![]() |
Foto: Adriana Vieira / Rock On Board |
Sob murmúrios e gritinhos de excitação, aguardávamos todos diante do Palco Mundo, no Rock in Rio, palco já preparado para receber a sensação pop do momento, com direito a uma estrela vermelha gigante pendurada na estrutura do palco, e uma bela escada de veludo rosa, ladeada por duas arquibancadas revestidas também do mesmo veludo, já sendo preenchidos por dezenas de convidados privilegiados, para assistirem de perto seu ídolo em ação. Um "Ai, Senhor, ele vai entrar", da menina ao meu lado, dá o tom exato da ansiedade que impera no público.
Um sofá posicionado na ponta da passarela central recebe a atenção de todos, quando duas jovens adentram o palco, se dirigem em desfile ao sofá e se sentam, simulando ligar um controle remoto. As backing vocals então entram dançando, vestidas como líderes de torcida - blusinha rosa e sainha branca - e "Rádio" é reconhecida pela plateia, que delira com Jão surgindo por trás do alto da escada, elevado por um elevador, em uma entrada digna de grandes ídolos pops. Trajando terninho preto com lantejoulas, Jão, de bigodinho fino, à frente daquele palco, combina estranhamente. Um cenário que mais parecia ter saído de um programa de auditório dos anos 80, e trejeitos que me trouxeram da infância, de uma boa forma nostálgica, Cauby Peixoto (salvo a voz - essa, nada a ver), que também na sua época arrancava gritos e choros de fãs, Jão toma do conta do palco de forma natural, é fato. "Alinhamento Milenar" contagia o público, que cantava toda a letra junto, casais à minha volta se beijavam, apaixonados, famílias sorriam, é inegável que a energia ali era boa.
Ele segura bem o controle do show, no entanto, em "O Triste É Que Eu Te Amo", a banda, excelente - que não podendo ser de outra forma no atual patamar do rapaz -, encobria um pouco a voz de Jão, quando a dinâmica se intensificava no refrão, e isso se repetiu por vários momentos ao longo da apresentação. Não que fosse uma falha técnica ou um exagero da banda, mas Jão tem aquela voz mais suave, sem grande extensão, que casa muito bem com músicas leves e ternas. E a ternura surge em "Idiota", o grande sucesso, o fatídico 'SAI DO CHÃÃÃÃO" é ordenado e obedecido, e esta que aqui vos escreve, pela experiência, recolhe os pés, por via das dúvidas.
Logo após "Lindo Demais" o momento diálogo surge, e Jão, agradecido, fala da carreira, diz que recebeu aquele palco de mãos beijadas e aponta os convidados, dizendo que eles estavam ali representando o público, afirmando ser este que o colocou lá e "A Rua" convoca o corpo de baile para a percussão, formando uma fila na boca de palco, todos tocando surdos.
Jão fala várias vezes com público, conta sobre momentos de sua vida, e os fãs entendem, os fãs sabem. "Acontece" tem Jão se acompanhando ao violão, já antecipando a emoção que viria com a bonita "Julho", quando o telão mostrava pessoas chorando, cantando a música, mostrando tatuagens (?) com o rosto do artista. Ele fala com os fãs, ele olha nos olhos, brinca, ele chama os pais, os amigos: "Pai, Mãe, cadê vocês? Sasha (Meneghel), obrigado pela roupa, foi muito elogiada", e o coro mais brega que o Brasil inventou se ergue das brumas de cá debaixo e "Jão, tesão, bonito e gostosão" atinge meus tímpanos de modo sofrido. "Eu jamais discordaria de vocês", brinca ele de volta. "Locadora" dá a deixa para que Jão empunhe uma filmadora, que tem seu foco transmitido para os telões, e em dado momento, quando ele filma o namorado Pedro Tófani, o urro que vem do público chega a assustar.
E ainda na brincadeira, ele sai do palco seguido por um câmera até um certo ponto dos bastidores, e "Why'd You Can Call Me When You're High", de Arctic Monkeys, toca nos alto-falantes, com aquele ligeiro ruído de rádio. "2013 foi um ano e tanto", grita Jão dos bastidores, enlouquecendo os fãs, e ressurge de chapéu de cowboy, entoando "Meninos e Meninas", em uma referência à sua origem de rapaz do interior, que ganhou o mundo com vídeos na internet.
Um riff mais pesadinho, um som que meu gosto reconhece, anuncia "Escorpião" para mim, a melhor música para uma roqueira que não conhece muito bem o trabalho do cantor pop, e labaredas sincronizadas com os movimentos das backings esquentam uma tarde que já vai caindo de temperatura no Rio de Janeiro. O clima esquenta ainda mais, pois "Pilantra", sucesso de Jão e Anitta, espreme o público pra frente do palco, naquele calor humano, sabe? "Imaturo" amaina um pouco os ânimos, quando Jão senta ao piano, para em seguida "Essa Eu Fiz Pro Nosso Amor" dar o tom de encerramento, aliada ao encontro de Jão com a galera abaixo do palco, se despedindo lentamente, com fogos acompanhando o seu retorno às escadas, e desaparecendo lentamente por trás. Repito, digno de divo pop.
Com um repertório original, autoral, e baseado em suas próprias experiências de vida, Jão mostra que sim, no coração daqueles que se afinem com a sua sonoridade, pode ocupar um lugar de destaque.
Tags
Rock in Rio