Veteranos? Com formação renovada, Korn faz show enérgico em São Paulo

Foto: Francisco Cepeda
Jonathan Davis em ação durante o show em São Paulo
Por Eduardo Abreu

Parece até que foi ontem, mas o Korn já é uma banda veterana. São os últimos bastiões do nu metal, um subgênero que viveu dias de glória no fim dos anos 1990, gerando assombrosas vendagens de discos. O tempo foi cruel com o estilo e seus outros famosos representantes foram abandonados à irrelevância.

Com um disco novo embaixo do braço, o grupo desembarcou no Brasil com farto espaço nas editorias de entretenimento. E a razão não era 'The Serenity of Suffering', seu décimo-segundo álbum em 24 anos de carreira, mas um fato bastante inusitado: a presença de um moleque de 12 anos integrando sua tão conhecida e sólida formação. Aumentou ainda mais o frisson pelo fato do menino, Tye, ser filho de Rob Trujillo, baixista do Metallica e ex-Ozzy Osbourne e Suicidal Tendencies. A salada estava posta.

Crianças não combinam com bandas de rock. Ponto. Pior ainsa se a banda em questão segue uma vertente mais pesada, cantando sobre temas sombrios que muitas vezes envolvem maldades perpetradas contra crianças – não se trata de apologia, pelo contrário, mas esse fato sozinho já aumenta a estranheza.

Os fãs não deixaram de prestigiar o grupo por conta da ausência temporária de Reginald Arvizu. Três mil deles, ou mais, ocuparam a maior parte desse lugar estranho chamado Espaço das Américas, com seu salão amplo e teto direito baixo que parece perfeito para festas de formatura. 

Muitos aficionados pela banda seguem a moda ditada por eles, de tranças e dreadlocks nos cabelos, além dos indefectíveis agasalhos esportivos sempre bem largos. Não é exatamente o público de outros shows de rock pesado e surpreende que o nu metal, à essa altura, ainda tenha seus próprios e fieis adeptos.
Foto: Francisco Cepeda
Tye Trujillo de apenas 12 anos de idade roubou a cena no palco
A luz azulada e o som similar ao de uma sirene anunciaram o Korn. E a massa bramiu entusiasmada. Jonathan Davis, de saia estampada, seus comparsas Brian Shaffer e James Welch, de dreadlocks emaranhados, o talentosíssimo Ray Luzier nas baquetas e, à sua direita, sobre uma plataforma que atenuava a baixa estatura, o convidado Tye Trujillo. Todos os olhos nele e o menino, compenetrado, seguia à risca sua função, enquanto a banda executava “Right Now” e “Here to Stay”. Excursionando com o Korn, o tecladista convidado Davey Oberlin colaborava para deixar a experiência mais climática.

O repertório da noite teve canções pinçadas de pelo menos dez discos, sem grande favorecimento a uma fase sobre outra. A irresistível “Word Up”, que em estúdio exibe uma faceta mais pop do Korn, foi interpretada ao vivo de forma fria e desleixada, sequer tocada até o final. Sem dúvida, o ponto baixo da apresentação.

Tye Trujillo, por sua vez, pulverizava as suspeitas sobre a pouca idade e, surpreendentemente, misturava-se com naturalidade aos adultos. Com postura, boa técnica e metido numa camiseta da banda sueca Meshuggah, subia e descia da plataforma, às vezes entusiasmado em poder chacoalhar a cabeleira ao lado do guitarrista Brian “Head” Welch.
Foto: Francisco Cepeda
Brian "Head" Welch e o precoce Tye Trujillo no fundo
A iluminação deixava o palco quase sempre muito claro, e as guitarras, saturadas, com a famosa afinação baixa do nu metal, criavam um clima estranho; quase estéril. Tudo é parte da receita que fez a música do Korn resistir bravamente ao teste do tempo. São diversas faixas baseadas em riffs repetitivos e que criam pequenos mantras, estendidos até explodirem em algum refrão que manda tudo às favas. “Blind”, parte do repertório do show, é ótimo exemplo dessa fórmula que influenciou muita gente, de Sepultura a Linkin Park.

A apresentação teve ainda solo de bateria, Jonathan Davis causando com sua gaita de foles, um dueto de baixo e bateria para prestigiar o baixista mirim, muito aplaudido, e a poderosíssima “Make Me Bad”. “A.D.I.D.A.S”, dessa vez, ficou de fora.

O bis, previsível, trouxe os dois maiores êxitos comerciais do Korn. “Falling Away From Me”, com sua introdução misteriosa e atmosférica, é das melhores coisas que o grupo já produziu e gerou uma tremenda ovação assim que a banda retornou ao palco. 

Freak on a Leash”, por fim, fez todo mundo voltar a 1998, momento em que o Korn foi dos grupos mais populares do planeta, liderando a parada da Billboard e indicado a nove prêmios no Video Music Awards, da MTV. Funciona bem ainda hoje e também como uma pequena cápsula do tempo, que ajuda a explicar sobre os estertores da última boa década da música pop.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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