele jogador de futebol que é considerado pela torcida o amuleto do time. Da mesma maneira que o atleta discreto que só alguns com olhar mais clínico conseguem enxergar o verdadeiro potencial não decepciona e resolve a parada na hora que precisa mostrar a que veio, assim é Robert Arthur Mould. Músico com um talento único para compor canções que grudam no ouvido, desde quando despontou no cenário musical nos anos 1980 a bordo do cultuado Hüsker Dü faz um punk rock com tinturas folks distinto tanto pelo timbre único da voz e da guitarra como também pela honestidade. O fato é que poucos artistas demonstram tanta sinceridade, intensidade e sentimento quanto este senhor quase sexagenário. 

A questão do sentimento - citado no parágrafo anterior - é fator crucial para entendermos e assimilarmos melhor "Patch The Sky". Entenda: o álbum anterior, "Beauty And Ruin" [leia a resenha AQUI], foi influenciado negativamente pela perda do pai e, após o seu lançamento, quem veio a falecer foi sua mãe. Ou seja, Patch The Sky se torna ainda mais sombrio e reflexivo que seu antecessor. A diferença aqui, é que ao mesmo tempo em que lamenta os infortúnios vividos, ele sutilmente exalta seus companheiros de conjunto - o baterista Jon Wurster e o baixista Jason Narducy (músicos que o acompanham desde o aclamado álbum "Silver Age", de 2012) - como se agradecesse a eles por não tê-lo deixado sucumbir e como se quisesse mostrar a todos que a música que fazem é o que o impede de afundar e cair na depressão.

Assim como em Beauty And Ruin, a faixa de abertura é um pouco mais lenta e melancólica (no caso, ela é também o primeiro single "Voices In My Head") e pode causar uma impressão inicial errada, principalmente nos ainda não iniciados. Mas logo em seguida, porradas como “Lucifer And God”, a curta e crua “Hands Are Tired” e a nervosa “You Say You” desfazem quaisquer possíveis mal-entendidos, mostrando bem como apenas uma guitarra suja, nas mãos de pessoas criativas e talentosas como Bob Mould, pode valer por uma verdadeira parede sonora. Vale destacar também as belíssimas “Losing Sleep” e a faixa final “Monument”, autênticas aulas de como fazer arranjos de bom gosto.

Resumindo, "Patch The Sky" é, talvez, o álbum menos consistente de Bob Mould dessa nova fase como power trio, mas convém ressaltar que um álbum razoável dele com certeza coloca 98% da insípida cena rock atual no chinelo; muita banda meia-boca por aí daria um braço e uma perna por essas canções, e também, vamos falar a verdade: Bob Mould não precisa provar mais nada para ninguém. Passam-se os anos e este senhor, que foi o marco zero para todo o cenário alternativo americano, continua cada vez mais relevante. Ah, e respondendo a pergunta que ele faz logo aos primeiros acordes de “Voices In My Head”, sim, é perfeitamente possível achar beleza no meio do barulho, ainda mais quando o barulho é você quem compõe! Caia dentro sem medo!

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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