BOB MOULD"Beauty And Ruin"Merge Records; 2014Por Luciano Cirne
Fato: todo roqueiro que se preza deveria, antes de dormir, fazer uma oração para o senhor Bob Mould (para o Ozzy tambĆ©m, mas isso jĆ” Ć© outro papo). Afinal, poucos artistas foram tĆ£o influentes no cenĆ”rio alternativo como ele. Se duvida, pergunte como sua seminal banda punk Hüsker Dü foi importante para o Nirvana, Pixies, Sonic Youth, Green Day e Cia. Como se isso nĆ£o fosse suficiente, nos anos 1990 ele esteve a frente do Sugar, que durou apenas dois discos e um EP, mas que rendeu inĆŗmeros hits e atĆ© hoje possui um sĆ©quito de fĆ£s apaixonados. Ainda assim, com um currĆculo acima de qualquer suspeita, este cinquentĆ£o nĆ£o se aquietou (quem testemunhou seus shows no Brasil ano passado sabe bem disso); e seguiu em carreira solo lanƧando ótimos e relevantes trabalhos.
“Beauty And Ruin”, o dĆ©cimo de sua extensa discografia (descontando os Ć”lbuns ao vivo) nĆ£o foge Ć regra. Como foi composto e gravado durante um perĆodo complicado em sua vida (seu pai estava doente e veio a falecer), isso acabou se refletindo no clima das canƧƵes, um pouco mais pesadas em termos musicais e nas letras, mais reflexivas e pessoais que em seu ensolarado Ć”lbum anterior “Silver Age” (que lembrava bastante o pop punk que fazia nos tempos do Sugar). A faixa de abertura “Low Season” pode causar uma primeira impressĆ£o errada com sua melancolia latente, mas o que dĆ” o tom Ć bolachinha na maior parte dos seus 38 minutos sĆ£o sons como “Hey Mr. Grey”, “Tomorrow Morning”, “I Don’t Know You Anymore” e “Little Glass Pill” que combinam fĆŗria e melodia com perfeição, caracterĆstica marcante de sua obra.
Ao final da audição, uma certeza: as gerações mais novas precisam urgentemente conhecê-lo e dar a ele o devido reconhecimento - a música agradece. Ainda que não seja seu melhor trabalho, é um belo disco e é altamente recomendado.