Scorpions chega próximo de seus melhores álbuns em 'Rock Believer'


Scorpions aparece renovado em seu novo álbum de estúdio
 

Scorpions

Rock Believer
⭐⭐⭐⭐☆ 4/5

Por  Zeone Martins 

A trajetória do Scorpions é um tanto peculiar: tinham um pé no experimentalismo e psicodelia do krautrock em Lonesome Crow e Fly To The Rainbow, passaram para um hard rock próximo ao metal entre 1975 e 1982 e conquistaram o disputado mercado americano de vez com Love at First Sting (1984). A discografia do grupo do segundo disco até esse ponto era impecável. Porém, com Savage Amusement (1988), que ainda tinha seus alguns bons momentos, começou uma fase não muito inspirada do quinteto. De Crazy World (1990) à Return to Forever (2015) ou o grupo apostava num excesso de baladas junto faixas pouco inspiradas, ou fazia trabalhos pesados, mas que não saíam do piloto automático, de uma zona de conforto pouquíssimo agradável.


Neste contexto pouco animador, o Scorpions surpreende em Rock Believer (Universal Music Brasil, 2022). O novo trabalho, cheio de acertos, tem ótimo repertório, uma produção atual e acertada - a cargo de Rudolf Shencker, Klaus Meine e Mathias Jabs, os chefes do grupo-  após o COVID-19 impossibilitar o trabalho presencial com o ótimo Greg Fidelman (dos últimos do Metallica, Slipknot e engenheiro de som de incontáveis produções de Rick Rubin). 


Sem um batalhão de compositores externos, e com a estréia do sensacional Mikkey Dee (Ex-Motörhead, King Diamond), aqui há uma proposta bem diferente dos últimos trabalhos do quinteto: sem faixas mornas, repertório deslocado, ou repetições, Rock Believer é de uma bem-vinda variedade. Escute o pavoroso Return to Forever pra entender como a banda cresceu no novo álbum, se tiver dúvidas. 


"Gas In The Tank e Roots in My Boots" iniciam o trabalho com muita qualidade, a segunda inclusive tem um riff bem 'metal' na base de seu solo, muito bem inserido. "Rock Believer", segundo single, não é tão legal no primeiro verso, mas melhora e segue bem até seu final. "Shining Of Your Soul", possui um tema grudento -ótimo gancho-, um pouco de reggae nos versos e no solo, além de diferentes partes. Funciona bem e tem tudo pra chamar a atenção do ouvinte. "Seventh Sun" é a segunda que se desenvolve sobre um andamento pesado (a primeira é "Knock'em Dead"), tem um ótimo riff, e vale citar o exímio guitarrista-base que Rudolf Shencker sempre foi, mais um brilho do alemão por aqui. 


"Hot And Cold" também apresenta um ótimo trabalho nas 6 cordas, com Mathias Jabs dando ótimos contornos às bases de guitarra, licks acertados nos refrãos e um solo simples e muito efetivo. Com um toque das primeiras influências do grupo, "When I Lay My Bones to Rest", traz algo do rock anos 50 em seu andamento, com o som mais tradicional do grupo voltando nos refrãos. Algo que faz um bom contraste com "Peacemaker", faixa seguinte e primeiro single, mais direta e moderna.


O tracklist da verdade standard se encerra com "Call Of The Wild", que empolga mais com o instrumental próximo ao fim, e "When You Know (Where You Come From)" uma balada muito mais reflexiva do que 'novelesca' e encerra muito bem o disco. Possui um bom clipe, e solo de Rudolf Shencker (e há outros no disco, costume do conjunto depois desde 1980). 


Klaus Meine também fez um bom trabalho, principalmente levando a idade do vocalista, mais comedido e sem muitas correções. Mikkey Dee e Pawel Paciwoda fazem um ótimo trabalho na sessão e rítmica, Rudolf Shencker e Mathias Jabs são uma das duplas mais eficientes do Hard Rock. Rock Believer é um belo trabalho e tem condições de apresentar o grupo para toda uma nova geração. Não é pouco para um grupo de chegando aos 60 anos de estrada. E, claro, sem cair em expressões preguiçosas como 'volta às origens': Rock Believer se garante próximo dos melhores trabalhos dos alemães.

Zeone Martins

Redator, tradutor e músico. Coleciona discos e vive na casa de vários gatos. Ex-estudante de Letras na UFRJ. Tem passagens por várias bandas da região serrana e da capital fluminense.

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