Beirando quatro décadas, New Model Army presenteia fãs com álbum impecável

New Model Army lançou "From Here", seu décimo sétimo álbum de estúdio
Por  Ricardo Alfredo Flávio 

Prestes a completar 40 anos de carreira, em 2020, o NEW MODEL ARMY acaba de lançar seu 17º álbum de estúdio (contando aí duas antologias com sobras de estúdio inéditas – os excelentes B-Sides and Abandoned Tracks / 1994 e Lost Songs / 2002).

From Here, é um dos seus melhores álbuns, que coroa a bela fase da banda iniciada a partir de 2013, com a entrada do jovem baixista Ceri Monger e o lançamento do álbum Between Dog and Wolf, quando a banda passou a procurar um som mais orgânico, onde o trabalho percussivo tem grande ênfase, segundo palavras do próprio Justin Sullivan, voz, guitarra, líder da banda e único membro original presente até hoje, em descontraído bate papo após shows da banda no Brasil ano passado.

O álbum, que foi lançado mundialmente através das plataformas digitais e em edições físicas na Inglaterra e EUA em 23 de agosto, recebe agora uma edição nacional, a cargo da Shinigami Records, selo independente de São Paulo, especializado em heavy metal, que, dentre vários outros lançamentos, é responsável pela edição nacional do novo álbum do SLAYER, o duplo ao vivo The Repentless Killogy.

A gestação do álbum foi relativamente rápida, escrito em apenas dois meses e gravado em nove dias, num pequeno paraíso isolado na Noruega, o estúdio Ocean Sound Recordings, na ilha de Giske, nos trás uma perfeita sequência de Between Dog and Wolf / 2013, Between Wine and Blood / 2014 e Winter / 2016, álbuns que possuem o DNA da banda, trazem todo o lirismo e poesia de Sullivan, mas, ao mesmo tempo, mostram a busca pelo som orgânico já citado, sem perder a veia contestatória e o olho no futuro.

O disco abre com “Passing Through”, faixa que apresenta vários climas em seus seis minutos de duração, começa com destaque na voz de Sullivan acompanhada de percussão, e cresce com entrada de guitarra e teclados, tem uma parada acústica, retoma o ritmo e termina como começou, grande canção!

O disco continua com “Never Arriving”, segundo single liberado nas plataformas digitais, antes do lançamento oficial do álbum, e trás aquela marcação característica do baixo na música do New Model Army desde o início da banda e a letra narrada, cheia de referências históricas que Sullivan domina tão bem, numa viagem em que sabemos a origem e destino, mas, que nunca termina.


“The Weather” é a próxima, parceria de Justin Sullivan e Ceri Monger, que faz uma interessante e pontual relação entre nós, os humanos, nossos pensamentos, desejos e até imprevisibilidade e as mudanças climáticas. Tudo isso num som característico, que caberia em qualquer um dos três últimos álbuns.

“End of Days”, primeiro single do disco, nos trás de volta o velho New Model Army, furioso, de bateria tribal, baixo galopante, palhetadas nervosas nas cordas de aço do violão, vocal falado e rasgado ao mesmo tempo, sempre num tom crescente.

“Great Disguise” e “Conversation” são as próximas canções que mantém o mesmo nível do disco e chega “Where I Am”, que assim como a anterior é um momento solo de Sullivan e tem potencial para hit, com refrão fácil e que gruda na mente. Este foi o terceiro single do álbum e com certeza será entoado como hino pelos fãs nos shows da banda, no mundo todo, que se tratam como “The Family.

“Hard Way” é um momento mais calmo do álbum, que caberia perfeitamente no trabalho anterior da banda Night of a Thousand Voices, três shows especiais, realizados em 2018 dentro de uma capela londrina, com a banda posicionada no centro, tocando num volume mais baixo do habitual e “1000 vozes” lotando o espaço em volta e fazendo do show um verdadeiro ritual, onde o que importava mais que o som da banda, eram as letras e a poesia, foi algo lindo, que foi registrado e lançado para as festas do fim do ano passado, em edição limitada de CD duplo e DVD, vendida diretamente no site da banda.

Voltando ao novo disco, “Watch and Learn” é uma canção que já vinha sendo tocada nos shows da banda antes mesmo do lançamento do disco e é uma crítica de Sullivan ao futuro reservado às nossas crianças, usando o exemplo dos macacos, “que assistem e aprendem”, e isso me remete a turnê brasileira do New Model Army em 2010, quando eles comemoravam 30 anos de existência e no pós show toda a banda foi celebrar a noite com os fãs num bar do Centro de São Paulo, e ali Sullivan usou o exemplo dos macacos, ao mencionar durante a conversa que macacos batem com patas e pedras no tronco oco de uma árvore no alto de um morro, e se divertem com o som produzido e que ali eles produziam música, assim com ele faz, de modo simples assim.

“Maps”, “Setting Sun” e a canção título “From Here” encerram o álbum e mostram que após 40 anos, a banda continua vigorosa, com algo a dizer, com DNA intacto e olho aberto para o futuro. Fica a esperança de que Sullivan cumpra sua promessa na última turnê brasileira e se esforce para incluir o Brasil nas celebrações de 4 décadas da banda em 2020, será um prazer vê-los novamente por aqui.
Cotação: 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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