Sobre Pink Floyd e a arte incrível de The Dark Side Of The Moon

Pink Floyd / Dark Side Of The Moon
Capa de Dark Side Of The Moon, uma das mais belas da história
Por Bruno Eduardo

Cobiça, insanidade e envelhecimento. Há pouco neste mundo que se compare aos sentimentos de ansiedade e tranquilidade despertados por uma composição musical. Há quase 44 anos, o Pink Floyd conseguiu fluir uma obra através de sua própria alma - fugaz dentro e fora de sua consciência, exigindo atenção e, lentamente, permitindo que seus complexos padrões de ritmo se perdessem em uma atmosfera turva, mas espessamente sonora. 

De fato, The Dark Side Of The Moon é uma arte incrível!

O álbum foi originalmente lançado no dia 1º de março de 1973, um ano maravilhoso para se estar vivo, acredito. As paisagens nebulosas, expressas nesta obra musical, serviram como um cenário perfeito para perceber detalhes mundanos que corriam nos ventos da globalização, que engatinhava lentamente. Com 10 brilhantes movimentos, incluindo uma abertura, uma elegia e estilos psicodélicos neo-barroco, The Dark Side Of The Moon, estranhamente, acabou por figurar entre os discos “fáceis” do Pink Floyd, e talvez por isso, é também o predileto entre quase todos os amantes do rock, e da música em geral.

Relógios tiquetaqueando de forma eloquente, sons de uma caixa registradora, riso enlouquecido e vozes podem ser ouvidas ao longe, juntamente com os talentos vocais de Clare Torry. Toda a loucura de Syd Barret está expressamente exposta, mesmo que sua presença física não se fizesse. Após a saída de Syd, totalmente tomado por sua insalubridade mental, o grupo resolveu dar novos rumos à sua arte, com letras mais pessoais, de abordagem mais específica, e uma diminuição considerável pelas passagens instrumentais – que em outros álbuns chegavam a durar dez, vinte minutos. 

Em 1972, 'Dark Side Of The Moon' acontecia colateralmente ao disco Obscured by Clouds. Após o lançamento do genial Meddle (1971), a banda já tendia a uma nova proposta, que acabou sendo trabalhada de forma paralela, e que rendeu vários testes ao vivo. Tanto que o disco acabou sendo gravado em mais de uma sessão, num intervalo de quase um ano de concepção artística e engenhosa.

'Dark Side Of The Moon' foi produzido por Alan Parsons - que já tinha trabalhado com a banda no disco Atom Heart Mother. O disco foi concebido no Abbey Road Studios, localizado na cidade de Londres, entre 1972 e 1973. A vontade de inovar ultrapassou todos os limites, inclusive no aspecto financeiro, já que a produção foi uma das mais caras da história. Mas deu certo. Ele vendeu mais de 50 milhões de cópias no mundo inteiro e rendeu alguns dos maiores clássicos do grupo, como “Time”, “Money”, “Us And Them” e "The Great Gig in the Sky". O disco ainda ficou mais de 700 semanas no topo das paradas da Billboard.

Fora todo o sucesso comercial que envolve o disco e sua relevância artística, existe ainda uma lendária e curiosa relação com o clássico dos cinemas “O Mágico de OZ”. No fim dos anos 90, começaram a circular vários boatos de que se o disco fosse tocado de forma simultânea ao filme original, de 1939, era possível notar várias correspondências entre as duas artes. O grupo já declarou que tudo não passava de mera coincidência, já que na época, não existiam vídeo-gravadores. Outra curiosidade sobre 'Dark Side Of The Moon', é que a banda quase desistiu do título - por ele ser homônimo a um trabalho da banda Medicine Head, lançado em 1972. O álbum iria se chamar 'Eclipse', mas como notaram o insucesso do Medicine Head, resolveram manter o título original. Já em 2010, a banda Flaming Lips resolveu prestar sua homenagem ao clássico, e regravou o disco na íntegra – mantendo o título original.

A capa do álbum que acompanha o vinil de 'The Dark Side Of The Moon' é verdadeiramente uma manifestação da capacidade criativa, que latejava nesse momento de transição do grupo. O design é maravilhosamente simples. Uma luz que entra no prisma da esquerda e é refratada em um belo arco-íris. A cor é uma parte de tudo - simbolizando beleza e revolta - e o prisma representa a luz do sol, que nada mais é que uma combinação de todas as cores radiantes.

Em 'The Dark Side Of The Moon', o Pink Floyd tentou descrever em alguns minutos, todos os grandes mistérios da confusa existência humana dentro de mentes descontroladas e em conflito externo contra uma sociedade igualmente incompreendida. No entanto, é incrível saber como ele continua tão atual e igualmente inovador nos tempos atuais, onde pessoas continuam cada vez mais lutando contra doenças sociais, motivadas quase sempre pelo capitalismo selvagem - tanto criticado pela banda nos anos setenta. 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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