Sobre Pearl Jam, Maracanã e o melhor show da vida de 50 mil pessoas

Foto: Adriana Vieira
Pearl Jam registra mais uma noite antológica no Rio
Por Bruno Eduardo

Lá estava Eddie Vedder com sua bermuda surrada e casaco de flanela, trepado numa plataforma do palco durante a visceral "Why Go". Você pode até pensar que estamos falando de alguma cena retirada de apresentações ocorridas em 1991/1992, mas não. O ano é 2015, e trata-se apenas de uma noite histórica para cinquenta mil pessoas.

O início nostálgico com "Oceans", a óbvia "Corduroy" e mais duas músicas do álbum No Code ("Present Tense" e "Hail Hail") deixou a impressão de que este seria um show dedicado aos fãs das antigas. A coisa fica ainda mais séria quando você descobre que eles tocaram sete das onze músicas de Ten, seu lendário disco de estreia. Só que conhecendo uma banda como o Pearl Jam, sabemos que tudo pode ser mutável ao ponto de desconfiarmos realmente se eles vão seguir qualquer ordem de músicas escolhidas no camarim. É por isso mesmo que ninguém arreda o pé do estádio já com todas as luzes acesas. Até o último acorde, sempre vai existir a esperança daquele hit antigo ou daquela canção que eles nunca tocam. 

Mas como refutar canções óbvias e igualmente cortantes, como "Do The Evolution", "Mind Your Manners" e a pedrada à la Bad Religion, "Save You"? Não tem como. 

"Meu português melhorou um pouco, mas continua uma merda. Deve ser pelas coisas que ando lendo no camarim, como: Não joguem coisas no vaso sanitário" - Eddie Vedder

Uma versão aceleradíssima de "Even Flow" marcou a segunda fase da apresentação, que seguiu na massacrada - pelas rádios - "Sirens", e na sempre bem vinda, "Given To Fly" [que contou com imagens cinematográficas do Rio de Janeiro nos telões - e que imagens nos telões, hein?]. Houve também uma seqüência punk com "Comatose", "Lukin", e uma cover do grupo Eagles Of Death Metal

Foto: Adriana Vieira
Eddie Vedder se concentra no público, que parece hipnotizado
E como explicar Eddie Vedder? Podemos dizer que ele possui um magnetismo típico de ícones como Bono Vox. Um carisma implacável, só que encorpado por uma espiritualidade à Michael Stipe. Vedder é muito mais do que um vocalista cinquentão; ele já é uma efígie na história do rock. Uma figura que surfa em ondas que quebram numa areia de arte tão efêmera quanto de personagens emblemáticos como Neil Young ou Jimmy Page. Ele é simples, humano, feroz e essencial.

"Vocês conseguem ver a lua daí?", perguntou Vedder, antes de iniciar a série acústica do show com "Yellow Moon". Neste momento, o frontman reservou seu tempo aos discursos - sempre com a ajuda de rascunhos. E leu alguns cartazes de fãs que estavam na grade. Ele também dedicou a música "Just Breath" para uma fã que completava vinte e dois anos de casada e pediu celulares acesos para relembrar a tragédia em Paris ao som de "Imagine", de John Lennon - com o Estádio do Maracanã totalmente dominado por um mosaico sensacional de luzes que vinham dos aparelhos.

Daí para frente, foi uma sucessão de hinos consagrados. "Jeremy", "Why Go" e "Black", de Ten, além de outros clássicos da história rock, como "Comfortably Numb" do Pink Floyd, e a já sacada "Rockin' in The Free World", de Neil Young. Tem também espaço para músicas que não vinham dando as caras e são igualmente necessárias para um grande show de rock - como é o caso de "The Fixer". Em "Porch", talvez o momento mais emocionante do show. Eddie Vedder convidou um fã para cantar com ele. Conhecido como vocalista de uma banda cover de São Paulo, chamada Lost Dogs, Eddu ainda bebeu vinho com o ídolo e ganhou um beijo de aniversário. No fim da música, Eddie Vedder invadiu a multidão e cantou no meio do mar de cabeças que se espremia na pista.

Como não poderia faltar, "Better Man", anunciada por Vedder como a canção triste do show (com direito a guitarra destroçada no fim), e "Alive", completaram um número emocionante, que chegou ao fim no fraseado sublime de "Yellow Ledbetter". A banda ainda fez um brinde regado a cachaça brasileira para batizar a melhor turnê da banda no país.

No fim, escuto uma resenha de fãs na saída do estádio:

"Não rolou 'Daughter', pô!", diz um fã. O outro responde: "Nem 'Animal', 'Go' e "Immortality". Uma menina que estava passando, ouve a conversa e interrompe: "Vocês queriam que eles tocassem cem músicas?". "Sim", respondem às gargalhadas. Ela olha para os dois, balança a cabeça negativamente e encerra a discussão: "Fã de Pearl Jam é muito mal acostumado mesmo".


Promoção Pearl Jam - o vencedor do super kit PJ é Raphael Loureiro.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

4 Comentários

  1. meu primeiro show, sou marinheiro de primeira viagen, mas o que ficou marcado foi a simpatia do Eddie vedder, e o que eu já imaginava que a banda ao vivo era ótima, confirmei isso ontem...

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    1. Realmente. Eu não encontrei palavras certas ainda para explicar Eddie Vedder...

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  2. Foi um show histórico, sem dúvida um dos melhores de minha vida, assisto a banda pela segunda vez, o Pearl Jam é tão sensacional, que o show poderia ser duas,três, quatro vezes melhor..Isso é Pearl Jam.

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  3. TINHA QUE SURGIR UMAS 20 BANDAS DESSA NO BRASIL PRA LIMPAR ESSA PORCARIA QUE TOMOU CONTA DO PAÍS

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