Robert Plant recria Led Zeppelin no Rio (HSBC ARENA)

Foto: Bruno Eduardo
Plant apresenta um cardápio musical exótico com a The Sensational Space Shifters

Por Bruno Eduardo

Esqueçam os riffs de Jimmy Page! Esqueçam os tambores de Bonham! Será que é possível? Sim, é.

Quem acompanha o vasto catálogo de Robert Plant, sabe que o cantor é um amante da musicalidade. A forma intimista que ele trata sua carreira solo, evidencia uma tentativa incansável de não soar datado. Nesta nova visita ao país, Plant recriou clássicos do Led Zeppelin, e trouxe várias influências vividas em seus mais de 40 anos de música (blues, folk, country, eletrônico). Na companhia do The Sensational Space Shifters (um baita time de músicos), o show é uma boa pedida para “roqueiros cansados” e dispostos à novas empreitadas. Já na execução de"Fixing to Die", do lendário Bukka White, o público pôde comprovar que a voz ainda continua lá, firme e forte. O repertório do show foi baseado em clássicos do blues anos 50/60/70, e em algumas versões remodeladas do Led Zeppelin.

Aos fãs do Zeppelin, nada de de covers fidelíssimas; Plant decidiu prestar tributo à sua maneira (foram sete canções da banda). "Black Dog", e principalmente "Whole Lotta Love" foram descaracterizadas quase que por completas - ao ponto de pessoas pedirem por elas no fim do show, sem imaginar que já haviam sido tocadas. Já "Ramble On", foi a primeira a levantar o público de verdade. Mas as "surpresas" da noite ficaram mesmo para o bis: "Going To California" - com direito à banquinho e violão -, "Gallows Pole", e uma aguardadíssima "Rock And Roll" - com tempero oriental. 

Diferentemente dos shows anteriores da turnê, o músico - que se apresenta ainda em Belo Horizonte (20), São Paulo (22 e 23), Brasília (25), Curitiba (27) e Porto Alegre (29) - apostou em uma apresentação de quase duas horas, e manteve repertório imerso em arranjos e mais referências (em número de músicas) dedicadas ao ex-grupo. Nessa mistura de variáveis sonoras, ainda houve espaço para homenagens a alguns ícones do blues, em "44 blues" e "Spoonfull", inspiradas nas versões de Howlin' Wolf; e "I'm your witchdoctor", - do inglês John Mayall. O impressionante, é que esse passeio à margem de alguns estilos (ele não entra por completo), acaba resultando em uma excelente mutação de culturas e estilos, que vão desde cantorias africanas aos solos de guitarra em soul.

O caldeirão de influências que fora transformado o palco do HSBC Arena, evidenciou também uma rica cartilha musical - abrindo precedentes para improvisos de banjo e inversões de guitarras e bandolim à esmo. Essa total mistura de ritmos, no entanto, dificulta um pouco saber qual realmente é o público de Plant nos dias de hoje. Da mesma forma que é complicado dizer onde o cantor se encontra agora, artisticamente falando. O Led Zeppelin, ainda continua sendo a maior atração de seu show introspectivo, e, por isso mesmo é de ressaltar a coragem dele em se aventurar contrário à frente de multidões. Entre o passado e o presente, entre o hard rock e a música universal (que ele propõe), Plant se encontra num peculiar estado intermediário - incapaz de esquecer, não querendo ressuscitar, e não-relutante para se dedicar a um gênero novo. Quem entendeu, dançou (no bom sentido)!

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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