Novo álbum do Ghost é fácil de curtir e coloca banda em 'outro patamar'

Ghost mantém variedade sonora de álbuns anteriores em 'Impera' 
 
Ghost

Impera
⭐⭐⭐ 5/5

Por  Zeone Martins 


O Ghost é uma banda que surgiu dividindo opiniões. Primeiro, alguns diziam que o hype sobre a estréia, Opus Eponymous (2010), não tinha fundamento. Depois, sobre Infestissumam (2013), diziam que a banda era leve demais para imagem que tinha. Com Meliora (2015) surgiram os 'saudosos' do som dos dois primeiros discos. Prequelle (2018) então, com músicas dançantes e canções voltadas à teclados, sintetizadores e piano, como a suntuosa "Life Eternal", entornou o caldo de vez, ainda por cima aumentando a popularidade da empreitada de Tobias Forge, vocalista e mentor de todo o projeto. Há de se estranhar que uma banda que gravara Beatles ("Here Comes The Sun") e Abba ("I'm a Marionette") ainda na fase em que enceneva uma  'missa do diabo' com um som de base Doom e com muito do rock dos anos 70, não vá explorar idéias musicais contrastantes. Mas, há chato para tudo, não?


E, após quatro discos e três EPs, como o Ghost chega à nefasta década de 2020? Com um single, "Hunter's Moon", na trilha de Halloween Kills (2021) de interessante clipe, estava em segredo se faria parte de um novo disco. Felizmente incluída em IMPERA (Loma Vista/Spinefarm, 2022) e com produção de Klas Åhlund (a versão do filme, tocada nos créditos finais, foi produzida por Tom Dalgety, o mesmo de Prequelle e do EP Popestar, de 2016) a faixa acrescenta de acrescenta muito à diversidade do disco, com passagens pop e um peso mais voltado ao hard rock, dando uma boa dica do que estava por vir.


Já "Call Me Little Sunshine", segunda faixa de trabalho, traz uma imersão na música dos anos 80, com muita influência de Echo And The Bunnymen (também gravada pelo grupo no citado Popestar)


Chegando ao novo álbum, cuja temática lírica é, até certo ponto,  sobre ascensão e queda de impérios, incluindo ilusões, adorações e promessas, é melhor 'degustado' em sequência, e o disco investe em um uma sonoridade heterogênea, alternando bastante entre si. Há faixas que poderiam estar em musicais da Broadway,  como "Spillways";  metal em "Twenties", "Watcher In The Sky" e "Respite On The Spitalfields", e com o peso aparecendo sutilmente em momentos outros momentos; toques de hard rock  dos anos 70 em "Kaisarion", com uma levada próxima aos americanos do Kansas em seus solos e dos anos 80 em "Griftwood" com um riff inicial muito próximo ao estilo do grande Eddie Van Halen. E, em outro extremo do disco, , "Darkness At The Heart Of Love" tem um refrão próximo das tendências da parada da Billboard. De primeira, assusta, mas fica mais agradável nas audições seguintes.


Fincado entre a variedade de seus álbuns e a teatralidade nos shows intensificada a partir de Meliora (teatralidade voltada ao movimento, já que, em apresentações, a indumentária papal foi trocada por trajes mais soltos, ainda mantendo o personagem) o novo disco do Ghost é fácil de curtir, trazendo uma nova 'viagem' a quem estiver disposto a curti-lo. IMPERA, novo capítulo musical da banda (ou projeto solo) mantém a qualidade no alto, explorando ideias não presentes nos (recomendadíssimos) discos anteriores. 


Dividindo opiniões ou lotando arenas, Tobias Forge constrói seu quebra cabeças visual e musical. Enquanto o sueco for um artista inquieto, o mundo pode ser um lugar mais agradável.

Zeone Martins

Redator, tradutor e músico. Coleciona discos e vive na casa de vários gatos. Ex-estudante de Letras na UFRJ. Tem passagens por várias bandas da região serrana e da capital fluminense.

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