Jane's Addiction: o adeus de uma das bandas mais influentes do rock

 
Poucas bandas conseguiram mudar o curso do rock alternativo de forma tão profunda quanto o Jane’s Addiction. Surgida em Los Angeles na segunda metade dos anos 1980, a banda liderada por Perry Farrell, ao lado de Dave Navarro, Eric Avery e Stephen Perkins, não apenas criou um som único, como também ajudou a redefinir o que o rock poderia ser nos anos 1990.

Antes mesmo da explosão do grunge, o Jane’s Addiction já misturava rock pesado, punk, metal, psicodelia, funk e uma sensibilidade artística quase performática, algo raro para a época. Discos como Nothing’s Shocking (1988) e Ritual de lo Habitual (1990) soam até hoje como obras fora do tempo: agressivas, sensuais, experimentais e profundamente humanas. Canções como "Jane Says", "Mountain Song" e "Been Caught Stealing" mostraram que era possível ser alternativo sem abrir mão de ambição estética e impacto cultural.
 
 
Banda anuncia seu fim

O início do fim foi público. Perry Farrell agrediu o guitarrista Dave Navarro durante um show em Boston, no ano passado, e a partir dali foi iniciado uma série de processos judiciais, e muita polêmica nos bastidores. Mas nesta quarta-feira (17), tanto Farrell quanto a banda resolveram emitir comunicados definitivos.

Após aquele show, sem avisar a Perry, decidimos unilateralmente que seria melhor não continuar a turnê e fizemos declarações imprecisas sobre a saúde mental dele, das quais nos arrependemos”, escreveu o Jane's Addiction em sua conta do Instagram. “Hoje, estamos aqui para anunciar que nos reunimos pela última vez para resolver nossas diferenças, para que o legado do Jane's Addiction permaneça como o trabalho que nós quatro criamos juntos. Agora, aguardamos ansiosamente o futuro, enquanto embarcamos em nossos projetos musicais e criativos individuais. O Jane's Addiction viverá para sempre em nossos corações. Temos orgulho da música que criamos juntos.”, postou a banda.

Já Farrell, publicou um pedido de desculpas conjunto no Instagram com o Jane's Addiction. "Gostaria de abordar o que aconteceu no palco no ano passado. Refleti sobre isso e sei que não me comportei da maneira que deveria. Peço desculpas aos nossos fãs e aos meus companheiros de banda por ter perdido a cabeça e por ter interrompido o show", escreveu o frontman.

Uma banda que influenciou muita gente

Para quem acompanhou, estudou ou sentiu o impacto do rock alternativo a partir do fim dos anos 1980, sabe muito bem o tamanho da rachadura que o Jane's Addiction provocou no cenário americano. A banda surgiu num momento em que o rock parecia dividido entre o excesso do hard rock oitentista e a rigidez do thrash metal. Com isso, a banda de Farrell surgiu como uma ponte entre o underground e o mainstream, abrindo caminho para toda uma geração que viria logo depois. 

Sem eles, é difícil imaginar o espaço conquistado por bandas como Red Hot Chili Peppers, Nirvana, Pearl Jam, Smashing Pumpkins, Nine Inch Nails, Faith No More e até nomes do metal alternativo dos anos 1990 e 2000. Ícones dessa geração como Jerry Cantrell (Alice in Chains) e Kurt Cobain (Nirvana) repetiram diversas vezes que uma das grandes influências de suas músicas era o Jane's Addiction. A proposta deles era tão original, que Dave Navarro se tornou referência máxima para guitarristas que buscavam unir peso, melodia e experimentação em sonoridades baseadas no groove e nas batidas tribais. Vale lembrar, que Navarro foi o nome escolhido pelos Chili Peppers quando Frusciante decidiu cair fora, gerando o sensacional One Hot Minute, de 1995.
 

Eles foram os primeiros a criar seu próprio festival

Muita gente não sabe, mas foi a mente visionária de Perry Farrell que criou um dos maiores festivais do mundo. A criação do Lollapalooza não só salvou o Jane’s Addiction de um fim precoce nos anos 1990, como também redefiniu o formato de festivais de música, dando palco para o rock alternativo, a música eletrônica, o hip hop e expressões culturais diversas. Ou seja, nenhuma banda foi tão alternativa em sua essência quanto o quarteto americano liderado por Farrell.

 
Uma das bandas mais subestimadas de todos os tempos 

Mesmo com grande reconhecimento no meio, o grupo sempre passou a impressão de ter seu valor muito subestimado. Poucas bandas representaram de forma tão eficaz a liberdade criativa, o risco, a estranheza e a coragem artística em um cenário cada vez mais previsível. Mesmo com poucos álbuns na carreira, o grupo nunca deixou de ser necessário. Até mesmo nos discos menos cultuados, a banda sempre fez questão de manter o rock atrevido, sensual, político e poético.

O legado, no entanto, permanece intacto. Cada banda que ousa misturar estilos, cada artista que recusa rótulos fáceis e cada fã que encontra no rock um espaço de expressão e identidade carrega um pouco do espírito do Jane’s Addiction.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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