The 69 Eyes revisitam 30 anos de carreira em show de alta conexão com a plateia

Foto: Carol Goldenberg / Rock On Board
Na noite de 31 de agosto, São Paulo virou palco de um daqueles momentos que só quem viveu sabe descrever. O The 69 Eyes desembarcou para uma apresentação única no Brasil e provou para todos que o Goth’n’Roll é muito mais do que apenas um estilo musical, é uma experiência que pulsa, vive e contagia multidões. Estar em um show dos Helsinki Vampires é como uma imersão cultural e estética, que lembra mais um culto do que um show tradicional.

Retorno Triunfal


Desde cedo a legião de fãs devotos, todos trajados à caráter, com roupas pretas e maquiagens pesadas, aguardava ansiosamente pelo retorno da banda. O The 69 Eyes havia se apresentado pela última vez no Brasil em 2024, no festival Summer Breeze, em um espetáculo memorável. Esta havia sido a quinta passagem do grupo finlandês no país e a rapidez entre as visitas mostrou que os fãs conquistaram um espaço permanente no coração desses vampiros.


Na noite de ontem, logo que subiram ao palco, mostraram a todos que a espera valeu a pena. A abertura do show foi explosiva: logo de cara, “Devils” e “Feel Berlin” trouxeram o peso e o brilho urbano da fase goth’n’roll que projetou os finlandeses para o mundo nos anos 2000. Sem dar tempo para respiro, os clássicos “Perfect Skin” e “Betty Blue” lembraram ao público por que a banda dominou rádios e corações naquela época.


Uma Montanha-Russa de Emoções: entre Melancolia e Hinos Eternos

Foto: Carol Goldenberg / Rock On Board
 

O que veio em seguida foi uma montanha-russa de emoções: o cover de “Gotta Rock”, do também finlandês Boycott, foi uma explosão de energia que quebrou a atmosfera sombria, devolvida em seguida por “Still Waters Run Deep”. “Drive” marcou a presença do capítulo mais recente da história do grupo e provou que o The 69 Eyes continua vivo, pulsante e atualizado sem perder a identidade. Para fechar a sequência, “Hevioso” e sua aura de peso foi recebida como um presente para os fãs brasileiros.


O meio do show foi marcado por contrastes: a melancolia dramática de “The Chair”, a energia de “Cheyenna” e o peso de “Never Say Die”. Em seguida, veio uma escalada nostálgica de hinos: “Gothic Girl”, “Wasting the Dawn”, mencionada por Jyrik 69 como o momento mais representativo da Finlândia que os fãs teriam no show, “I Love the Darkness in You” e “Brandon Lee”. Neste momento, cada acorde soava como reencontro, como quem revisita uma fase da própria vida.


Surpresas e Catarse Final 


O bis foi explosivo. De volta ao palco, Jyrik, surpreendeu a todos chamando Supla, carinhosamente apelidado pela banda de “Papito Vampire” — seu representante em terras tupiniquins -, para uma participação no cover de “I Just Want to Have Something to Do”, do Ramones. Em seguida, foi a vez da beleza sombria de “Dance d’Amour”, e a catarse coletiva de “Lost Boys”, que encerrou a noite em coro — um daqueles refrões que ficam ecoando na cabeça mesmo quando as luzes já se apagaram.


Conexão com o Público

Foto: Carol Goldenberg / Rock On Board
 

Mais do que um espetáculo musical, o show foi um diálogo constante entre a banda e o público. Era impossível ignorar a energia dos fãs e as constantes demonstrações de afeto — como a chuva de balões pretos que tomou o espaço em “Lost Boys”. E os membros da banda, cada um do seu jeito, foi um espetáculo à parte.


Jyrki 69 (vocais) é a própria personificação do "vampiro" - voz grave, presença magnética e teatral, sempre impecável. Ele mantém o público hipnotizado sem precisar de exageros: ele não precisa se mover muito para dominar a cena - basta a postura ereta, microfone firme e aquele olhar de óculos escuros que já virou marca registrada. Seu carisma é o que faz a ponte com o público. 


Se Jyrki é a escuridão elegante, Bazie (guitarra) é a faísca elétrica. Responsável por riffs marcantes e solos que sustentam a identidade do The 69 Eyes, ele se faz presente no palco, interagindo com o público e imprimindo peso e melodia com naturalidade.


Timo-Timo (guitarra) e Archzie (baixo) são os mais discretos, os “vampiros silenciosos”. Eles são o balanço com os demais integrantes: um "low-profile carismático", não chamam atenção de forma espalhafatosa, mas sua constância transmite confiança.


E não se pode deixar de mencionar Jussi 69 (baterista), o mais explosivo. Enquanto os outros mantêm uma postura gótica mais controlada, Jussi é pura energia. Jussi não só toca, mas performa cada batida, com movimentos largos e baquetas girando. Ele e a bateria parecem um só e, mesmo ao fundo do palco, é impossível não prestar atenção nele. Sua alegria e intensidade quebram a rigidez gótica e deixam o show ainda mais vibrante.


Uma noite para a Eternidade


Mais do que revisitar 30 anos de carreira, o The 69 Eyes mostrou em São Paulo a essência do seu apelido: “os vampiros de Helsinki”. Eles seguem imortais, alimentando-se da energia de cada plateia que se entrega ao ritual. E eles provaram, mais uma vez, que o slogan: “Sleep all day, party all night, never grow old, never die, it’s fun to be a Helsinki Vampire” (“durma o dia inteiro, festeje a noite toda, nunca envelheça, nunca morra, é divertido ser um vampiro de Helsinki”) nunca foi tão verdadeiro.

Carol Goldenberg

Advogada, jornalista musical e guitarrista, mas acima de tudo, amante da música desde sempre. Roadie, guitar tech e exploradora de shows e festivais pelo mundo, vivendo cada acorde como se fosse único e cada plateia como um novo universo.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
Banner-Mundo-livre-SA