Discos: Yuck (Stranger Things)

Foto: Divulgação
Yuck retorna com bom trabalho, mas não apresenta muitas novidades
YUCK
Stranger Things
Mamé Records; 2016
Por Luciano Cirne



Poucas bandas tiveram uma carreira tão cheia de altos e baixos em um espaço de tempo tão curto quanto o Yuck. Senão vejamos: lançaram o primeiro CD por uma gravadora independente renomada (Fat Possum, subsidiária da Epitaph Records) e conseguiram fazer algum sucesso no Reino Unido graças a sons como "Get Away" e "Holing Out", inspirados até a medula em My Bloody Valentine, The Cure e Jesus And Mary ChainQuando tudo parecia estar indo de vento em popa, o guitarrista, vocalista e compositor principal Daniel Blumberg resolveu cair fora para investir numa carreira solo (que, diga-se de passagem, não decolou até agora). 

Perdidos sem o seu ponto focal, lançaram Glow and Behold em 2013, disco preguiçoso que investia em melodias mais acessíveis na esperança talvez de abraçar um público maior, porém o resultado foi o completo inverso: o álbum não só fracassou nas paradas - rendendo um chute no traseiro pela gravadora - como também desagradou boa parte dos antigos fãs. Agora, tentando dar um novo gás e voltar aos tempos áureos, lançam Stranger Things. Nesse momento você deve estar me indagando se esse disco é tão bom quanto o primeiro trabalho, e eu respondo que com certeza é bom, mas se faz frente a sua estreia... Bem, aí já é outro papo.

Stranger Things tenta pegar um pouco mais pesado na distorção que seu antecessor, como é o caso da viajante faixa de encerramento "Yr Face", de "Cannonball" e da maravilhosa "Hold Me Closer" (seríssima candidata à música do ano). Mas o que predomina mesmo nesse trampo são momentos calmos e melódicos, como nas faixas "Like a Moth", "Swirling" e "I'm OK", que se por um lado evidenciam o potencial radiofônico do conjunto, também acabam expondo três pontos fracos que são bastante incômodos. O primeiro são os vocais bastante desafinados do vocalista (e também guitarrista) Max Bloom. Prova disso é a canção "As I Walk Away", a única cantada pela baixista japonesa Mariko Doi. Após ouvi-la, fica difícil não escutar as músicas restantes sem se perguntar o tempo inteiro quem foi que achou que seria uma boa ideia manter Max no microfone. Já o segundo problema é a falta de personalidade: Temos nítidos ecos de Weezer ("I'm Ok"), Teenage Fanclub ("Only Silence"), Superchunk ("Cannonball"), Lemonheads (a faixa-título, cuja melodia lembra e muito o hit "Into Your Arms"), só não temos mesmo nada que se assemelhe com seu inspirado primeiro álbum. O mais próximo disso é mesmo "Hold Me Closer", embora também falte personalidade e soe como cover do Pavement em vários momentos. Por fim, o terceiro e último defeito é se perder em sua própria pretensão. Algumas músicas são desnecessariamente longas ("Down" é o maior exemplo), o que torna a tarefa de chegar ao final da audição um tanto quanto cansativa. 

Talvez o fato de a própria banda ter produzido "Stranger Things" possa ter contribuído para isso; alguém de fora provavelmente teria percebido melhor o problema e dado o polimento devido, bem como alertado para não colocarem tantas faixas lentas em sequencia no final, onde o ouvinte pode acabar ficando como o bonequinho da capa do disco - e adormecendo no sofá. 

É nítido que o Yuck ainda está tentando se reinventar e achar sua própria identidade, mas também parece claro que não estão mais dispostos a serem tão ousados ou assumir riscos como na época em que Daniel Blumberg capitaneava o barco. Trocando em miúdos é bom, mas não tanto quanto poderia ser, pois potencial para ir além eles têm de sobra. O refrão de "I'm OK" seria uma boa de resumi-lo: "Não tenho nada para te dar, não tenho nada para oferecer, não tenho nada para dizer exceto 'Estou OK'". Concordo plenamente , está apenas ok e nada mais.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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