Linkin Park abandona guitarras e soa quase irreconhecível em 'One More Light'

Foto: Divulgação
Linkin Park apostou no pop comercial em seu novo disco, 'One More Light'
LINKIN PARK
"One More Light"
Warner Bros Records; 2017
Por Bruno Eduardo


Quando falamos de Linkin Park, a primeira coisa que vem à cabeça é o som fundido de guitarras pesadas, pianos e vocais rap que conquistou o planeta nos megahits "In The End", "Crawling" e "Faint". No entanto, quem acompanha a banda de perto sabe que eles não se prendem muito a um estilo e costumam se arriscar em outras trincheiras - do eletrônico ao hip hop. Ainda assim, é bom adiantar que 'One More Light' não reserva nada daquela banda visceral que você conheceu um dia. 

Em entrevista exclusiva ao Rock On Board, o guitarrista Brad Delson já tinha antecipado que o novo disco seguiria um caminho diferente do que estávamos acostumados, e, que ele seria um reflexo do que é a banda nos dias de hoje. Aliás, o Linkin Park sempre gostou de sugerir novas direções musicais ao mercado e nunca decepcionou nas vendas, o que garante ainda mais essa moral de fazer o que der na telha. Só que diferentemente do que fizeram em 'A Thousand Suns' (2010) - esse sim, um disco arriscado, pela sonoridade quase experimental - a banda resolveu abandonar as guitarras para fincar sua bandeira no pop mercadológico, incluindo no pacote alguns convidados "escolhidos a dedo", como a cantora Kiiara e dois nomes do rap e hip hop da atualidade, Pusha T e Stormzy. 

No entanto, sem desmerecer a qualidade inquestionável do grupo em produzir boas canções pop, a impressão que fica ao ouvir este álbum é que eles poderiam ser facilmente confundidos com qualquer um desses artistas que invadem o mercado da música com suas canções feitas apenas para entrar nas programações comerciais. Tanto que para escrever "Heavy", eles se juntaram a Justin Tranter e Julia Michaels, responsáveis ​​por singles de sucesso de artistas como Demi Lovato, Selena Gomez e Jason Derulo. Com isso, não é exagero dizer que 'One More Light' é um disco pop simplório e  que corre o risco de ser facilmente esquecido. 

"Nobody Can Save Me", que abre o disco não nega a capacidade do grupo em criar melodias realmente boas, principalmente amparado na ótima performance de Chester Bennington. O mesmo acontece em "Sorry For Now" (dessa vez com Shinoda dando as cartas). Mas o fato é que as músicas parecem todas iguais, já que não há qualquer inclusão de elementos marcantes - característica essa, que fez do Linkin Park uma peça diferenciada no monótono rock mainstream dos anos 2000. O álbum realmente carece muito da energia latente que o grupo costuma mostrar em seus shows. Não há gritos selvagens de Chester Bennington, nem os riffs graves de Brad Delson. Até o DJ Hahn desaparece sob um brilho de estúdio texturizado. O mais próximo que eles chegam do "feeling linkin park de ser" é em "Talking to Myself", comandada pela bateria viva de Rob Bourdon e que tem algumas pitadas de Brad Delson. De resto, 'One More Light' se preocupa apenas em realizar canções modelo para o topo das paradas de sucesso ("Battle Symphony" e "Invisible") e confissões sinceras ("Sorry for Now" e "Halfway Right") que acabam no fim das contas soando como um mix de The Chainsmokers com Twenty One Pilots.

Eu sei, é duro criticar uma grande banda por tentar fazer algo diferente. E antes de qualquer questionamento, o problema não é ser pop e não ser mais aquela mesma banda que se tornou fenômeno de vendas no início do século. O tempo passa e é natural - e até mesmo saudável - que o artista seja honesto com a sua obra. Ninguém quer se tornar cover de si próprio. Mas a questão aqui, é que essa nova fase não adiciona nada de importante ao legado artístico do grupo, e acaba soando como uma aventura de momento. E mesmo para aqueles que defendem o disco, por ele ser um conjunto de canções pop muito bem feitas, digo que há músicas pop muito melhores em outros discos do Linkin Park. Faltou o algo mais.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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