Álbum de estreia do Dead Cross traz Mike Patton e Dave Lombardo com sangue nos olhos

Dead Cross volta a reunir Mike Patton e Dave Lombardo após 12 anos
DEAD CROSS
"Dead Cross"
Ipecac Recordings; 2017
Por Luciano Cirne


Eu poderia iniciar esse review de diversas formas, mas acho que o modo mais adequado de fazê-lo é traçando um paralelo com o filme "Fragmentado", recentemente exibido nos cinemas. Para quem não sabe, essa obra trata de um rapaz, interpretado por James McCavoy, que tem 23 personalidades distintas, o que cai como uma luva também quando o assunto é Mike Patton e seus inúmeros projetos musicais. Cada novo trabalho que faz tem algo de distinto e nunca soa como mais do mesmo. 

Quando surgiram as primeiras informações na mídia que o carismático vocalista do Faith No More estava unindo forças com lendas vivas como Dave Lombardo (Slayer, Suicidal Tendencies) e o insano baixista Justin Pearson (Locust, Some Girls, Retox), já era de se esperar que seria a personalidade mais hardcore de Patton quem daria as caras desta vez - o que não se esperava era que fosse ser ainda mais barulhento que as expectativas!

Logo nos primeiros acordes da caótica faixa de abertura "Seizure and Desist", a sensação que temos é que uma galera pogando violentamente vai sair de trás das caixas de som e nos atropelar, tamanho é o caos que impera - lembrando bastante bandas como o Dillinger Escape Plan (que por sinal já gravou um EP com Mike). Esse é um momento onde o nível de energia chega no pico, mas não é o único: "Idiopathic" é uma pauleira que remete ao bom tempo do crossover de conjuntos como o D.R.I. e o surpreendente cover de "Bela Lugosi's Dead" do Bauhaus chama a atenção justamente por destoar completamente do resto do álbum, mas mesmo assim não soa deslocada.


O ponto negativo é que justamente por Patton ter se cercado de músicos tão anárquicos e criativos quanto Lombardo e Justin Pearson, era de se esperar que a coisa fugisse um pouco da zona de conforto deles. Como se sabe, Patton entrou aos 45 do segundo tempo em campo (a ideia inicial era que Gabe Serbian, que também fez parte do Locust, fosse o vocalista) e já chegou com tudo praticamente pronto, só colaborando com as letras. Ainda assim, parece que ele e o guitarrista Michael Crane (responsável pela lindeza que são os riffs de porradas como "Obedience School" e a fantasmagórica "Shillelagh") são os responsáveis pelo pouco de original que temos no resultado final. 

Na maior parte do tempo, parece um trabalho até mesmo preguiçoso, onde algumas faixas soam bem parecidas entre si e que não trazem nenhum diferencial ou acrescentam algo aos vastos currículos dos respeitados integrantes da banda (aliás, é consenso que Dave Lombardo é um dos maiores bateristas do mundo, não é?). Mesmo assim, é bom ouvir Mike Patton novamente com sangue nos olhos - lembrando a época em que ainda era um moleque insano que gravava sua própria crise de dor de barriga no primeiro disco do Mr. Bungle.

Mesmo com a já citada falta de criatividade, 'Dead Cross' não é um álbum ruim, MUITO pelo contrário. Só não é também tão genial quanto boa parte da crítica vem apregoando por aí. É apenas um disco furioso e competente no que se propõe. E isso que já está de ótimo tamanho, não acham? Podem cair dentro sem medo!

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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