A primeira edição do Lollapalooza no Brasil (festival que já existe há duas décadas) chegou timidamente à cidade de São Paulo. Nos arredores do Jockey Club - local escolhido para essa primeira edição -, muita gente ainda não sabia o que de fato iria acontecer por ali - o que talvez seja o motivo principal pelo caos na procura por transportes públicos pós show (comprovando que a cidade não se preparou adequadamente para receber o Lolla nesse fim de semana).
Em contrapartida, o feriado não foi capaz de evitar que o festival recebesse um bom público - segundo a assessoria de imprensa, cerca de 135 mil pessoas (75 mil no sábado e 60 mil no domingo) compareceram ao Jockey para prestigiar o evento.
Tudo tranquilo para entrar, tudo tranquilo para sair. Mas para ir ao banheiro ou comprar comida... a coisa embaçava. As filas intermináveis para as necessidades ainda continuam sendo o maior problema dos megafestivais brasileiros. Quem se programou para pegar chuva no sábado, acabou sendo castigado por um sol escaldante. Já no domingo, o tempo fechou, mas água mesmo só no último show. O palco designado para as crianças (Kidzapalooza) foi praticamente desprezado - tanto por adultos quanto pelas próprias -, tornando-se um espaço desnecessário.
Andar pelo local até que era tranquilo - não se via aglomerações de pessoas dificultando a locomoção do público. Agora, tinha que ter disposição. A distância entre os dois palcos principais era surreal (um em cada ponta do Jockey Club). Quem conseguiu resistir bem às idas e vindas de cada extremidade, pode bater no peito e dizer que está forte como um cavalo!
Dia 07 de abril - Sábado
FOO FIGHTERS
Definição de "Um Grande Show de Rock": um grande show de rock é o resultado de uma mistura de elementos tão vitais para o gênero, que vão muito além da música. Um grande show de rock pode ter solos de guitarra em "feeling" - na versão longa e extraordinária de "Stacked Actors" -, instrumentos destruídos, sucessos para multidões ("Learn To Fly", "Big Me") e uma forte integração entre o público e o artista - que cantou o refrão de "Best Of You" em forma de cartazes (OH).
Não é a toa que o Foo Fighters é um dos maiores nomes do rock na atualidade. Comparando a apresentação do Lollapalozza com a última aparição da banda no país (Rock in Rio) há mais de uma década, é notório o crescimento absurdo da banda. Eles já possuem (em cima do palco) aquela postura peculiar das bandas consagradas – de que todas as ações parecem devidamente planejadas. Isso ressalta ainda mais a qualidade do grupo, que parece saber de cór e salteado a fórmula básica para se manter no topo por tanto tempo. A apresentação deles no Lolla BR constatou o seguinte: o Foo Fighters não é uma banda revolucionária (como o Nirvana por exemplo), mas eles são dotados de uma competência ímpar e sagacidade furiosa - além claro, de ter Dave Grohl (que já se tornou uma espécie de ícone roqueiro da última geração).
Fazendo questão de se conectar com os fãs desde os primeiros segundos, Dave desfila na passarela (corredor) com sua guitarra empunhada e mão direita levantada – numa pose que consagrou Elvis. Sempre carismático, o frontman brinda os fãs no acorde repetitivo de "All My Life" iniciando a longa e apoteótica apresentação. Ajudados pelo bom último disco (Wasting Light), o grupo teve facilidade para mesclar o seu repertório com muita efetividade. Porradas como "White Limo" e "Hey Johnny Park" foram bons exemplos de como tudo se encaixava perfeitamente - coube até um cover de Pink Floyd e uma citação ao Queens Of The Stone Age. Houve também um revezamento de instrumentos entre Dave e Taylor, na música "Cold Day in The Sun" - do disco In Your Honour, lançado em 2005.
Na primeira saída de palco, o grupo decidiu trocar aquela manjada e tediosa espera por um momento de interação com os fãs: o telão fornecia imagem da banda no backstage - em que Dave Grohl simulava uma discussão com o público para definir o número de canções para o bis. Acompanhados de Joan Jet (que se apresentou antes), o Foo Fighters retornou ao palco para versões das músicas "Bad Reputation" - da própria cantora - e "I Love Rock And Roll" do The Arrows. Com tantos sucessos numa mesma noite, "Everlong" foi deixada para o "gran finale". O resultado já previsto se confirmou, e o público deixou o local com a afirmação categórica de todo grande show de rock: eles juravam ter visto o melhor show de suas vidas! (até o próximo, lógico).
CAGE THE ELEPHANT
Foto: Bruno Eduardo
Infelizmente, muita gente ainda não tinha chegado para assistir a contagiante apresentação desse quinteto. Abrindo o show com excelente "In One Ear", o grupo americano (que já tem dois discos lançados) calca o seu som num indie/punk/alternativo – que numa comparação bem rasa, podemos dizer que parece um misto de Silverchair com The Vines. Já eleito pela "tietagem adolescente" como o galãzinho do festival, Matt Schultz completamente alucinado, demorou apenas cinco minutos para pular do palco e mergulhar no mar de cabeças que se espremia no gargarejo. Mesmo com os fãs cantando as músicas em alto e bom tom, o Cage The Elephant pareceu surpreender grande parte da imprensa presente - mas não ao Portal Rock Press, que já havia citado o grupo como um dos destaques a se conferir. Ponto!
BAND OF HORSES
Antecipando a programação prevista, o Band Of Horses decidiu dar uma "palinha" do seu repertório em um "show de varanda" para algumas dezenas de fãs. Quem chegou cedo (por volta de 11hs), teve o privilégio de curtir um formato acústico de seu simpático country/rock. Horas depois, devidamente plugados, o grupo confirmou a expectativa obtida anteriormente. Acompanhados por Perry Farrell, eles foram os primeiros artistas do Lollapalooza a conceder uma coletiva para imprensa.
TV ON THE RADIO
Interessante o show do TV On The Radio. Embora nada de extraordinário, eles possuem uma grande virtude: competência peculiar para reunir diversas influências e não soar cafajeste. Mesmo com a presença de Dave Navarro (guitarrista do Jane’s Addiction) na música "Repetition", o grupo agradou mas não contagiou o público - que se aglomerava à espera do Foo Fighters.
Dia 08 de abril - Domingo
GOGOL BORDELLO
Antes de tudo, é sempre bom ressaltar: Eugene Hütz é um figuraça! Transbordando uma essência artística de dar inveja, o músico ucraniano liderou o excelente Gogol Bordello em um dos melhores shows do festival. A energia transmitida pelo folclórico grupo contagiou não apenas o público, mas pessoas da produção - que dançavam enquanto a banda tocava "Immigrant Punk". O grupo, que já mantém uma boa assiduidade no nosso país, acabou fazendo uma apresentação dois dias antes no Beco, aqui mesmo em Sampa. Mesmo assim, o Gogol Bordello não sentou na sombra e foi responsável pelas primeiras rodas punk do dia. Pena que o show aconteceu muito cedo, o que fez muita gente perder a apresentação. Mas Hütz afirmou na coletiva de imprensa, minutos depois que não vê diferença em tocar as 10hs da manhã ou à meia-noite.
BLACK DRAWING CHALKS
O Black Drawing Chalks ficou bastante popular com o vídeo clipe de “My Favourite Way”, do disco Life is a Big Holiday For Us. Só que eles são bem mais do que uma animação para rodar na MTV - pelo menos foi o que mostraram aqui. O potencial da banda foi confirmado numa apresentação digna de palco principal. O grupo reuniu o maior público do palco alternativo nesses dois dias de festival – demonstrando que eles já possuem fiéis seguidores de seu stoner rock sabbathiano. Aproveitando-se da boa recepção, ainda testaram algumas músicas novas. A galera aprovou.
JANE'S ADDICTION
Foto: Bruno Eduardo
Vinte anos após o lançamento de seu melhor disco (Ritual de lo Habitual), é difícil entender o que o Jane's Addiction traz para um festival de rock nos dias de hoje. Tudo bem, os músicos são bons, a ideia do enredo é interessante, mas o resultado da fórmula - pelo menos nesse show - saiu como um puro água com açúcar. O problema é que o grupo não consegue mais emocionar e nem surpreender ninguém. Depois da fraca apresentação no SWU, dois anos atrás, a banda continua estática em sua própria caminhada. No início do show, uma versão "floydiana" que vinha dos PA's chegou a instigar os menos otimistas. Aliado à produção de palco que é bem interessante (com duas mulheres penduradas no fundo, fazendo coreografias), o "patrão" do evento, Perry Farrell e seu fiel escudeiro Dave Navarro, eram o maior sintoma de que alguma coisa não estava certa. Em "Mountain Song", por exemplo, se Farrell fazia força para conquistar a simpatia dos fãs - com gestos, sorrisos e atuação direcionada ao público -, Navarro parecia introspectivo e sem tesão. "Eu não quero ir para casa" - Afirmou Farrell, completando em seguida: "Mas preciso! Arrumei problemas aqui!". E a banda soltou o hit "Been Caugth Sealing", que animou o público - um fato raro na apresentação da banda. Para esfriar mais ainda o ambiente, a chuva caiu no momento em que o grupo arriscava-se em um acústico - causando uma debandada razoável do palco Butantã.
ARCTIC MONKEYS
Foto: Bruno Eduardo
O jornalista Bruno Eduardo, editor do Rock On Board, acompanhou o festival presencialmente.
Texto originalmente publicado no Portal Rock Press em 09/04/2012
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