Tool mantém ambição e técnica apurada em 'Fear Inoculum', primeiro álbum após 13 anos

Após 13 anos, Tool está de volta com um novo trabalho: "Fear Inoculum"
Por Lucas Scaliza

Após 13 anos, Maynard J. Keenan, Justin Chancellor, Danny Carey e Adam Jones brindam os fãs com Fear Inoculum, um desses álbuns que cumprem promessas que nunca foram feitas e ao mesmo tempo em que mata a vontade de uma legião de fãs do Tool que estavam ávidos por algo novo da banda, também deixa aberta as portas para ansiarmos por mais novidade. Afinal, de forma alguma os 86 minutos do álbum esgotam as possibilidades da banda de Los Angeles.

Embora faixas viajantes e experimentais sempre estivessem presentes nos discos anteriores, dessa vez o grupo optou por um trabalho que exige muito mais o engajamento do ouvinte na proposta para que seja recompensado com riffs poderosos e passagens arrebatadoras. Seis das sete faixas principais nos levam para universos sonoros muito particulares, lentamente construindo seus cenários e temas músicas, pulando de compassos como 7/4 para 4/4 e 5/8 (entre outros), nos conduzindo por labirintos fluidos de rock psicodélico e metal alternativo.

Enquanto diversas técnicas usadas pelo Tool em Fear Inoculum ainda são as mesmas de 10,000 Days (2006) e Lateralus (2001), a forma de construir cada canção é o que faz com que o álbum tenha uma personalidade muito própria e imediatamente destacável do restante da discografia da banda.

O baterista Danny Carey é um dos destaques absolutos do álbum. Entrega potentes doses metaleiras quando lhe é exigido, mas seu lado mais percussionista e tribal, místico até, aflora ao longo de todas as faixas. "Pneuma" é um dos melhores exemplos disso (não por acaso, a faixa com a mensagem mais espiritual do trabalho). "Chocolate Chip Trip" é para Fear Inoculum o que "On The Run" é para Dark Side Of The Moon (1973). Mas se o Pink Floyd tem Roger Waters manipulando sintetizadores para fazer sua faixa experimental, o Tool deixa Carey livre para mostrar como um baterista inspirado rouba a cena em uma faixa eletrônica.



Não cabe questionar a parte técnica do álbum. São quatro músicos totalmente conscientes de seus papeis e que sabem exatamente como baixo, bateria, guitarra e teclado devem se comportar, sempre contribuindo com a jornada que cada música representa (todas as 7 acima de 10 minutos de duração). Talvez pela forma como o álbum está arquitetado, parece que Fear é o álbum que menos dá destaque a Maynard. No entanto, uma audição atenta à forma revela que o cantor sabe se colocar de forma decisiva em cada faixa. Não faltam partes vocais, assim como elas não sobram.

"7empest", a gloriosa faixa de 15 minutos no fim do álbum, é uma das melhores já gravadas pela banda e sem dúvida um dos trabalhos de guitarra mais impressionantes que Adam Jones já demonstrou em sua carreira. O homem simplesmente é um avião! Se no restante do disco ele se contém até poder soltar a mão para curtos solos ou riffs mais pesados, em "7empest" ele alterna entre vôos graciosos e rasantes de tirar o fôlego. A faixa mais longa é também a faixa que nos acerta com maior vigor e entusiasmo.

É justamente por se ater a uma forma muito bem estruturada ao longo de todo o álbum que o Tool atinge a coesão. Com milhares de fãs que se confundem entre aqueles que acompanharam a banda nos anos 90 e aqueles que se tornaram devotos ao longo dos 13 anos de hiato, todos podem agora presenciar, juntos, o que a banda é capaz de fazer e imaginar o que ainda poderá vir por aí, a partir de todas as possibilidades que ficaram de fora do Fear Inoculum.

Até o rock comercial pena hoje em dia para ser notado no mainstream, mas estamos vendo que os alternativos estão conseguindo o reconhecimento que merecem. Tivemos o excelente resultado do The Raconteurs com seu novo Help Us Stranger, devido ao carisma de seus músicos e do selo Jack White de qualidade. Agora o Tool prova que seu status de cult segue inabalado e que uma obra densa e ambiciosa também pode adentrar os charts com o devido apoio do público.
Cotação: 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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