Weezer no Brasil: uma viagem ao planeta azul em São Paulo

Foto: @sand / Divulgação 30e
 
Finalmente o Brasil, especificamente São Paulo, pôde receber o mais próximo da "Voyage to the Blue Planet" , turnê de aniversário de 30 anos do primeiro álbum do Weezer, o cultuado "Álbum Azul".
Fãs de todo o Brasil tiveram que viajar para a capital paulista para ver a banda no festival Índigo, no Parque do Ibirapuera, organizado pela 30e. O evento conglomerou atrações que estão em turnê pela América do Sul para festivais como o Primavera Fauna no Chile.

​A perna sul-americana da turnê trouxe o baterista convidado, Josh Freese, que é integrante da banda na sua formação com duas guitarras (o baterista oficial, Patrick Wilson, assume uma delas). Freese fez parte do Weezer nas turnês entre 2007 e 2012. A alegria no rosto do ex-baterista dos Foo Fighters era visível, e as famosas guitarras dobradas em estúdio do Weezer puderam ser ouvidas no palco.

​Fãs com as mãos juntas no alto formavam o "W" da inicial do Weezer com os dedos. ​Gritos, sorrisos, e começa "My Name Is Jonas", a primeira faixa do álbum festejado. Mais gritos, muita emoção. Seria o setlist em ordem e com o álbum na íntegra de início a fim? Não. Em seguida, começa "Dope Nose", com o som não tão alto para o público. Mesmo assim, a emoção continuava perceptível.

A apresentação foi totalmente diferente do que aconteceu no Rock in Rio de 2019, na última visita da banda do vocalista Rivers Cuomo no Brasil, como atração de abertura para os colossais Foo Fighters. E, claro, desta vez não era um álbum de covers (a turnê que os trouxe ao Brasil daquela vez foi a do Teal Album – o verde azulado). Sim, embora muitos álbuns do Weezer sejam reconhecidos pelas cores, alguns possuem nomes. Assim, a segunda canção da noite, "Dope Nose", é do Maladroit, o quarto álbum, lançado em 2002.

Banho de água fria para quem esperava o álbum de estreia completo e na sequência lançada? Que nada! Os sorrisos eram visíveis. Quem estava no Ibirapuera para ver o headliner do novo festival da 30e era fã e estava em sintonia com a festa que começou pontualmente às 20h30.

Antes, tocaram os ingleses Bloc Party, festejando os 20 anos do seu álbum de estreia, Silent Alarm; os escoceses Mogwai, com seu noise rock experimental; a representante mais jovem das atrações, a espanhola Judeline, com seu vocoder indie pop; e, para abrir o evento, tivemos o punk rock gritado do Otoboke Beaver, do Japão.

Uma curadoria intensa do Índigo em diversificar tanto o line-up para um evento no domingo de Finados! Uma ótima degustação de gêneros diferentes para quem só conhece os riffs pesados e distorcidos dos nerd-rockers californianos, fãs de Kiss e Van Halen. Se você nunca sacou a semelhança, ouça Weezer com atenção novamente e encontrará dezenas de semelhanças com o hard rock e metal dos anos 70 e 80 que fazia sucesso em todo o Planeta.

Álbum clássico revisitado
Foto: @sand / Divulgação 30e
 
​Quem tinha perdido a esperança de ouvir o Blue Album completo ficou encantado ao ouvir os primeiros acordes de "No One Else". A canção é a segunda na sequência do álbum de 1994 e segue "My Name is Jonas". Enquanto estávamos balançando a cabeça, dançando, pulando ou levantando os punhos, o meme da Nazaré matemática aparecia nas nossas cabeças. A pergunta era: "Vão tocar em ordem, porém costurando o setlist (uma sim, uma não), ou vai ser na ordem?"

Ser fã do Weezer tem um pouco de nerdice ou planilhas de ciências exatas ou probabilidades. Tocar um álbum inteiro na sequência nem sempre funciona bem, e existem várias maneiras de apresentá-lo.

​Com a próxima sequência de canções, cai tudo por terra, mas nem por isso os que estavam derramando lágrimas ou sorrindo emocionados deixaram isso afetar a alegria. Um show do Weezer é festa, riffs pesados, bateria com pratos e rock, rock, rock com atitude, força e paixão. Muitos, por preconceito visual ou excesso de cautela, nunca perceberam o "rockzão" pesado na produção do Weezer (e nunca leram a letra de "In The Garage"). A sequência é "Perfect Situation", "Run Raven Run" e "Hash Pipe".

Os telões mostram, para cada canção, imagens belíssimas de alta definição que fazem alusão a cada álbum. Para cada canção do Blue, luzes azuis, quase celestiais, iluminam a totalidade do palco numa verdadeira explosão de cores. Assim, há momentos verdes e rosas, vermelhos, de acordo com cada álbum. E lembram que a turnê se chamava "Planet Blue"? Existe uma conexão evidenciando a fascinação da banda com astrologia. Assim, temos planetas, anéis de Saturno e, claro, a letra "W" maiúscula do Weezer aparece nos telões, em todas as partes e em todas as ilustrações, como insígnia, símbolo, representando uma nação ou uma fraternidade de uma faculdade ou um super-herói. Sim, uma marca. WEEZER é múltiplo, quadrado na raiz de 5 à última potência em megalomania, e nós amamos tudo isso.

Então passamos pelos álbuns Make Believe (2005), Weezer (Álbum Verde, 2001) e o EP SZNZ: Autumn (2022).

Foto: @sand / Divulgação 30e
 
Quando estávamos já relaxados, curtindo um super greatest hits do Weezer, jogam na sequência outra pedrada do "Álbum Azul": "Surf Wax America" e seu refrão à "Beach Boys do Hardcore", com massacrante ataque aos pratos e socos nos ouvidos, com harmonizações vocais belíssimas. A letra, cruel ou debochada, diz: "Você pega seu carro para ir ao trabalho, eu pego a minha prancha de surfe, e quando você ficar sem combustível, eu ainda estarei no mar dropando." A vingança dos nerds existe, e foram eles que criaram um hino à rebeldia. Quem diria que viria de uma banda que não parece selvagem, nem desbocada, supostamente "uma banda de perdedores, bobinhos sem visual...".

​Rivers joga a bola para a plateia cantar, mas respondem timidamente. Essas harmonizações vocais não são fáceis e todo mundo fica engasgado tentando imitar. Não importa; a alegria está no ar! Porém, costurando ao contrário, invertem a ordem do álbum e aparece "Undone – The Sweater Song", uma das mais famosas do álbum de estreia. (Sim, já são 4 canções do Blue em menos de 40 minutos de show).

Se o problema era que Josh Freese não estava acostumado com o setlist da turnê, por ser seu primeiro show de 2025 com a banda, ou se decidiram não arriscar demais ao tocar um álbum na íntegra num festival, num país que não visitam com tanta frequência. A decisão de misturar as canções deu muito certo e gerou fluidez e curiosidade em todos, pois ninguém tinha o setlist do Ibirapuera. Ele estava acontecendo naquele instante. Talvez seja repetido no Chile, Argentina (único show solo da turnê Latina) e no México, no festival Corona Capital. Mas esse momento era nosso e estávamos amando cada minuto dele.

​Silêncio. Chegou o momento do "bilionário". O maior hit mundial do Weezer começa a tocar: "Island In The Sun", uma canção de 2001 do "Álbum Verde" que, com o passar dos anos, foi ganhando força até atingir números impressionantes de streaming e vendas, além de ser tema de campanhas comerciais e licenciamentos. ("Os últimos serão os vencedores").

Banda que virou referência cult

​Weezer virou uma banda de referência, inspiração e cultuada pelo mundo de bandas Post Grunhe, Pop Punk e Emo . Sérios e sem tanta badalação ou escândalos, a banda da Califórnia foi crescendo e mostrando que tinha força e direção. Mesmo após terem quase desistido da carreira após o álbum Pinkerton de 1996, o Weezer só voltou a lançar álbuns em 2001. A banda sempre foi uma vertente distante das modas.

"Island In The Sun" é prova disso. Nos telões, vemos chamas vermelho-alaranjadas; os animais do clipe não aparecem, mas o jogo já está ganho. Weezer ao vivo é finalmente perfeito no Brasil. Um setlist que funciona, emociona e surpreende, e ainda não chegamos ao final do show.

Novamente invertendo a ordem do álbum da noite, temos "Holiday" e "In the Garage" (bastante lembrada por muitos pela recente morte do guitarrista Ace Frehley do Kiss). Na letra da canção, Rivers canta a sensação de estar tocando heavy rock na garagem com os pôsteres na parede e menciona Ace Frehley e Peter Criss do Kiss.

Claro que tinham mais surpresas na manga; estes universitários sabem como ganhar um campeonato. São três canções da era Pinkerton na sequência, com direito ao lado B de um single.

​Assim, tivemos a possibilidade de ouvir "You Gave Your Love to Me Softly" entre "Why Bother?" e "Pink Triangle". O público as conhece e sabe aproveitar o momento. A quinta canção da noite é "Beverly Hills", em que o simpático vocalista improvisa e muda a letra várias vezes para "São Paulo, Brasil is where I want to be" em vez de Beverly Hills. Gritos, lágrimas, palminhas, emoção à flor da pele! 
O Anfiteatro do Parque do Ibirapuera continua acumulando emoções incríveis e memórias que estarão eternamente presentes nos que vivenciaram esse momento.

Final arrebatador para um show perfeito
Foto: @sand / Divulgação 30e
 
Sabemos que o show está caminhando para o fim e não queremos que acabe. "I Just Threw Out the Love of My Life" aparece timidamente  e depois "Pork and Beans"do "Weezer" (Álbum Vermelho) causa comoção. Claro que temos luz vermelha por toda parte, elementos dos clipes e da capa de disco, e pôsteres da época nos telões. O deleite ou delírio de um designer gráfico é indescritível, com todo o trabalho gráfico exposto em cada número do show do Weezer. Belíssimo complemento para uma apresentação mágica.

Temos o arremate final com mais duas do Pinkerton, "El Scorcho" e "The Good Life", e o toque de elegância e urro geral: "Say It Ain't So", com suas guitarras uivantes e riff demolidor. São 7 canções do "Álbum Azul" em um set de 20.
​A banda ovacionada, começa a ouvir um tímido "Olê, olê, olê, Weezer, Weezer!". Rapidamente sai do palco e, claro, luzes azuis, o "W" gigante. Sabemos o que está por vir e temos medo que possa não acontecer. Falta a canção símbolo do Weezer, o primeiro hit mundial. Ainda não tocou o Hino do Weezer.

Passam alguns minutos, e então começa o prato principal, que não é sobremesa nem um cafezinho: "BUDDY HOLLY". O público sabe que é o final, pula, grita e agita. Esse momento é nosso, e deles.

O Weezer completou 30 anos, sempre como o primo esquisito do Hard Rock que sabe roquear e brigar. Nota 10! Talvez a melhor apresentação do Weezer no Brasil, com um setlist mais elaborado e com mais tempo do que nas apresentações do Ginásio do Ibirapuera e do Rock in Rio, ambas em 2019.

A surpresa do setlist foi eles não terem tocado o Álbum em ordem ou somente no final do show. O Weezer no Ibirapuera foi uma festa emocionante, costurando a apresentação com a intercalação de 8 das 10 canções do "Álbum Azul" de 1994.

O Weezer ganha o jogo sem pênaltis, nem cartões ou expulsões; ganha na raça e na coragem. Golaço no Parque do Ibirapuera, numa noite mágica. Só faltou uma chuva de fogos pirotécnicos para mostrar quem é o monstro do Rock.

Loquillo Panamá

Nômade agregador de ritmos musicais e fanático por shows. Está sempre correndo atrás de novidades para multiplicar e informar os amantes de boa música.

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