Sem surpresas, Anathema mostra disposição no último show da turnê

Foto: Evandro Camellini

Por Lucas Scaliza

A banda inglesa Anathema voltou ao Brasil com um único show em São Paulo. Se em 2013 o show fora no Carioca Club, dessa vez o local encontrado para recebê-los na capital paulista foi o Clash Club, na Barra Funda, cuja capacidade máxima era de 800 pessoas. Uma lotação bastante modesta que transformou o show em um evento VIP praticamente.

Pouco depois das 21 horas foi executada a faixa de abertura da Distant Satellites Tour, que após percorrer Europa e Estados Unidos chegou ao México, Chile, Argentina e Brasil. O repertório não teve surpresas de nenhum tipo. A banda seguiu o setlist que já havia apresentado em países vizinhos, dando bastante ênfase ao ótimo último disco, Distant Satellites e distribuindo o restante do repertório entre faixas de Weather Systems (2012) e álbuns mais antigos.

Abriram o show com “Anathema”, faixa que toma fôlego e explode em um grande e estridente solo de guitarra. Como o tecladista e pianista Daniel Cardoso assumiu a bateria da banda nessa turnê, Daniel Cavanagh, o guitarrista, precisou ao longo de todo o show se dividir entre a guitarra e o teclado. Com a ajuda de backing tracks (bases prontas para serem executadas ao vivo) e loopings, a falta do pianista pôde ser suprida, mas fica a sensação de que o show poderia ter sido ainda melhor se houvesse um músico naquele posto. Além disso, todas as orquestrações de estúdio foram disparadas ao vivo por um sistema pré-programado.


Na sequência, mandaram as partes 1 e 2 de “The Lost Song” e logo na sequência, como fizeram em todos os outros shows da turnês, emendaram com a ótima dobradinha “Untouchable 1 & 2”. O público respondia efusivamente, cantando junto, erguendo os braços e testando o fôlego junto dos vocalistas Vincent Cavanagh e Lee Douglas.

Músicas como “Thin Air”, “Deep” e as partes mais pesadas de “The Begining of the End”, “Closer” e “Distant Satellites” deram uma exata ideia de como é a dinâmica da banda ao vivo. Músicos que souberam transpor do estúdio para os palcos o crescendo de suas músicas e deram uma aula de dinâmica. Daniel e sua guitarra deram a agressividade necessária a apresentação.

Um show a parte foi o baterista Daniel Cardoso, conduzindo tudo com precisão e encarando com naturalidade todas as trocas de tempo de algumas músicas do repertório. “The Lost Song part 1”, por exemplo, é em 5/4. Já “The Lost Song part 3” alterna entre 4/4 e 5/4, criando uma sensação de quebra no ritmo, mas atenuada pela pegada fluente de baixo e bateria. Não a toa, antes de tocarem esta música, Vincent disse que seria uma canção estranha, mas que era bom experimentar e passar por aquilo ao vivo.

A vocalista Lee Douglas não ficou no palco o tempo todo e às vezes fazia apenas backing vocals. Mas brilhou em canções que demonstravam sua potência vocal e interpretação, como “Ariel”, “A Natural Disaster” e “The Lost Song part 2”.

No palco, a banda parecia incomodada, mas mostrou disposição e bom humor. Brincaram com a plateia, interagiram, conversaram bastante. Daniel aprendeu a falar “Saúde!” em português. Vicent mandou um “E aí, Brasil, tudo legal?” bastante fluente. No entanto, a certa altura do show, o vocalista perguntou se o público gostava do Clash Club. O público não queria desapontar a banda, mas também não queria mentir, e o músico percebeu que o local não era dos mais animadores. Ele se desculpou e disse que não era a banda que escolhia sempre o lugar, mas que a equipe do Anathema trabalhou duro para montar o melhor show possível no Clash Club. Em outro momento, Vicent disse que o show em São Paulo era o último da turnê e que tudo que poderia dar errado estava mesmo dando errado, mas a banda não estava ligando.

O som ficou bastante saturado em grande parte do show. Guitarras distorcidas estavam bem altas e até pianos, teclados e orquestrações se tornavam um pouco metalizadas, mas nada que estragasse a experiência do show. As vozes, no entanto, pareciam bem reguladas e não sofriam interferências.

Para o bis, Daniel, John Douglas e o baixista Jamie Cavanagh puxaram a introdução de “Shine On Your Crazy Diamonds”, do Pink Floyd. Em seguida, encerraram o show com “Fragile Dreams”, que foi recebida com entusiasmo pelo público que, assim como “One Last Goodbye” minutos antes, foi cantada em uníssono pelo público presente.

Para as despedidas, “Twist and shout”, de seus conterrâneos Beatles (o Anathema também é de Liverpool), tocava nos PAs e colocava o público para se despedir e dançar. Terminada a música dos Beatles, ouviu-se “Paranoid Android”, do Radiohead. Dá para ver que o Anathema sabe reverenciar a música de seu país.

Fica a torcida para que voltem na próxima turnê e que, até lá, tenham público suficiente para uma casa de show maior e com acústica mais adequada ao som do Anathema, que mescla melodia, graça, distorção e agressividade.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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