Russel Allen brilha em noite de Adrenaline Mob, Noturnall e Republica no Circo Voador

Foto: Alessandra Tolc

Por Bruno Eduardo

O solo de bateria de quase dez minutos do tentacular Aquiles Priester - com direito à manjada "brasileirinho" - já fazia por valer o ingresso de cada um dos presentes no Circo Voador. Mas a noite de sexta-feira ainda reservaria um show vigoroso do supergrupo, Adrenaline Mob.

Garantidos pelo ótimo Men Of Honor, os americanos deram início aos trabalhos com "Mob is Back", seguida da igualmente forte "Let it Go", e de mais uma do mesmo disco, "Dearly Departed" - com direito a palmas da galera acompanhando o bumbo da bateria. A voz de Russel Allen já começava a fazer diferença em "Gets You Through the Night" - demonstrando uma rara capacidade em variar timbres. O estilo do cantor também chama a atenção. Segurando um taco de baseball e com visual gângster americano - jaqueta preta, correntes, óculos escuros e chapéu -, Russel parece mais um personagem do filme "Os Mercenários", de Sylvester Stallone, do que um cantor de hard rock. Sua presença no palco é ofuscante. Não bastasse sua condição técnica, ele se agiganta no meio de caras rodados como o batera convidado Chad Szeliga (Black Label Society), e Mike Orlando - que fritou sua guitarra em um momento de ostentação particular, carregada por um hit-combo de notas ultra-rápidas. 

A divertida "The Devil Went Down to Georgia", do ícone country Charlie Daniels (regravada mais tarde pelo Primus), fez o público dançar em grupinhos isolados - lembrando algumas performances de bandas punk-irlandesas. O Adrenaline Mob também fez uma versão à-la Living Colour para a "Snortin’ Whiskey" do canadense Pat Travers, e elevou a apresentação ao nível espiritual na homenagem póstuma ao baterista A. J. Pero - falecido recentemente. Para quem não sabe, Pero era baterista do Twisted Sister, e entrou na banda após a saída de Mike Portnoy. Para reverenciar o ex-integrante, o grupo fez uma versão comovente para "All On The Line" no formato voz e violão. "Essa música é para o meu querido Pero. Convivemos por pouco tempo juntos, mas ele era uma pessoa muito especial", disse Russel - visivelmente emocionado. Após mais uma versão desplugada - desta vez com "Crystal Clear" - o Adrenaline Mob voltou a esquentar os valvulados, chegando ao ponto alto da noite com o refrão arrasa quarteirão de "Undaunted" - cantada em uníssono pelos fãs. 

Para encerrar, um medley ao Sabbath - com citações à "Into The Void", "Sabbath Bloody Sabbath", e "The Mob Rules". Mas nem precisava.

Foto: Alessandra Tolc

Mesmo que a atração principal fosse o Adrenaline Mob, o Noturnall é que parecia ser o real dono da festa. Para se ter uma ideia, tanto a estrutura de palco quanto o merchan externo eram do grupo brasileiro - que vendeu um artefato completo do baterista Aquiles Priester na famosa "banquinha". Era possível encontrar luvas, publicações, e até mesmo o símbolo do músico - um polvo sinistro - como pingente de cordão. O show desta noite também marcava o lançamento do aguardado Back To Fuck You Up. Do novo disco, três músicas foram apresentadas, com destaque para a ótima "Fight The System" - com instrumental afiado e letra retirada dos Racionais Mcs. Talvez não fossem os problemas técnicos - principalmente no teclado de Junior Carelli - não seria exagero afirmar que o grupo poderia ter roubado a cena. "Zombies", do primeiro disco, teve seu refrão cantado pela galera, e "No Turn At All" foi responsável pela primeira roda de pogo da noite. Completamente extasiado por estar no palco do Circo Voador, Thiago Bianchi chegou a se emocionar logo na primeira música, e fez uma dedicação aos seus companheiros: "Eu sou fã desses caras aqui. Eles são os meus melhores amigos. Por isso que eu amo estar nessa banda". Após o já citado solo de bateria [leia no início da resenha], o Noturnall homenageou Dimebag Darrell, com o hino do Pantera, "Cowboys From Hell". Após mais uma música do novo trabalho, o grupo se despediu do público com a frase: "A gente se vê no Rock in Rio".

Foto: Alessandra Tolc

Republica é mais uma banda nacional que vai se apresentar no Rock in Rio deste ano - aliás, isso não é novidade para a banda, já que será a segunda vez consecutiva que eles tocam no festival. Aquecidos por seu terceiro disco de estúdio (Point Of No Return), o quinteto mostrou gás em quase uma hora de apresentação, e parece ter divertido o público com sua dose de rock and roll rústico. Com músicas calcadas em um hard rock padrão - com destaque para o ótimo Leo Belling -, eles misturaram canções próprias com algumas covers ("Enter Sandman" do Metallica, por exemplo). Novo na formação, o baterista Fernando Rensi parece ainda estar se adaptando ao ritmo da banda. Mesmo assim, não comprometeu o alinhado time de frente. Na parte final da apresentação, Junior Carelli (Noturnall) fez uma participação especial na versão confusa de "Supremacy" do Muse.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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