Antes de show no Rio, Cachorro Grande fala com exclusividade ao Rock On Board

Foto: Divulgação
Cachorro Grande faz show de lançamento do novo disco no Rio de Janeiro
Por Bruno Eduardo

O sucesso do disco "Pista Livre", em 2005, fez da Cachorro Grande uma referência no cenário rock nacional. Na época, músicas como "Você Não Sabe O Que Perdeu" e "Sinceramente" foram executadas a todo vapor nas rádios e seus clipes eram exibidos diariamente na MTV. Com quase vinte anos de estrada, os gaúchos lançaram oito discos de estúdio e dividiram palco com os maiores nomes do rock mundial - mais recentemente, os Rolling Stones. Atualmente, seguem divulgando seu novo disco, Electromod, que traz um maior investimento na mistura de rock com música eletrônica. O grupo tem um show marcado no Rio de Janeiro, dia 7 de outubro, no Imperator, em noite que ainda terá a abertura do Defalla. Para falar mais sobre essa nova fase e sobre o show no Rio, batemos um papo com o baixista Rodolfo Krieger, que pode ser conferido com na íntegra, nessa exclusiva ao Rock On Board.

O Electromod é um disco que vem chamando a atenção por ter a música eletrônica como principal influência. Fale um pouco dessa proposta em entrar de vez nessa sonoridade.

O Electromod é uma sequência de uma trilogia que a gente tá fazendo de música eletrônica que começou no "Costa do Marfim", onde entrou o Edu K para produzir. A intenção era fazer um som mais com aquelas batidas de Manchester, das bandas que a gente gosta, como The Stone Roses, Happy Mondays e toda aquela cena que rolou na Inglaterra nos anos noventa. O processo de composição deste álbum começou logo depois que a gente terminou o Costa do Marfim. Só que nós mudamos um pouco a maneira de compor. Antes a gente entrava no estúdio, ficávamos ensaiando e só tínhamos o trabalho de captar o melhor som na hora da gravação. Mas nesse, a gente partiu para o lado de cada um fazer as suas demos em casa, trabalhando em seus computadores, mexendo nos efeitos. Mas se você pegar na carreira da Cachorro Grande, vai ver que Desde o Pista Livre a gente já vinha flertando com esse tipo de música, como por exemplo, canções como "Desentoa" e "Velha Amiga". Então foi basicamente isso. Mas neste disco a gente pensou um pouco mais nas músicas para o show. Então a gente fez questão de deixar as canções mais pesadas e mais orgânicas. 

Esse pensamento em fazer músicas mais curtas também foram um reflexo da turnê anterior? Já que as músicas eram mais longas no Costa do Marfim...

Não. O lance, é que na turnê do Costa do Marfim as músicas eram muito psicodélicas e viajandonas e a gente decidiu dar uma pesada. Não foi nada a ver com não ter dado certo na turnê anterior, pelo contrário. A turnê foi ótima e a gente continua tocando as músicas do Costa do Marfim. E sobre a duração das faixas, não foi nada pensado. Tipo quando a banda faz música curta pensando em tocar na rádio, por exemplo. A gente nem toca em rádio. Então não teve essa preocupação. Então aconteceu naturalmente. Elas ficaram do tamanho que precisavam. Não existiu nenhuma regra para isso.

E como se deu essa escolha do Edu K em produzir os discos?

Na verdade a gente sempre quis trabalhar com ele. Isso é uma coisa que a gente já vem conversando faz tempo. Só que o Edu K é aquele cara que faz duzentas mil coisas e as agendas nunca batiam. Só que acabamos encontrando com ele aqui em São Paulo quando a gente já estava com as demos do Costa do Marfim. Então conseguimos conversar sobre o projeto e no fim, casaram-se as datas. Posso dizer que foi sensacional! Trabalhar com ele foi uma das experiências mais incríveis que eu tive na vida. Nós somos fãs de todas as coisas que ele faz. Ele tem um conhecimento musical muito amplo e foi um namoro que deu certo.

E no Rio vocês ainda vão tocar juntos...

Putz, além de aturar o Edu K dentro do estúdio, agora vou ter que aturar ele no camarim enchendo o saco (risos). Cara, vai ser do caralho! Cachorro Grande e Defalla no Rio de Janeiro. Eu sempre acompanho nas redes sociais e tem uma galera pedindo para a gente fazer essa dobradinha desde que rolou a parceria do Edu K com a banda, produzindo o Costa do Marfim. Nós fizemos um show juntos em Porto Alegre e foi sensacional. Além disso, o Defalla lançou um disco lindo demais! Vai ser o máximo! Vou ficar bebendo cerveja até de manhã. Tomara que role mais shows com essa dobradinha. Imagina uma turnê com essas duas bandas, que máximo que iria ser!

Vamos falar sobre a letra da música "Electromod". Ela gerou polêmica por ter citado o PT e outras questões ligadas ao momento político. Qual era a real intenção da banda com esta mensagem? Vocês realmente queriam atacar algum grupo específico?

Nós citamos o PT, mas poderíamos ter citado todos os partidos. Essa letra não ataca um grupo só. Ela ataca vários. A gente foi mal interpretado nessa música. As pessoas andaram falando que a gente era de direita, anti-esquerda, e na verdade a gente não é de direita e nem de esquerda. O Brasil está uma merda! A gente sabe o que rolou foi um golpe mas mesmo assim a gente também não estava feliz com o governo Dilma. Mas ela não é uma música política, assim como as pessoas pensam. Ela fala de um personagem, que vai na passeata bater selfie, que não está nem ligando para os problemas do mundo e só está interessado em aparecer. A letra fala de uma geração que não está preocupada com nada a não ser com seu umbigo na internet. Não é uma letra política. É uma sátira. Por isso, nao é um ataque a um lado específico. Mesmo porque, nós respeitamos as pessoas que lutam pelo nosso país, independente do que elas acreditam. As pessoas é que levaram muito a sério essa letra. Não é para levar o Cachorro Grande tão a sério assim. Nós somos apenas um bando de bêbados.

Você acha que é por causa desse medo em ser mal interpretado que as bandas de rock andam cada vez menos expressando uma opinião?

Pois é. É complicado falar sobre esse assunto. Mas o rock anda muito careta ultimamente. Eu não tenho mais visto tantas bandas botando para fuder, falando suas opiniões, porque tá rolando uma coisa muito do politicamente correto, que irrita, saca? Você não pode falar mais nada hoje em dia. Foi como aconteceu com a gente em "Eletctromod". Fomos apedrejados por fazer uma sátira. Hoje em dia você não pode fazer uma piada, não pode reivindicar nada. Todo mundo tem medo de tudo. Por isso está essa bundamolice na cena. Eu não acho que as bandas precisam ficar o tempo todo reivindicando alguma coisa, como Rage Against The Machine, por exemplo. Mas eu acho que falta um pouco as pessoas levantarem a bunda da cadeira. Principalmente no momento que o país vive, que é uma merda, diga-se de passagem. É um país que não tem direito a democracia, que sofreu um golpe, que está quebrado, que tem um monte de político roubando. O Brasil está dividido ao meio, com todo mundo brigando. E para variar, agora tem um louco no poder, que cada dia vem sancionando uma lei mais absurda que a outra. Acho que as pessoas precisam se unir, inclusive as bandas e artistas, que bem ou mal, possuem uma vez e precisam se expressar. É um momento assustador que vivemos.

Você tiveram três selos diferentes nos últimos três discos. Como a banda trata esse assunto? Rola uma complexidade ainda para ter um álbum distribuído, mesmo se tratando de uma banda veterana?

Cara, a gente vai transitando. Na verdade a gente vai se modelando às situações que vão aparecendo na nossa vida. A gente teve uma relação muito boa com a Trama, com a Olele foi legal também e nosso tempo na Deck também foi do caralho, só que deu o tempo que tinha que dar. Agora a gente está com a Coqueiro Verde, que vem cumprindo com o combinado e tem sido ótima. Vamos torcer para que esse namoro dure bastante. Mas é sempre bom dizer que os nossos discos são independentes.

Nunca pensaram em aderir ao crowdfunding?

A gente acha do caralho. Mas pensamos que agora não seria o momento de fazer alguma coisa nesse formato. Atualmente a gente não faria nada nesse sentido. Mas daqui a algum tempo, se surgir alguma ideia que sinta a necessidade, não vamos ter problemas nenhum em fazer dessa forma.

E como vocês enxergam esse novo mundo, de distribuição virtual, com streaming dominando?

Eu acho um barato tudo o que tá rolando. Esse lance da internet, das bandas se aproximarem. Tem cada vez mais bandas, cada vez as pessoas tem mais acesso à música. Antigamente para a gente conseguir um disco era um inferno e agora você dá um clique no spotify e tem tudo. Hoje as bandas podem se lançar pelo facebook, podem fazer seu site, divulgar seu som. Antes você dependia só das FMs para tocar sua música. Eu acho que está formando uma nova cena com pequenos festivais. Tem muita gente se juntando. Eu tô achando isso do caralho! Espero que saiam boas bandas daí. Já estão saindo né? Tem muita gente boa. Estou super orgulhoso com o que está acontecendo. Espero que cada vez tenham mais espaços para as pessoas divulgarem sua arte.

A Cachorro Grande sempre teve como uma das principais referências os Rolling Stones. Diga como foi abrir para os Stones em Porto Alegre? Deu para tietar?

Cara... Eu não tenho palavras para descrever... Foi uma realização de um sonho da nossa vida... Foi a coisa mais incrível que aconteceu! A gente ficou uma meia hora com eles no camarim trocando ideia. Os caras são gente fica para caralho. Só sei que ainda não caiu a ficha. Às vezes acordo de madrugada lembrando daquela cena... E a gente ainda fez isso dentro da nossa casa. A galera de Porto Alegre, que está conosco desde o começo, apoiou muito a banda nesse dia, já que eles viram que a gente tava muito nervoso. Cara... Foi incrível!

No ano passado, o disco Pista Livre completou dez anos de lançado. Inclusive saiu uma edição especial em vinil. Como vocês enxergam a importância desse trabalho na carreira do Cachorro Grande?

Temos um mega carinho por ele. Afinal, foi o disco que nos projetou nacionalmente e o nosso primeiro por uma gravadora nacional. Para mim, particularmente falando, ele é muito importante por se tratar da minha primeira turnê com a banda, mesmo eu não tendo gravado o disco. Eu excursionei em toda turnê do Pista Livre. E ele é todo cheio de hits, né? As músicas desse disco tocaram bastante na MTV, principalmente "Bom Brasileiro", "Desentoa", "Você Não Sabe O Que Perdeu" e "Sinceramente. Tanto que a gente toca umas quatro ou cinco músicas dele nos shows. É um disco que vai estar aí para sempre.

Então você tocou naquele fatídico show do Claro Q É Rock 2005? Lembro que o show de vocês foi bem legal, mas o festival teve um monte de problemas aqui no Rio... 

Sim! Eu recém tinha entrado na banda. Cara, tocar com Iggy Pop foi sensacional! Mas eu me lembro que deu problema para caralho mesmo. Acho que esqueceram um caminhão de som... Uma mega confusão. Mas no fim deu tudo certo para nós.

E como vai ser esse show no Imperator? Vocês vão priorizar o disco novo?

Sempre que a gente lança um disco a gente dá ênfase para ele. Nós vamos tocar umas quatro ou cinco músicas do Electromod e alguma coisa do Costa do Marfim também. Mas a gente toca todos os nossos hits. Tem música que não dá para ficar de fora, como "Deixa Fudê", "Lunático", "Que Loucura", "Dia Perfeito"... Então a gente faz um apanhado dos nossos clipes, hits e de nossa carreira. Mas nós somos uma banda meio displicente em cima do palco e tocamos o que dá vontade na hora. Sempre aparece alguma surpresa, ainda mais sendo no Rio de Janeiro.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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