'Tem banda que sonha em ficar famosa. O Matanza sonhava em ter seu festival'

Foto: Divulgação
Matanza torce por noites memoráveis na quarta edição do Festival
Por Bruno Eduardo

O Matanza Fest chega a sua quarta edição com shows em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Para falar um pouco sobre o festival, conversamos por telefone com o guitarrista Donida, um dos fundadores do grupo e idealizadores do projeto. No bate papo, ele também falou sobre os vinte anos da banda, sobre o último disco e sobre a importância do Matanza no cenário nacional. Esta semana, o Matanza Fest acontece em Belo Horizonte no dia 22 de julho (Music Hall BH), Rio de Janeiro no dia 23 (Circo Voador) e em Porto Alegre no dia 30 no (Bar Opinião). Entre as bandas convidadas estão a Zumbis do Espaço, Cólera, Hatefulmurder, Rats, Engradado, Monstros Do Ula-Ula, Walverdes e Rebaelliun. Independente de quem se apresente em cada cidade, o Matanza sempre encerrará as noites. Os ingressos já estão à venda em todas as capitais. 

O Matanza Fest chega a sua quarta edição. Como vocês tiveram essa ideia de fazer um festival próprio?

Na verdade o festival era um sonho da banda. Tem bandas que sonham em montar um estúdio, outras sonham em crescer, ficar famosa, e a gente tinha o sonho de ter um festival. Em 2011 nós conseguimos ter condições de realizar a primeira edição, pois já tínhamos um público e uma conjuntura de coisas que nos davam esse suporte. Aí metemos bronca e levamos o projeto adiante. Como deu certo na primeira edição, nós vimos que seria o primeiro de muitos. Na verdade não é nada de extraordinário. A gente não tem patrocínio, nem apoio, nada disso. Então fazemos tudo do nosso bolso. Metemos a cara mesmo! O Matanza Fest acontece da forma que a gente acha que deve ser. Desde o line up até a estrutura básica, de palco e camarim. Convidamos as bandas que tem a ver, que tem um som legal e que são divertidas. O objetivo é sempre fazer uma noite memorável.

Mas vocês chegaram a levar esse projeto do festival em busca de patrocínio ou apoio que financiasse o evento?

Não fizemos muito esforço em relação a isso não. A questão do patrocínio envolve muito o fator do retorno. E achamos que isso poderia desvirtuar a coisa. Para a nossa realidade, para o que o Matanza é, e pelo espaço que ocupamos, esse festival está de bom tamanho. O que a gente precisa é uma boa estrutura de palco, um bom equipamento e um lugar legal, onde as pessoas assistam um bom show. Então não precisa muito mais do que isso. Não precisamos de uma grande atração internacional ou de um espetáculo pirotécnico. Nada que justifique um grande investidor, uma grande cerveja botando dinheiro. A gente não toca isso para ganhar dinheiro. A gente quer é ter uma noite bacana tanto para a nossa banda quanto para as outras, e assim, criarmos um elo. Enquanto pudermos andar com nossas próprias pernas, a gente prefere assim.

E como vocês escolhem as bandas?

Isso é bem orgânico. Em princípio a gente vai chamar quem é amigo nosso. Geralmente são essas bandas que a gente divide o palco durante o ano e faz amizade na estrada. Dificilmente vamos chamar alguém que não conheçamos. A não ser que sejam aquelas bandas que nós mesmos somos fãs, sabe? Tem muita banda que eu não sou amigo dos caras, mas eu chamo porque sou fã deles. Um exemplo foi na última edição, quando convidamos o MX. Eu não era amigo deles. Mas eu curto esses caras desde os anos oitenta. Então tivemos a oportunidade de chamar, de conhecer e de ficar amigo.

O Biohazard também tocou no Fest. O Maurício (guitarrista) disse que ficou surpreso dos caras terem feito questão que o Matanza fechasse a noite...

Isso é verdade mesmo. O pessoal do Biohazard foi super humilde. Apesar de serem uma banda internacionalmente reconhecida, eles foram super de boa. Eles queriam mais é dar o recado deles ali para a galera, sem ficar com o ônus de ter que fechar a noite. Com isso, eles acabaram sendo super parceiros, curtiram o show, tomaram uma cerveja... Foi muito bacana!

Aproveita e fale um pouco dessas bandas que estão nessa edição do Matanza Fest...

A gente tem o Cólera, que é uma banda condecorada no punk rock. Digo que se não fosse o Cólera, muita coisa não teria acontecido no nosso cenário. O Zumbis [do Espaço] é uma banda que a gente é muito amigo. Lembro que nosso primeiro show em São Paulo, nós tocamos com eles. Foi demais! E o Rats é uma banda aqui do Rio que a gente é muito brother. Um dos integrantes, inclusive, gravou com a gente o nosso último álbum. Mas independente de a gente ser amigo, é uma banda que tem tudo a ver, sabe? É um punk com som irlandês, muito legal! Então acho que vai ser uma noite muito bacana.

E vai ser uma oportunidade para os fãs do Matanza conhecerem outras bandas, né?

Exato. Não deixa de ser uma bela oportunidade de apresentar essas bandas para uma galera nossa que talvez não fosse no show deles, entendeu? Quando a gente bota uma banda de thrash metal para abrir, tem muita gente do nosso público que não teve oportunidade de assistir. São bandas que alguns fãs do Matanza não acessariam se não fosse pelo simples fato de estarem tocando conosco. Então essa comunicação é muito gratificante para nós. 

Nos shows do Matanza, o público pode encontrar uma variedade de produtos personalizados como cerveja e pimenta, por exemplo. Qual é a importância desse tipo de produção para a banda?

A gente não faz isso pelo lado empresarial, de retorno, entende? Tudo que nós fazemos é pela parceria, que rola espontaneamente. Quem não quer ter a sua própria cerveja? Quando experimentamos a cerveja, nós ficamos loucos! Não é porque a cerveja é do Matanza que eu estou falando isso não, mas ela é muito boa! Então fazemos isso porque ela também é sensacional. Não estamos preocupados se ela vai dar retorno, se vai vender ou deixar de vender. Fazemos porque é muito bacana ter um produto desses vinculado ao nosso nome. É algo que vem para agregar mais pelo lado conceitual do que pelo lado financeiro. Da mesma forma que a cerveja e a pimenta deram certo, tem outras que não vingaram. Existem outros projetos que chegam para a gente, mas achamos que não possui a química certa com o que a gente acredita. As nossas camisas da Brutal Wear, por exemplo, é um exemplo de parceria com sucesso. Esses caras estão conosco há 10 anos.

A banda está completando 20 anos de estrada. Em uma entrevista anterior, o Maurício me disse que alguma coisa tinha que rolar para comemorar. Isso ainda está em pauta?

Na verdade existe uma grande discussão quanto a isso (risos). O problema é que a gente não chegou a um consenso de quando fazemos vinte anos de verdade, sabe? São vinte anos desde quando? Desde que entramos no estúdio pela primeira vez ou quando começamos levar essa coisa a sério? Porque em 1996 a gente não era uma banda coisa nenhuma! Nós eramos um bando de cachaceiros e só entrávamos no estúdio para matar uma garrafa de uísque. Então não conseguimos chegar a esse consenso de quando seriam esses vinte anos. Mas nós temos um projeto. Pensamos em fazer um DVD, fazer um álbum. Alguma coisa vai rolar... Assim que nós conseguirmos decidir quando é que a gente faz 20 anos (risos).

Mesmo sem fazer uma música original, o Matanza consegue ter um som muito característico. Você consegue enxergar a representatividade da música de vocês após tantos anos de estrada?

O Matanza tem muito mais compromisso com as influências de cada integrante do que com a novidade ou contemporaneidade. Eu acho que o formato de rock serve muito para isso. Porque no momento que você está no palco tocando ou num estúdio fazendo uma música, esse lado rock que você tem dentro de si acaba aflorando. Eu não estou nem aí para a música que se faz hoje em dia, para a música moderna ou para o futuro da música. Eu vou continuar ouvindo Motörhead, Slayer e todas as coisas que eu ouvia desde sempre. E é exatamente isso que vai sair na minha música. Eu acho que a banda é um grande filtro musical que nós temos. E nós somos todos roqueiros! Todo mundo na banda ouve música velha. Eu acho que esse lance de cada um levar a sua individualidade para música é que se torna o grande diferencial do rock. Porque você acaba transmitindo na música quem você é de verdade. Então, na minha opinião, a grande coisa do Matanza é que nós somos honestos com nossas influências. Nós já fizemos algumas coisas diferentes ao longo de nossa discografia, mas no final, conseguimos ter um resultado formal por respeitarmos o nosso background.

Na última vez que eu entrevistei a banda, vocês estavam lançando o "Pior Cenário Possível". Como você vê o resultado desse trabalho hoje?

Temos uma preocupação muito grande em não repetir fórmulas. Mesmo que haja a manutenção da coisa, em cada álbum a gente tenta trazer alguma coisa diferente. Sempre buscando fórmulas que conversem entre si, mas não se repitam. Por isso cada álbum do Matanza possui uma expressividade diferente. O nosso primeiro disco, por exemplo, é super calcado no country-hardcore. Já neste último quase não tem nada disso. Mas o que vale mesmo é que a cada álbum a gente consegue angariar mais fãs e manter os nossos fãs antigos. Então acho que todos os discos são bem sucedidos nesse sentido.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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