Discos: Deftones (Gore)

Foto: Divulgação
Deftones mantém a inspiração que consagrou a banda na década passada
DEFTONES
Gore
Warner Music; 2016
Por Bruno Eduardo



O Deftones chega ao seu oitavo trabalho de estúdio com mesma pegada que marcou seus trabalhos mais inspirados. A única diferença deste para os outros, é talvez a motivação do grupo em sua caminhada. Desta vez, eles escolheram economizar nos riffs grudantes e se concentraram na junção de uma química honrosa entre melodia e texturas. Aqui, o peso, a poesia e a melancolia caminham juntas e de forma não-econômica.  

Se nos dois discos anteriores (Diamond Eyes e Koi No Yokan) o Deftones já tinha chegado próximo da fórmula consagradora de White Pony, em Gore a coisa fica mais profunda. Tanto que tem fã dizendo por aí, que o disco é uma cópia do Palms, projeto paralelo de Chino Moreno - o que não chega nem perto de ser verdade. Hoje, o Deftones caminha como poucas bandas no que se diz respeito a criação musical e estética no rock. A banda segue de forma muito mais intuitiva do que planejada, e constrói progressivas colchas de retalhos melódicos, que por muitas vezes beiram à melancolia, é verdade. Mas que também chega a ser assustadoramente brutal. 

Em Gore, o grupo traz a sua considerável exploração sonora, protegida por uma parede maciça de guitarras (mais limpas que de costume) do talentoso - e subestimadíssimo - Stephen Carpenter. O guitarrista, que chegou a mostrar certo incômodo sobre a direção musical do grupo em algumas entrevistas, acerta em cheio nas escolhas de texturas, como pode ser conferido nas palhetadas deleitosas de "Acid Hologram" - uma das melhores do disco. No entanto, ele também tem espaço para mostrar sua veia metal em "Doomed User", que além de arregaçar no peso, não economiza nos acordes abertos - uma de suas marcas registradas. 

O disco abre com "Prayers / Triangles", que inclusive foi escolhida como primeiro single e já tem clipe rodando na web. Além de magnífica, a faixa consegue um fato raro, que é resumir em poucos minutos o padrão da banda neste novo trabalho. Mais intricadas e igualmente deslumbrantes, "Geometric Headdress" e "Pittura Infamante" chegam perto dessa condição de revelar a pedra, mas se apoiam principalmente na receita funcional do disco anterior, com direito à levadas particulares do baterista Abe Cunningham e vocais brilhantes de Moreno.

É bom ressaltar, que neste novo trabalho a banda decidiu não dar continuidade ao produtor Nick Raskulinecz (que gravou os dois últimos discos do grupo) e optou por Matt Hyde, que já trabalho com bandas do gênero, como Slipknot, Machine Head e Bullet For My Valentine. Essa experiência acabou garantindo texturas mais densas, como na arrastada "Acid Hologram" e trouxe um investimento na cartilha lapidada do novo metal. Por exemplo: a berraria dos velhos tempos - representada em discos como Around The Fur (1997) - ressurge de forma moderada em "Xenon", e o nu-metal é enfim reciclado no peso atmosférico da faixa-título, "Gore". Isso tudo pode ser considerado reflexo da influência de Matt na direção do álbum. Desse conjunto irrotulável, "Hearts / Wires" até causa a impressão de estar desconectada da proposta, mas ressurge de forma impetuosa entre os falsetes de Chino Moreno e a levada atmosférica do "descontente" Carpenter.

Embora hajam alguns resquícios de sua origem tribal, o Deftones segue cada vez mais embriagado em fontes de bandas como Radiohead e Depeche Mode - comprovado na  "achatada" mas igualmente brilhante "Phantom Bride". Porém, o que podemos dizer hoje, é que enfim a banda parece ter encontrado algo que muitos procuram durante toda a carreira: estabilidade criativa. Discaço.  

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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