DISCOS: WILCO (STAR WARS)

WILCO

Star Wars

Anti/Epitaph; 2015

Por Lucas Scaliza






O curtinho Star Wars é o nono disco de estúdio do Wilco, uma das bandas indie mais devotadas ao estilo e reconhecida pela capacidade de fazer boas canções com detalhes e arranjos criativos que temperam e dão aquele ar diferenciado às suas criações. Mesmo tendo raízes e influências das décadas de 60 e 70 e às vezes puxem para o country, soam bem moderninhos. Não é diferente com o novo álbum que foi lançado de surpresa pelo Twitter da banda.

Embora não chegue a ser um Yankee Hotel Foxtrot (2002), é uma volta ao rock mais cheio de interferências, distanciando-se da vertente mais limpa e cancioneira de Sky Blue Sky (2007) e Wilco (2009) e etérea de The Whole Love (2011). Talvez esta seja a única surpresa para quem achou que a banda não voltaria a utilizar as guitarras de um jeito tão torto novamente. Porém, é mais um resgate de algo que os fãs já esperavam que o Wilco fizesse do que está no DNA deles.

A banda não decepciona. São 11 boas canções fáceis de acompanhar, mas sem medo de serem tragadas por ruídos e riffs esquisitinhos, como em “More…” e “Random Name Generator”. Apesar das guitarras distorcidinhas ricas em fuzz e dos arroubos sonoros criados por Pat Sansone e Mikael Jorgensen, que dão o ar mais roqueiro e indie ao disco, o vocal de Jeff Tweedy é aquela beleza de sempre.

Apesar de ter 33 minutos apenas, as curtas faixas de Star Wars parecem ter sido batidas em um liquidificador e podem causar algum incômodo a quem se acostumou à vertente menos idiossincrática do grupo nos últimos dez anos. Desde a abertura instrumental, passando pelas pseudo-countries “The Joke Explained” e “King Of You”, até a climática “You Satellite”, as faixas se esforçam para mostrar um instrumental mais angular, em contraste com o vocal fluido, e fazer o ouvinte se esforçar também para acompanhar a interpretação de cada música. “Taste The Ceilling” e “Where Do I Begin” descem mais redondas, com as acentuações nos lugares esperados e previstos pela levada das seis cordas. Já “Cold Slope” é a faixa que brinca com a estrutura e aproveita o poder de arranjos que o Wilco é capaz de gerar. Apesar de tentar acoplar um ou outro sonzinho aqui e ali para manter a estética meio torta do álbum, “Magnetized” fecha o trabalho com ternura.

O que acho mais salutar em Star Wars é a boa forma do Wilco em fazer músicas que espalhem ideias diferentes por seus versos e refrães, usando a guitarra diferente do que a maior parte das bandas faz, mas sem perder o caráter das canções, algo que acredito ser uma das melhores virtudes do Wilco. Contudo, não há porque supervalorizar a empreitada. A menos que seja um grande fã da banda, é difícil ver Star Wars como um candidato a melhor do ano quando claramente ele não é um dos melhores da discografia do grupo.

Mesmo assim, deixando de lado o afã competitivo, não dá para negar as qualidades de Star Wars. É um trabalho que, acima de tudo, atesta como a banda tem o compromisso de não se acomodar. “Pickled Ginger”, uma das mais diferentes da tracklist, é praticamente construída confiando no overdrive cremoso da guitarra para criar toda a cama e atmosfera que a faixa precisa.

A banda colocou o trabalho inteirinho na internet. Já está no YouTube e o download é grátis e liberado no site da banda (wilcoworld.net) até dia 13 de agosto. A partir do dia 21 a versão física chegará às lojas. Parece até um presente para quem esperou por músicas inéditas por quatro anos. Não é um disco complexo ou completamente emocional, mas cativa pela criatividade e manter a roda de ideias de uma boa banda girando mais uma vez – e olhando sempre para frente. É uma banda em busca de ser diferente de si mesma.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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