Memora e Versalle em noite de consagração no Imperator

Foto: Amanda Respicio
Memora contou com apoio da galera em show enérgico
Por Bruno Eduardo

O Imperator recebeu um ótimo público nesta quinta-feira, para a edição mensal do Rio Novo Rock. No entanto, é necessário deixar registrado que em quase todas edições que contam com uma banda "de fora", há uma significativa debandada do povo após o primeiro show - que no caso, é da banda local. Isso vem ocorrendo sintomaticamente, e com exceção do Far From Alaska (que inclusive está confirmada para voltar ao Imperator no dia 13 de julho), todos os outros grupos convidados sofreram com esse esvaziamento da plateia. É uma pena, pois as escolhas das bandas convidadas pelo Rio Novo Rock até agora foram ótimas, e essa proposta da produção só ajuda a criar um circuito mais vívido entre as diversas cenas do rock nacional. Vamos fortalecer galera! 

Com o público nas mãos, a Memora não precisaria se esforçar muito para conseguir sua aclamação popular. Mesmo assim, o quarteto subiu no palco do Imperator como se esse fosse o último show da vida. A noite começou com a contagiante "Do Mesmo Céu Do Mesmo Chão", que resume de forma precisa a proposta do grupo em misturar rock, funk, soul e pop. Olhando de forma bem superficial a atual cena carioca, podemos dizer que eles são um dos poucos que se aventuram nessa trincheira de unir groove com riffs cheios de distorção sem perder o foco no pop. Um bom exemplo desse caldeirão sonoro é "Não Alimente o Medo" que começa num riff à la Tom Morello e descamba para uma levada suingada - com direito ao melhor solo de guitarra da noite (de Rafael Lima). Embora a Memora se classifique como uma banda de dois vocalista, é o vozeirão de Rafael Lima que se destaca em quase todas as canções. Outra coisa que funciona legal nesse show da Memora é a utilização de teclados / sintetizadores - agora uma novidade no som da banda. Com um novo disco sendo preparado, o elemento deverá ganhar um upgrade interessante e merece ser melhor trabalhado. Nesta noite, a utilização do novo ingrediente acabou arredondando a mistureba e preencheu alguns "supostos" vazios - tornando as músicas ainda mais dinâmicas ao vivo. Isso ficou evidente em "Idílio" e, principalmente, "Será Que Só Eu". Já o lado pop da Memora chegou forte na melodia cativante de "Como Você Me Vê", com público cantando o refrão e balançando os braços de um lado para o outro. Nessa música, vale destacar também o solo blues - enxertado de drive - do guitarrista Rod Xavier. Para finalizar, o hit pronto "Ela" - que recebeu o apoio do guitarrista do Verbara, Iuri Nascimento - e uma versão orquestral de "Quando Tudo For Pra Sempre", com direito a um trio de cordas clássicas (com violinos e violoncelo). Memora(vel)!  

Foto: Amanda Respicio
Criston Lucas do Versalle em momento solo com sua guitarra
Sorte de quem ficou. Com um notório esvaziamento do local, a Versalle pode não ter contado com o mesmo apoio popular da Memora - se bem que no início da apresentação, até havia um público razoável no local, inclusive com a presença de alguns mais animados em frente ao palco (que abriam rodas até em canções lentas, como "Verde"), mas com o decorrer do show, a presença da galera diminuiu de forma considerável -, no entanto, a banda de Rondônia é muito convicta e parece não se importar. Afinal, os quilômetros rodados Brasil adentro fazem a diferença para um show coeso e que surpreende pela uniformidade do repertório - com exceção de um cover dispensável da Legião Urbana ("Ainda é Cedo"). Mesmo que algumas faixas de seu disco de estreia, Distante em Algum Lugar, soem quase sempre como um misto do rock cabeça de grupos como Los Hermanos e Scalene, elas crescem principalmente nos momentos de maior punch. Isso acontece logo no início em "Marte", e no rock sacolejado de "Modelo Adequado", que funciona de forma magistral ao vivo. Em "O Que Fazer", o peso rola solto e as guitarras enchem de distorção os quatro cantos do Imperator. Já o lado inspirado do quinteto surge nos belos arranjos e solo de guitarra space rock de "A Saudade". O mesmo ocorre em "Dúvidas", com instrumental que faz ode ao progressivo em execução divina do grupo. Como vem se tornando costume nos shows do Rio Novo Rock, o público invadiu o palco em "Mente Cheia" e deu trabalho aos seguranças. Lógico que há tradição em alguns eventos e bandas que incentivam o Stage Dive (Mosh), e outras que convidam a galera (como a Dona Cislene na edição passada), mas subir no palco para fazer selfie é algo a se questionar. Lembrando que no palco há equipamentos que podem ser danificados ou modificados por qualquer contato físico, levando o risco de influenciar negativamente na performance. Empolgação sim, mas com responsabilidade galera. Mesmo assim, o pessoal da Versalle não reclamou e terminou sua apresentação nos braços da garotada.

Foto: Amanda Respicio
Público invade o palco do Imperator no fim do show da Versalle
Após um ano e meio com 22 edições, 45 bandas, 22 DJs e um público aproximado de 10.000 pessoas, o Imperator Novo Rock se consolidou como o mais importante evento do rock independente do Rio de Janeiro. É com esse legado, que agora em 2016, o projeto se lança como Rio Novo Rock (RNR). Na nova fase, o evento expande seu conceito, que é apresentar e valorizar o trabalho autoral de novos artistas do rock, e amplia o diálogo com bandas de todo o Brasil.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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