ROCK IN RIO 2017: The Who simboliza conceito do rock em apresentação histórica

The Who faz show de gala na primeira vez no Rio [Foto: Fernando Schlaepfer]

Por Noemi Machado

"Mantenham a calma, aí vem o The Who". Pede coisa difícil não, amigo.

“Fuck, fuck, fucking Rio!” expressa bem o que os fãs brasileiros da mais lendária banda de rock de todos os tempos sentiam, depois de uma espera de 53 anos. Capitaneada pro Pete Towshend, Roger Daltrey e Zak Starkey, finalmente: The Who em terras brasileiras pra chamarem de suas.

"I Can’t Explain" tenta nos trazer a inexplicável importância da banda britânica na história do rock mundial, mas o que traz é uma euforia absurda da parte dos fãs que estavam lá por eles. Com a maior parte da plateia formada por fãs de Guns N' Roses, que tocaria a seguir, "Who Are You" deve ter vindo à mente de alguns desses : “aaaaaah, então são eles...”. Afinal, se The Who não frequentou como gostaríamos as nossas rádios brasileiras, os seriados, filmes e games cumpriram a função de trazer à nova geração pérolas preciosas de sua extensa e impecável discografia.

E se de games falamos, de guitar hero devemos falar. Towshend esteve como sempre, à vontade no palco, um tio numa jam do churrasco de casa. Mas ao contrário do teu tio, ele foi ovacionado por parte da plateia a cada girada de braço na guitarra, gesto criado por ele e imitado por gerações de guitarristas afora. The Who, sem o menor receio de afirmar, influencia, direta ou indiretamente, cada banda de rock do planeta. Taí "My Generation" e "Pinball Wizard" pra provar.

Daltrey nos apresenta uma surpreendente, admirável e invejável, nessa ordem, forma física e vocal, do alto de seus 73 anos. O vocalista tem a ingrata obrigação eterna de cuidar de sua saúde, seu peso e de suas não eternas cordas vocais, para manter a qualidade, na medida do possível, da voz que o levou ao estrelato. Mas Daltrey abusa, chega às notas altas (adaptadas a tons mais baixos – o que talvez devesse ter feito um outro rock star no dia anterior), sustenta notas longas com uma firmeza incrível, e ainda não peca por falta de emoção pra transmitir e levar às lágrimas quem teve o privilégio de assisti-lo. Mereceu um pedido de casamento, até.

Zak Starkey merece um capítulo à parte. Com a difícil incumbência de conduzir o andamento do show mais esperado do festival, com uma execução inacreditável das baquetas, pode-se dizer que a alma de seu padrinho, Keith Moon, primeiro baterista da banda, o cara que lhe deu a sua primeira bateria (diz a lenda que contrariando o pai do garoto, ninguém menos que Ringo Starr) baixou ali. O moleque (de 51 anos) DES-TRU-IU, honrando o banquinho por trás do bumbo.

"Amazing Journey" me transporta aos meus 9 anos, quando um grande emissora de TV exibiu em horário nobre (imagina uma coisa assim hoje em dia?) a ópera rock Tommy, com musicas e cenas que me marcaram para sempre. E a jornada continua, passando por "Sparks", "Baba O’Riley" e fecha com "Won’t Get Fooled Again", já tendo conquistado toda a plateia, que mesmo cansada por um dia inteiro de atividades e shows na Cidade do Rock, e esperando pela ultima atração da noite, se rende a um dos maiores shows da história de todas as edições do Rock In Rio.

The Who é chamada por muitos por banda conceitual. Não acho. The Who é o próprio conceito do mais puro rock and roll.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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