Discos: AC/DC (Rock Or Bust)

Imagem: AC/DC (Rock Or Bust)
AC/DC volta mais uma vez inconfundível em seu novo disco
AC/DC
Rock Or Bust
Sony Music; 2014
Por Lucas Scaliza




É inconfundível: assim que a guitarra toca os primeiros acordes, você sabe que está diante do AC/DC. Aquele timbre de Fender; aqueles acordes simples; aquela voz rasgada há 40 anos; e principalmente, a energia que sempre caracterizou o som da banda. É Rock Or Bust, 16º disco da carreira do AC/DC e sucessor do ótimo Black Ice, de 2008.

Se “Rock or Bust” é mais arrastada, “Play Ball” flui. Uma belo dueto de guitarras, cada uma com seu riff e os refrãos característicos em coro da banda, sem falar em solos bem colocados de Angus Young - tudo condensado em menos de 3 minutos. “Dogs Of War” é uma das mais vigorosas faixas do novo trabalho, com todos os elementos que tornaram o AC/DC inconfundível. Uma faixa cheia de solos e ritmo, com coros para tornar-se um marco ao vivo.


Além dessas, faixas como “Rock The Blues Away”, “Miss Adventure”, “Get Some Rock & Roll Thunder” e a excelente “Baptism By Fire” mostram uma banda divertida. O AC/DC nunca foi sobre política ou sobre questões sociais, ainda que a falta dessas questões na discografia da banda não a torne um grupo musical alienado. Uma banda que preza por fazer rock como se fazia antigamente. Nesse ínterim, é uma ideologia parecida com a de Tom Petty & The Heartbreakers, que fazem um rock’n’roll excelente sem firulas (embora Tom Petty me pareça mais politicamente e socialmente engajado, embora esse também não seja o foco do grupo). Mas Tom Petty, que lançou o ótimo Hypnotic Eye este ano, conseguiu encaixar boas baladas em seu repertório. Já Brian Johnson, Angus Young e Cia. fizeram um disco animado e nervosinho, sem tempo para canções de amor.


Aliás, o AC/DC está bastante objetivo em seu novo álbum. Para começar, passaram poucos meses entre a notícia de que estavam se reunindo em maio para gravar um novo disco e seu lançamento, o que evidencia como as coisas caminharam rápido. Rock Or Bust tem produção despojada, nada de experimental ou de ideias diferentes. É uma banda tocando o mesmo velho rock’n’roll puxado para o blues. Suas 11 faixas juntas não chegam a 35 minutos de som, dando o título de álbum mais curto para Rock Or Bust (o disco Flick Of The Switch, de 1983, também é curto, mas tem 2 minutos a mais de som). Provavelmente, a esta altura do campeonato, é o que os fãs esperam dos australianos - mesmo aquela geração mais recente que conheceu o grupo pela série Homem de Ferro, da Marvel.


O lado triste do álbum e desta recente fase do AC/DC é saber que Malcolm Young, guitarrista e membro fundador do grupo, ficou de fora das gravações e da banda em decorrência de uma doença degenerativa que o impede de tocar, fazendo-o até mesmo esquecer como é que se toca. Triste, principalmente quando se ouve o vigor do álbum e a explosão de riffs blueseiros e carregados de overdrive. Malcolm foi substituído por Stevie Young, sobrinho dele e do irmão Angus. Stevie faz um excelente trabalho ao lado do tio. As guitarras continuam sendo o destaque na musicalidade do grupo. Elas estão por toda parte, sujando tudo com riffs, solos, fills e espalhando diversão.


Todas as músicas foram compostas por Angus, que utilizou material deixado por ele e pelo irmão em sessões de gravação anteriores. Todo o álbum foi gravado em um estúdio em Vancouver, no Canadá.


Não há surpresas em Rock Or Bust, a menos que você esperasse uma queda na qualidade com a saída de Malcolm. É o AC/DC que você cresceu ouvindo, direto e reto. É a banda que fará uma grande turnê em 2015 para celebrar seus 40 anos. Malcolm não poderá participar. E recentemente o baterista Phil Rudd se envolveu em uma confusão envolvendo posse de drogas e tentativa de homicídio que o deixou preso por uma noite (ele responde ao processo em liberdade) e ainda não se sabe se ele participará da comemoração ao redor do globo ou se será substituído. Seja como for, o AC/DC mostra 40 anos bem vividos, bem tocados e ainda queimando lenha - maconha e meta-anfetamina também.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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