Die Spitz mostra peso e vai além do punk com 1º álbum "Something to Consume"

 

 Die Spitz
Something to Consume
⭐⭐ 5/5

Por  Lucas Scaliza 

Se ainda havia alguma dúvida, Something to Consume mostra que as meninas entregam. É pouco tempo de disco, é verdade, mas isso diminui as chances de erro, de vagarem demais para longe do propósito ou de deixarem a empolgação cair. A satisfação é permanente. Dá-se play logo em seguida. E para quem só ouvir um disco não basta e quer ver tudo isso materializado, já fica a pergunta: quando será que poderemos ver tudo isso ao vivo? Porque é um álbum destilado, do tipo que tudo pode ser reproduzido no palco por quatro integrantes, com energia e visceralidade.

A princípio, parece que as texanas do Die Spitz prometiam punk. Mas a entrega vai muito além disso. É um rock'n'roll expansivo, dinâmico e vigoroso. Com apenas 34 minutos e um poderio seco, mas bem lapidado, o quarteto de jovens mulheres fazem de Something To Consume um desses primeiros álbuns de banda que devem durar na memória do público como grandes estreias.


 
Apesar de ser uma banda americana, dá para sentir que muito da formação musical dessas mulheres veio da música inglesa. Ava Schrobilgen (vocal e guitarra), Chloe Andrews (guitarra e vocal), Ellie Livingston (baixo) e Kate Halter (bateria e vocal) fizeram um nome mesmo antes do lançamento desse primeiro álbum. Os shows eram cheios de energia e fúria, resgatando a emoção de aprersentações em que performance e qualidade musical andam lado a lado.

Tem punk ("Riding With My Girls", "Red40"), assim como chegam às raias do metal noventista em "Throw Yourself to the Sword" (um ponto alto do disco), trazem elementos de shoegaze em "Sound to No One" (indo do riff em palm muted até uma deixa quase psicodélica no final - será influência de Tool?), em "Punishers" e na incrível e enevoada "a strange moon/selenophilia". E tem pós-punk ("Go Get Dressed"). A distorção da guitarra deixa qualquer fã de Smashing Pumpkins atento. Já os vocais vão do sussuro ao rascante.

O EP Teeth (2023) já deixava claro todo o potencial do grupo e aprersentava letras sempre com um tema sério para ser abordado. Mas é nesse primeiro disco que Die Spitz se consolida de vez. Já não é uma promessa, é uma realização. Fãs de L7, Amyl & The Sniffers e The Last Dinner Party (outra queridinha recente dos roqueiros antenados), Niis e até IDLES terão mais um excelente disco para curtir e uma nova banda para acompanhar.



Apesar dos temas sérios retratados nos versos, a música é divertida. Nunca divertida do tipo bobo. Há uma gravidade perceptível, uma razão para a voz mais furiosa de Ava, para as guitarras mais cortantes de Chloe e as pancadas de Kate casadas com o baixo marcado de Ellie. Mas ao mesmo tempo, você se sente entretido e dominado pela energia do quarteto.

A alma noventista das composições e da produção faz o álbum soar como algo muito mais interessante do que você esperaria de uma banda de garotas hoje em dia prontas para cair no mainstream. Mesmo que no futuro outras abordagens sejam escolhidas, Something to Consume terá sempre essa alma retrô, e ainda assim bem atual, bem Geração Z, com uma de suas marcas mais celebradas. Nervoso, pesado, bem tocado e coeso, a banda Die Spitz faz uma das melhores estreias em álbum do ano. É para ficar de olho.

 

Lucas Scaliza

Jornalista, músico sem banda e estrategista de marca. Não abre mão de acompanhar os sons do agora. Joga tarô e já foi host de podcast.

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