Black Pantera
E o BLACK PANTERA, rapaziada mineira de Uberaba que está desde 2014 na estrada, começa 2022 com a corda toda: primeiro veio à confirmação da participação deles na edição deste ano do Rock in Rio, onde convidam para o show, a influência e hoje amigos pernambucanos da DEVOTOS, numa apresentação que promete incendiar o Palco Sunset. Na sequência disso, o esperado terceiro álbum da banda chega dando o que falar: ASCENSÃO é uma bordoada bem dada no pé do ouvido, sem meias palavras, porradaria insana enfiando o dedo na ferida e dando o recado bem dado contra o racismo, a política preconceituosa, e as mazelas da vida em geral.
Banda formada pelos irmãos Charles Gama (guitarra e vocal) e
Chaene da Gama (baixo), além do rolo compressor Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria),
o trio já lançou Project Black Pantera (2015), o furioso Agressão (2018),
além de outros singles e EP, e já chegam calejados a este terceiro disco,
contando inclusive com participação nos importantes festivais gringos Afropunk
e Download Festival.
O álbum “Ascensão” foi gravado entre 2019 e 2020 e, segundo depoimento
colhido no release da banda, “fala de
diversas questões e da ascensão não só do povo preto, mas da ascensão de
qualquer pessoa que quiser se relacionar, independente de cor, sexo, religião,
da ascensão de todas as pessoas que estão realmente sendo oprimidas no Brasil e
no mundo”, disse o baixista Chaene. Abre com “Mosha”, baixão nervoso,
batera bem colocada que vai se tornando avassaladora, guitarra pesadíssima, um
rugido de pantera gravado e o início que mostra o que nos espera “Quero que isso tudo vá pra puta que o pariu”...
“rápido... pesado... sujo... embaçado”!
Produzido por Rafael Ramos, o disco tem uma belíssima capa, com
uma foto de Victor Balde, na província de Meconta, no Norte de Moçambique, que faz
parte da coleção “Lute Como Uma Moçambicana”, e trás Ana Francisca e Carolina
Antônio, duas mulheres de mãos dadas, armadas de facões e protegendo uma
criança negra. A perfeita imagem da ascensão. O fotógrafo não cobrou pelo uso
da imagem e todo o cachê foi entregue diretamente às duas moças.
A sequência continua nervosa e vem o primeiro single do álbum, “Padrão
é o caralho”, forte crítica aos padrões pré-estabelecidos no mundo, pouco
importa a sua cor, aparência física, com quem se relaciona. Seja você mesmo! A
peteca não cai um segundo e o groove nervoso se mantém em “Delírio Coletivo”.
O segundo single do disco é curto e grosso: “Fogo nos Racistas”! Com citações aos expoentes antirracistas Django Livre e Luís Gama, pude acompanhar a execução ao vivo, no primeiro show de lançamento do disco em São Paulo, na casa La Iglesia Borratxeria (de propriedade do guitarrista Jão, dos Ratos de Porão), e esta canção já se tornou um hino! “A ascensão do império preto, o império contra-ataca, a lado negro da força aqui só fode com reaça”... “e eu digo na sua cara: Fogo nos Racistas! Eu disse Fogo nos Racistas! Expõe pra Queimar”! Vale muito a pena acompanhar o clipe [clique AQUI para assistir].
Em sua abertura, “Não Fode Meu Rolê”, com a sequência de baixo e
bateria até a chegada da guitarra pesada, visceral, me lembrou da urgência de “Funny
Vibe”, do Living Colour. “Revolução é o Caos” e “Anti Vida”, são duas faixas
que seguem a cartilha do álbum: peso, groove, balanço com porrada bem
misturados e temática política.
O álbum continua e agora com participação especial de Rodrigo
Lima, vocalista do DEAD FISH, em “Dia do Fogo”, denúncia dos abusos que nosso
meio ambiente sofre todos os dias. “Evilcred”, “A Besta” e “Eles Que Lutem” é
uma trinca arrasa-quarteirão e vai trazendo este belo álbum ao final.
A festa acaba com a improvável “Estandarte”, com participação da
banda pop/indie paranaense TUYO, numa bela canção que fala de amor, preconceito
e esperança, com um groove e vocais pesados se misturando aos poucos com a
delicadeza da Tuyo. Em letra de Chaene, vários são os avisos, prestem atenção
que vale muito a pena! Não percam tempo, façam o que interessa antes que não
seja mais possível! Escuridão? Acenda uma luz!
Está dada a largada, e o Black Pantera é a bola da vez.