Songs For The Deaf - o melhor disco de rock dos anos 00's

Foto: Ilustração
O terceiro disco do QOTSA foi a pedra da salvação do rock 2000
Por Bruno Eduardo

De quantos em quantos anos podem surgir discos capazes de causar permanência fixa na pele do rock? 

Rústico, hipnótico e extremamente preciso, o terceiro álbum do Queens Of The Stone Age – que na época começava a se tornar a “nova salvação do rock” – possui uma sonoridade tão espiritualmente rock and roll, que chega a ser duvidoso o fato de não ter sido concebido em meados da década de setenta. 

Após receberem aclamação mundial em Rated R, muito pelo o sucesso do hino “Feel good Hit Of The Summer”, o QOTSA já ostentava a fama de representante do stoner rock. A banda, que era quase um projeto solo do excepcional Josh Homme, mantinha-se naquele momento apenas com Nick Oliveri (baixo), e contava com a participação de Mark Lanegan (Screaming Trees) atuando como um segundo vocalista. Mas o grande "achado" do disco foi a presença ilustre de Dave Grohl na bateria. Grohl afirmou na época, que esse era o seu melhor registro em estúdio desde Nevermind, quiçá a melhor coisa que ele fez na vida. 

O som é maciço, o caos é mais calculado. Riffs impressionantes, velocidade, e guitarras que cospem acordes e notas como uma máquina desgovernada. É cheio de clichês, de metal, mas eles sabem. Fazem exatamente o que os fãs esperam: usam o conhecimento estereotipado de rock em uma viciosa trilha. É fantástico, e não, não estou falando do disco inteiro. Isso é apenas a primeira faixa ("You Think I Ain't Worth A Dollar, But I Feel Like A Millionaire"). A canção seguinte, "No One Knows", é igualmente genial. Vocal fantasmagórico em harmonia, baixo pulsante e um Dave Grohl inspiradíssimo – atente ao solo de bateria no meio-fim da música. Mantendo um ritmo de marca-passo com uma guitarra esplendorosa, Homme passeia falsetes e uma melodia excitante. A voz do sujeito é extremamente peculiar – sutil, imponente e sacana. 

A inteligência mordaz do grupo, que permeia muitas das canções, acaba dando um ar de espontaneidade ao disco. Desde a guitarrinha surf-oscilante em "Another Love Song", e o ritmo cerebral de "Six Shooter" (que parece ser obra de alguma orquestra doentia), Songs For The Deaf demonstra variações musicais constantes. É de um entorpecimento sonoro altamente perturbador, que dá prazer pelo simples fato de ser... Delicado! Mas é rock! É talvez um dos poucos discos de rock – verdadeiramente falando, tradicionalmente constatado – que se teve notícia desde que o grunge se foi, e o nu-metal invadiu o mainstream. O grande mérito de Songs For The Deaf não é ser apenas um bom disco de rock, mas soar rock em plenos anos 2000 - onde ninguém mais queria ou conseguia ser - e mesmo assim alcançar a tão buscada originalidade. 

Para quem não sabe, a capa do disco mantém diferentes versões. A mais popular, que inclusive virou uma espécie de logomarca da banda, é o Q em forma de um óvulo sendo invadido por um espermatozoide. Há também vinis vermelhos com essa arte espalhados pelo mundo. Recentemente, a Ipecac Recordings (selo de Mike Patton) lançou uma versão do disco em vinil duplo, com uma música extra: “Bloody Hammer”. Na maioria das cópias, Songs For The Deaf é finalizado por uma divertida versão de “Everybody's Gonna Be Happy”, do Kinks.

Após esse disco, o Queens Of the Stone Age se despediu de Dave Grohl, e demitiu Nick Oliveri – várias versões pipocaram nos bastidores, mas a alegação foi mesmo das tais diferenças pessoais com Josh Homme. O grupo ainda gravou mais três trabalhos de estúdio: o também excelente Lullabies To Paralyze, o sujo - mas não tão brilhante - Era Vulgaris e o aclamado Like Clockworck

Embora não tenha sido um marco para o mercado (vendeu aproximadamente um milhão de cópias), Songs For The Deaf mantém até hoje uma extrema importância para a história do rock mundial. Afinal, nenhum disco representou tão bem o gênero na década passada como este lançado pelo Queens Of The Stone Age em 2002. 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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