Em 2011, o festival Planeta Terra esgotou em poucas horas os ingressos para a festa da madrugada no antigo Playcenter, parque de diversões, em São Paulo. A principal atração era The Strokes, mas o pacote de grandes bandas ainda tinha Interpol, Liam Gallagher em seu projeto Beady Eye, Goldfrapp e Groove Armada. No quesito novidades, além do Toro y Moi, estava a banda de um simpático vocalista com voz parecida à de Ian Curtis do Joy Division ou uma versão mais jovem do Interpol: eram o White Lies, que visitava o Brasil com seu segundo álbum, Ritual.
O White Lies foi formado em 2007, em Ealing, Londres, e apareceu como um das novas apostas do ressurgimento do Post-Punk - um "revival" no final dos anos 2000. Liderada pelo vocal barítono dramático de Harry McVeigh, com Charles Cave no baixo e letras, e Jack Lawrence-Brown na bateria, a banda rapidamente se destacou por seu som grandioso, atmosférico e melancólico - Lembrava Joy Division, e isso não era detrimento algum.
Mais de 15 anos se passaram, e o White Lies nunca chegou às massas que consomem Interpol em todo o globo até hoje. O que aconteceu? Onde morreu a promessa? A banda continuou produzindo e lançando álbuns, assim como seus contemporâneos os Editors, mas aqui no Brasil pouco mais se ouviu falar deles.
Bem, na última sexta-feira (7), o White Lies não apenas encerrou um recesso de três anos, como também iniciou um novo capítulo criativo com o lançamento de seu sétimo álbum de estúdio, Night Light.
O novo trabalho, gravado no renomado The Church Studios e produzido por Riley MacIntyre, é descrito pela própria banda como um renascimento e uma jornada para territórios sonoros inéditos, ousando misturar sua assinatura krautrock com referências progressivas e dançantes. Quase nada sobrou daquele White Lies que hipnotizava com "Bigger Than Us" em 2011.
O White Lies atual está muito mais polido e seu próprio universo, e mesmo com muitas referências, não soa como cópia de ninguém. Há momentos em que lembra o Electric Light Orchestra com a voz do Bowie e, em outros, alguns grunhidos à Springsteen. O que aconteceu nesses anos todos?
Em 2009, o mercado da música estava começando a se afastar do rock indie centrado em guitarras em direção à música eletrônica (EDM) e sons mais pop, tornando mais difícil para uma nova banda de rock sombrio dominar as paradas globais. Os anos seguiram ignorando a cena britânica, e o mundo viu a transformação do Coldplay num ícone pop de estádios com luzes e confete colorido. Assim, bandas como White Lies ficaram pelas beiradas tentando continuar vigentes.
Em 2025 com Night Light, o White Lies inova seu processo. Ao invés de descobrir o "espírito" das músicas na estrada, eles as ensaiaram e as refinaram intensamente ao vivo na sala antes de entrar no estúdio.
Muitos descrevem o álbum abraçando uma sonoridade do rock progressivo dos anos 70 (com referências a Genesis e Yes) e toques de disco, criando paisagens sonoras impulsionadas por sintetizadores - nem tanto assim, é verdade, porém a produção setentista é perceptível e também ecoa em algo muito mais açucarado e delicado. Definitivamente a produção é impecável em canções como "Keep Up", algo que fãs de Love of Lesbian ou Keane abraçariam facilmente. Curioso que o som da banda não chega a esse público.
O White Lies 2025, lembra bandas como Echo and The Bunnymen ou até Manic Street Preachers em Going Nowhere e All The Best. Mas o mainstream britânico atual quer ouvir Sam Fender, Wolf Alice, Wet Leg e Olivia Dean (talvez toque na BBC 6 e não na BBC 1 ou 2).
"Nothing On Me", o primeiro single de Night Light, é descrita por alguns meios como uma faixa "impulsiva, descontrolada" e "cheia de ideias conflitantes", simbolizando um "total desprezo por influências externas". A banda a considera a música mais rápida e intensa que já escreveram, com um motorik (ritmo repetitivo do krautrock) clássico em sua essência. Os teclados te levam para uma sequência eletrônica que remete a un trem. Passo brilhante para abrir caminhos para quem queira ouvir o novo álbum. Imagine se o Tom Petty estivesse com um Teremim no estúdio. Já "Night Light", a canção que dá título ao projeto oferece drama e paixão vocal - ao terminar dá vontade de apertar repeat.
O álbum conta com 9 faixas que totalizam 43 minutos, mostrando um White Lies confiante e artisticamente maduro. Que não olha para o passado nem para o sabor do momento. Na verdade, são músicos num laboratório canalizando todo seu amor pela música. Sonoramente, esse White Lies de 2025 é como um encontro de Peter Gabriel com Ultravox no estúdio. É como um bebê pop goth híbrido.
Ouça Night Light sem preconceitos.
Na estrada
Atualmente, a banda está em turnê para promover seu novo álbum, e com datas agendadas para o final de 2025, além de uma extensa etapa da turnê que se estende por 2026 no Reino Unido e datas europeias em Fevereiro com paradas em Paris, Milão, Zurique, Munique, Berlim, Amsterdã, Tilburg e Praga.

