Ratos de Porão sobre os 25 anos de Anarkophobia: 'disco que representa o final de uma era!'

Foto: Capa de Anarkophobia (RDP)
Capa de Anarkophobia, mais um trabalho assinado por Marcatti
Por Bruno Eduardo

O ano de 1991 não foi marcado apenas pelo grunge. No Brasil, muita coisa acontecia. O Sepultura lançava Arise, o Korzus saía com Mass Illusion e o Ratos de Porão se sustentava de vez no grande mainstream com Anarkophobia. Após o sucesso de Brasil (lançado em 1989), a expectativa dos fãs era enorme por algo parecido. "O Anarkophobia é um disco que vendeu para cacete. Que tinha uma expectativa grande quando foi lançado. Fora isso, a gente tinha uma maior exposição na mídia também por pertencer a uma gravadora grande na época (Eldorado). Mas a gente nunca gostou de se repetir. Por isso o disco veio da forma que tinha que vir", afirma Jão, guitarrista da banda, em exclusiva ao Rock On Board.

Para muitos fãs, Anarkophobia é um divisor de águas na carreira do Ratos por possuir uma maior influência do thrash. Jão acredita que a maior importância do álbum se dá pelo motivo de ser o último trabalho em seqüência de uma formação que marcou história. "Este disco representa o final de uma era importante em nossa carreira. Não sei se podemos dizer que ele é um divisor de águas no aspecto musical. Mas ele é certamente o último de uma fase muito relevante para o Ratos". 

Outro fator importante, é que a partir desse disco a banda passou a conviver com um novo público em seus shows. Além dos fãs antigos, o público headbanger também passou a acompanhar mais os trabalho do Ratos de Porão. "Acho que o nosso público cresceu num todo né?", diz Jão e completa: "Foi perceptível que o público do metal começou a seguir a banda. A molecada do hardcore sempre teve junta e uma parte do público punk, mais maleável, que entendeu qual era do nosso som, também". O guitarrista sabe que a banda perdeu alguns seguidores por se distanciar do punk inicial, mas para ele, isso foi visto de forma normal pelo grupo e não incomodou. "Lógico que teve uma galera mais ortodoxa que torceu o bico para o disco. Mas a verdade é que já estávamos acostumados. Desde a época do 'Crucificados Pelo Sistema', quando a gente apareceu com uma proposta mais hardcore, até mesmo no 'Descanse em Paz', quando trouxemos uma mistura de metal com punk, já tinha gente torcendo o bico. Se a gente fosse esquentar com isso, não faríamos nada de novo, com medo de desagradar alguém".

Em Anarkophobia, a tendência ao metal é evidente. Tanto que foi um disco aclamado na cena banger. Músicas como "Contando os Mortos" e principalmente "Mad Society" trazem os riffs clássicos do gênero, com uma levada mais arrastada que o habitual do Ratos. Para Jão, o fato das músicas serem mais longas, acabou influenciando no resultado final do trabalho. "É evidente que teve uma mudança ali em nossa sonoridade. As músicas tinham uma maior duração, e isso acabou fazendo dele um disco único em nossa discografia". Mesmo assim, o punk continuava presente na mensagem do grupo. É impressionante como algumas letras ainda soam tão atuais. Caso de "Igreja Universal" e "Escravo da T.V.", que até hoje são temas polêmicos nas redes sociais. O guitarrista, no entanto, não vê isso com muita empolgação. "É triste que as letras ainda continuem atuais nos dias de hoje. Isso só mostra que o Brasil parece não ter evoluído tanto. Alguns acontecimentos recentes provam que ainda estamos vivendo um período de alienação completa e lamentável".

Assim como nos discos "Cada Dia Mais Sujo e Agressivo" e "Brasil", Anarkophobia também possui uma versão cantada em inglês. Os formatos traduzidos foram criados apenas para que o público gringo conseguisse entender o que de fato eles estavam dizendo nas letras, já que o tema de protesto era algo que eles não queriam perder. Mas a banda prefere as versões originais, em português. Jão diz: "O problema é que você tem que traduzir algumas coisas que são realmente intraduzíveis. E elas ainda precisam estar encaixadas com a métrica das músicas. Para dizer a verdade, eu não gosto muito dos discos do Ratos em inglês, com exceção do 'Just Another Crime in', que é um disco originalmente em inglês e que não precisou ser traduzido". O guitarrista acredita que se tivesse que fazer isso nos dias de hoje, faria apenas a tradução no encarte mas manteria a gravação com as letras em português, que segundo ele, é o forte do Ratos de Porão.

Na dia 11 de dezembro, o Ratos de Porão vai comemorar os 25 anos de Anarkophobia tocando o disco na íntegra no festival Maniacs Metal Meetings, que acontece na Fazenda Evaristo, em Rio Negrinho (SC), e reunirá nomes como Krisiun, Vulcano, Tuatha de Danann, Violator, Hibria e mais 23 atrações. Fãs de várias cidades como Curitiba (115 km), São Paulo (518 km), Porto Alegre (619 km), Rio de Janeiro (965 km) e Belo Horizonte (1.140 km) já estão preparando excursões.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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