Em noite de celebração, Rio Novo Rock comprova relevância com bom público e ótimos shows

Foto: Amanda Respício
Rio Novo Rock promove noite de festa com bom público no Imperator
Por Bruno Eduardo

Todo ano é a mesma coisa. Desde que foi criado o 'dia mundial do rock', as redes sociais se dividem entre simpatizantes e detratores. "Dia do rock é todo dia!", dizem os hostis. Nem sempre é. Um dia dedicado ao rock abre diversos precedentes para disseminação do gênero. Só não vê quem não quer. Quando falamos em disseminação, falamos em oportunidades, publicidade, holofote. Ou seja, tudo o que o vem faltando para as novas cenas de rock espalhadas pelo país. Lógico, há muita gente que utiliza o dia do rock com muito mais adereço do que substância. Mas cabe aos que vivem disso saber tirar proveito. E para isso, precisamos apenas de boa vontade e perspicácia. Bom, é aí que entra o Rio Novo Rock.  

Aproveitando-se de um dia de celebração, o Rio Novo Rock cumpriu seu papel como principal fomentador da cena no Rio de Janeiro. Hoje, afirmo que é, inclusive, um dos mais importantes no país, já que bandas de outros estados começam a vislumbrar no palco do Imperator a chance de conquistar seu público no Rio. Com devidos exageros, é um vislumbre parecido com o que aconteceu no Circo Voador há mais de trinta anos. Agora, toda banda que quer tocar no Rio, quer tocar no Imperator. Mas o papel do Rio Novo Rock não está apenas relegado a dar espaço às bandas. Ele tem como objetivo primordial, juntar tribos, gerações e formar uma plateia. Nesta edição especial, foi muito legal ver o Imperator aproveitado de uma forma mais abrangente - e que deveria se tornar rotina - com espaços ocupados por banquinhas, parceiros, tatuagens, discos e também com uma incrível jukebox na entrada da casa. Tudo isso, só comprova o que foi dito anteriormente: o Rio Novo Rock segue comprovando sua relevância no que diz respeito à difusão do gênero na cidade.

Os Shows  

"Esse é o segundo melhor show da minha vida. O primeiro também foi aqui", disse Emmily Barreto, vocalista da Far From Alaska, no show de encerramento da noite. A afirmação soa honesta, longe de parecer aquele discurso de palco, que as grandes bandas levam em seus roteiros. Não mesmo. No Rio, o grupo potiguar é tratado como uma banda gringa. Por isso, mesmo com um atraso de aproximadamente uma hora, o público não arreda o pé. É uma quarta-feira, já passamos de meia-noite e meia, e ninguém parece se importar. A discotecagem da DJ Priscila Dau também ajuda, é verdade, mas é sempre uma noite diferente quando quem está atrás das cortinas é o pessoal do Far From Alaska.

Foto: Amanda Respício
Dueto de Emmily Barreto e Cris Botarelli no show do Far From Alaska
O show não tem muitas novidades, se comparado ao feito aqui, nesse mesmo palco, há um ano. Isso deve mudar na próxima visita, já que eles garantem voltar com o novo disco ainda este ano. A banda ainda se desculpou por não tocar o single "Chills", lançado durante uma turnê nos EUA. De acordo com a vocalista, eles ainda não tiveram tempo para ensaiar, e por isso, acharam melhor não arriscar. Sem contar com um 'novo riff' apresentado, talvez, a única mudança significativa é que as músicas parecem muito mais robustas dessa vez. Isso é reflexo de muitos shows na conta, e uma confiança que aumenta cada vez mais. Por exemplo, a versão de "Dino Vs Dino" é tão selvagem que parece ser outra canção. Outra preferida da casa, "Politiks" é outra que ganha um peso maior na parte final. Como sempre, o show do FFA é de um entorpecimento sonoro prazeroso. É forte, cheio de boas ideias e conta com a incrível capacidade individual de seus integrantes. Redundante ou não, difícil não falar da voz de Emmily. Que drive é esse que ela tem, meus amigos? A apresentação dura pouco mais de uma hora, mas não deixa de ser memorável para quem assistiu. 

Foto: Amanda Respício
Saulo Von Seehausen em ótimo show do Hover
Na abertura da noite, o Hover mostrou um pouco do seu novo - e ótimo - disco, 'Never Trust The Weather'. Calcado em uma apresentação orgânica e cheia de nuances, o grupo é certamente uma das coisas mais interessantes da nova cena carioca. Ao vivo, o som da banda é ainda mais atmosférico. Um exemplo disso, é a ótima "Hawkeyes", que soa muito mais space rock do que um conjunto de riffs poderosos, como pode ser conferida no disco. A faixa é quebrada e mostra a complexidade da proposta do quinteto, que tem como foco principal as texturas e passagens encorpadas. Uma das melhores da noite é "Teeth", que lembra um pouco a melhor fase dos Deftones - forte candidata também às melhores músicas do ano. Ou seja, é um ótimo show e que teve a participação do violinista Felipe Ventura, da banda Baleia. O Hover prende a atenção pelos detalhes de suas músicas, divididas em passagens distintas, que passa pelo metal, pelo psicodelismo, pela veia degradé Queen-Pink Floyd. Basta conferir a execução de "There's No Vampire In Antarctica, At Least For Six Months" e comprovar que o som da banda é algo que funde qualquer conceito pré-estabelecido. Ou seja, é para um público seleto e de extremo bom gosto. Muito bom!

Foto: Amanda Respício
Alexandre Rozemberg em atuação enérgica no palco do Imperator
O Stereophant segue consolidado como um dos principais nomes da cena independente. Com uma performance enérgica, a banda já entrou quente no palco. E contou com a força popular, já que todos pareciam conhecer a maioria das faixas de 'Correndo de Encontro a Tudo'. Inclusive, foi bem difícil ouvir a voz de Alexandre Rozemberg em algumas músicas - "Vermelha", por exemplo, foi cantada em alto volume pela galera; já "Insônia", contou com um coro afinado de "oh-oh-oh" na parte final. Outro fator que conta muito a favor do Stereophant é que as músicas ficam muito mais pesadas ao vivo, dando uma força descomunal ao número. O maior exemplo disso é "Toda Glória da Derrota", que acaba se tornando um hard robusto, com guitarras rasgadas. Já "Menina", música que abre o citado álbum, é executada na pressão - carregada essencialmente por seu riff à la Arctic Monkeys. O show também foi marcado por discursos contra o atual presidente Michel Temer, e contra o Impeachment - e foi comemorado pelo público presente.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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