Discos: Não Alimente Os Animais (Não Alimente Os Animais)

Foto: Divulgação
Primeiro disco da Não Alimente os Animais é uma viagem aos anos 70
NÃO ALIMENTE OS ANIMAIS
"Não Alimente os Animais"
Retrola Discos; 2017
Por Bruno Eduardo

Não há muita discussão quanto a isso. A década de setenta continua sendo até hoje o período mais influente do rock and roll desde que o mundo é mundo. A maior prova disso, é que mesmo beirando a meia década de evolução planetária, com metamorfoses culturais irreversíveis, há uma quantidade considerável de artistas que continuam investindo pesado na manutenção de suas principais referências, que sempre passeiam entre nomes mitológicos como Jimi Hendrix, Led Zeppelin e toda aquela gangue de doidões geniais que mudou o mundo da música, iniciando assim um culto que perdura até os dias de hoje. 

Sendo assim, podemos dizer que ainda há muita gente surfando nessas ondas. Na atualidade, o maior exemplo dessa reprodução em nível mundial é o grupo americano Rival Sons [que inclusive esteve no Brasil em dezembro abrindo a turnê do Black Sabbath]. Bem, mas você não precisa ir tão longe para beber em novas fontes setentistas. Basta ouvir o disco de estreia da banda Não Alimente Os Animais, que nada mais é que uma cartilha fidedigna ao gênero. Qualquer desavisado poderá jurar que este trabalho foi concebido há uns 40 anos atrás - sério mesmo. O álbum, homônimo, reserva ainda uma das capas mais legais dos últimos tempos. Com fotografia de Rayza Roveda, a arte que emoldura o disco traz os integrantes da banda com máscaras de animais, prestes a iniciar um banquete.

A hendrixiniana "It's Gonna Be This Way (On My Mind)", que abre o disco, é uma síntese enxuta, mas certeira. Com riff marcante, solos limpos e melodia afinada, a canção é daquelas que tocam de boa nesses bares esfumaçados, regado à cervejas e discos de vinis. Para quem pensa que o grupo só banha seu som em grupos gringos, "Have No Feelings Inside", é um desmentido enfático. Cheio de vocalizações divinas, a faixa remete ao lado "Racional" do saudoso Tim Maia. Porém, quando se fala de anos 70, pouca coisa faz tanto sentido quanto os teclados preeminentes da cósmica "And I Try" e a manipulação sonora de "King Kong" - que surpreende os ouvidos com sua mudança andamento e gargalhadas assustadoras. 

Mesmo que o som do baixo pareça evidentemente abafado em algumas partes do trabalho (como por exemplo em "Un Espejo En Cada Mirada") e que a proposta da banda dê a impressão que cantar em português não é a melhor opção ("Náufragos Pertos dos Cais"), podemos afirmar de forma categórica que não há números dispensáveis nesse debut do quinteto e todas as faixas conseguem soar deliciosamente saudosas e cheias de feeling (principal elemento para funcionalidade desta receita). Uma coisa é certa: os espíritos do rock sideral já abençoaram esta obra. Que venha logo o segundo trabalho!

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

1 Comentários

  1. "Qualquer desavisado poderá jurar que este trabalho foi concebido há uns 40 anos atrás". Me identifiquei, porque aconteceu comigo. Aí, comprei o CD, virei fã. Baita sonzeira!

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