DISCOS: PAROLA (A PARTE NUBLADA DO CÉU)

PAROLA - A Parte Nublada do Céu

PAROLA

A Parte Nublada do Céu

Independente; 2015

Por Bruno Eduardo





Só não vê quem não quer. A cena rock carioca vive um momento de efervescência. Bandas sedentas e cheias de tesão estão transpirando arte por todos os cantos - de Piedade à Lapa, de Duque de Caxias à Barra da Tijuca. O resultado desse momento de inquietação você recebe em pequenos drops - seja nas mídias sociais, nos eventos independentes, ou nas redações. No meu caso, caiu no colo esse A Parte Nublada do Céu, disco de estreia do Parola - banda que bate cabeça desde 2010 nos becos cariocas. E já adianto: está aí um candidato aos melhores trabalhos do ano.

O som dos caras é o âmago do rock alternativo - com músicas diretas, vigorosas e cheias de atitude. Pedradas como "Prólogo" e  "Muda" são o modelo funcional e diminuto de um Foo Fighters - só que com letras carregadas por uma árida poesia. "É como um convite pra dançar / A graça está em não saber os passos de cor / O seu "sim" faz um passo, invente". A inserção introspectiva de "Aríete" apenas prepara os ouvidos para um combo de bateria e baixo nervosos, e guitarras que estapeiam os tímpanos mais sensíveis. A Parte Nublada do Céu é uma briga saudável entre o esporro e a melodia. Um exemplo disso é a ótima "Calos de Asfalto Quente", que começa numa levada marca passo, e de repente é impulsionada por guitarras que variam dos riffs metal aos acordes abertos e cheios de efeito. Destaque também para a interpretação de Igor Pestana. Sua voz é repleta de sentimento, o que dá força a refrões como: "O mundo nunca foi meu / O mundo todo é meu" (da já citada "Calos de Asfalto Quente") e "Vira lata que vira a pata na cara do bom e velho amor" (da faixa que abre o disco, "Ruído"). Em "Vanguarda", há um flerte com o rock modernoso de bandas como Incubus, onde vale citar também o excelente jogo de bateria, com pratos abertos e um baixo que canta junto.

A parte final do disco ainda reserva a levada pulsante de "A Última Valsa"; a letra cheia de auto-questionamentos em "Muda"; e o ritmo cadenciado de "Vinagre". Para quem ainda teima em dizer por aí que o rock nacional está mal das pernas, recomendo mais atenção aos becos embrionários do gênero. É lá que a coisa acontece de verdade. O disco de estreia do Parola é mais uma prova concreta de que o rock independente respira em qualquer lugar e tempo - até mesmo entre as nuvens negras, que dão o tom na belíssima capa deste álbum.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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