Linkin Park
From Zero
⭐⭐⭐⭐✩4/5
Por Bruno Eduardo
Poucas vezes o retorno de uma banda causou tanto alvoroço entre fãs de rock. A volta do Linkin Park com uma nova formação fez gente se espremer nas filas virtuais e esgotou ingressos de estádios no mundo inteiro. No Brasil, foram duas datas sold out no Allianz Park em menos de meia hora. Ou seja, algo em torno de 100 mil ingressos esvaindo em minutos. A boa notícia, é que a volta do grupo aos palcos chegou junto com um novo disco de inéditas, o que traz ainda mais tempero para esse ato.
From Zero é o primeiro álbum da banda desde One More Light, de 2017, que saiu apenas dois meses antes da morte de Chester Bennington. Reformulado em sua formação, o Linkin Park lança seu primeiro trabalho sem o saudoso cantor - algo que causou a revolta de alguns fãs mais conservadores nas redes sociais. Quem segura a responsa aqui é a vocalista Emily Armstrong. Aliás, From Zero marca também a estreia do novo baterista Collin Brittain.
Para entender e curtir este novo álbum, o fã do Linkin Park vai precisar primeiro escapar de uma armadilha, que é tentar fazer uma competição / comparação com as melhores criações da carreira do grupo, eternizadas principalmente na dobradinha Hybrid Theory / Meteora e em alguns ótimos momentos de álbuns não tão badalados, como por exemplo, o bom The Hunting Party, de 2014.
Na verdade, From Zero traz uma banda tentando se desapegar do passado para seguir em frente. E essa escolha em começar do zero, assim como sugere o título, foi a melhor coisa que eles poderiam ter feito. Afinal, não daria para uma das bandas mais bem sucedidas da história, suportar o peso de carregar em suas costas a ausência de uma figura da envergadura de Chester Bennington - um dos maiores frontman que surgiram no rock nesses últimos 25 anos - e que ficou ainda mais pesado após sua partida. E esse peso ficaria ainda maior nos ombros da estreante Emily Armstrong, que já vem sofrendo alguma rejeição nas redes sociais, principalmente por alguns motivos não musicais.
De todo modo, seria um erro crasso de Mike Shinoda e companhia, se tentassem reescrever a história do grupo com um simples "copia e cola". Muito provavelmente soariam canastrões ou correriam o risco de transformar uma banda gigante num cover de luxo. Felizmente não é isso que acontece em From Zero, que está disponível em todas as plataformas de streamings no mesmo dia que eles se apresentam no Brasil.
Com algumas exceções, como é o caso de "Heavy is The Crown", que tem todo o espectro sonoro que marca os grandes hits do grupo (com sintetizadores, vocais hip hop nos estrofes e refrão explosivo), a maioria das outras canções compõem uma nova banda, musicalmente falando, e de adereços sonoros completamente desprendidos do modelo "Linkin Park que deu certo nos anos 00". O maior exemplo disso é "Over Each Other", que não por acaso, traz a participação mais destacada de Emily Armstrong, que canta sem o apoio dos fraseados de Shinoda nesta faixa.
E para quem tinha dúvidas da capacidade da nova vocalista em trazer os drives, "Casualty" surge como um consolo fervoroso. Aqui é berraria do início ao fim, inclusive Shinoda, que canta de forma raivosa também. E já que o assunto é peso, gritara e agressividade, "IGYEIH" surge como uma das melhores desse From Zero. Mesmo que os riffs pesadissimos carreguem essa canção no colo, é a voz de Armstrong que surge como destaque de novo, justificando que sua escolha foi acertadíssima para a nova caminhada do grupo.
Para os fãs das antigas, "Two Faced" surge como uma bomba nostálgica, e traz na memória aquele véio Linkin Park - dá até para ouvir o Chester cantando junto e tudo. Ela vem com synths na introdução, guitarra pesadona, e o dueto vocal de Shinoda e Emily Armstrong. É aquela música que chega com o pé na porta e já é candidata para ganhar vaga cativa nos repertórios dos shows.
Mesmo com uma enorme lacuna em seu legado vivo, o Linkin Park acerta na decisão de voltar como uma nova banda, mas que não deixa as suas raízes renegadas. Pelo contrário. From Zero tem cápsulas de memória afetiva em vários cantos, mas que surgem apenas para aquecer o coração dos fãs mais saudosistas. No entanto, esse aqui é um disco de retomada e não de continuidade. E essa é a melhor das notícias no fim das contas.