Max & Iggor Cavalera comprovam relevância de 'Roots' em ótimo show no Rio

Max Cavalera no show de 25 anos do álbum 'Roots'  [Foto: Rom Jom / Rock On Board]
 
Num dia de ventania e um pouco de chuva, também a sexta-feira em que faleceu o incansável humorista Jô Soares, Max e Iggor Cavalera se apresentaram na casa Sacadura 154, no Rio de Janeiro. 

Os irmãos, reconciliados há 16 anos, se apresentam como Cavalera Conspiracy  ou em turnês comemorativas de álbuns lançados pela dupla quando ainda eram membros do Sepultura. Aqui, o show mostrou tanto a forte química dos irmãos, quanto a relevância de Roots, seminal trabalho da música nos anos 90 e último trabalho dos dois juntos na banda a qual fundaram: Sepultura (Max saiu em 1996 e Iggor, em 2006)

Ouvir a bateria de Iggor Cavalera ao vivo, em um repertório do Sepultura, é presenciar a história do metal brasileiro. O estudo de outros ritmos, como o samba, trazia a bateria do Sepultura uma urgência e refinamento aos trabalhos do grupo, dos primeiros sinais em Beneath The Remains (1989)e Arise (1991), à reinvenção do grupo em Chaos A.D. (1993) e Roots (1996), não à toa os trabalhos mais emblemáticos da segunda fase do grupo, cravando o nome do Sepultura não apenas no metal, como em toda cena musical. E por mais que o Sepultura seja marcado pelas guitarras, a imersão do grupo em sua própria personalidade, partiu, sim, das mãos do baterista. 

Com Roots tocado de ponta à ponta, o que se ouviu foi uma sequência de música extrema, percussiva, intensa e catártica. Com os graves riffs e microfonias em repetição mostrando uma finalidade quase mântrica. Uma experiência única, o que também contribuí para a dupla revisitar em outra turnê. Negócios a parte, o disco soa atual também nos palcos.

E, após as últimas notas de "Dictatorshit", uma denúncia ao covarde período militar brasileiro, se encerra a primeira parte, muito bem ensaiada, do setlist. A partir daí, em homenagem à Dino Cazares, tocou-se "La Migra", gravada pelo guitarrista enquanto fazia parte do sensacional Brujeria, atendendo como Asesino, também o nome de outro projeto seu. Curioso ver o  guitarrista, presente em toda a turnê,  interpretando "Polícia", do Titãs, com Max sutilmente lhe mostrando a sequência de acordes. Nesse clima, mais festeiro, também brotaram faixas não tão interessantes: uma parte de "War Pigs", "War Pigs", que o leitor já sabe de quem prolongou em muito a performance de "Lookaway" e um desanimado cover de *Orgasmatron", do Motörhead. Derrubaram um pouco a sequência do ótimo show, e dariam espaço para algo mais inspirado, como "Desperate Cry", de Arise, que teve uma breve citação na obrigatória "Refuse/Resist". Com "Roots Bloody Roots" (aqui, em uma versão acelerada) encerrando o setlist, no 'bis' também foi tocada "Troops Of Doom", com participação do guitarrista Jairo Guedz.

O mineiro, abriu a noite com sua banda (também chamada) The Troops Of Doom. Com dois EPs e um disco gravados, a banda apresentou um bom show, e tem potencial pra se apresentar fora do Brasil, sem dificuldades. O som do grupo, ainda que calçado no metal extremo dos anos 80, traz idéias mais contemporâneas na bateria, o que dá um bom contraste com as influências de Slayer, Celtic Frost e dos primeiros trabalhos do próprio Sepultura, ponte feita também pela história do guitarrista com o grupo.

É muito bom ver Max e Iggor Cavalera juntos, a química dos irmãos é forte e certeira, Roots continua um trabalho atual e intenso e o público tem bem o que esperar na próxima vinda da dupla. Com breves ressalvas, ainda foi uma bela noite.

Zeone Martins

Redator, tradutor e músico. Coleciona discos e vive na casa de vários gatos. Ex-estudante de Letras na UFRJ. Tem passagens por várias bandas da região serrana e da capital fluminense.

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